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Pode sair caro: corte no gasto público deve ser cuidadoso, diz economista

© AP Photo / Leo CorreaO ministro da Economia Paulo Guedes.
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Diante da possibilidade de uma reforma administrativa no setor público, um estudo do Banco Mundial apresentou propostas para o governo brasileiro. A Sputnik Brasil ouviu um economista sobre as sugestões da instituição.

O estudo publicado pelo Banco Mundial sugere mudanças que teriam um impacto na economia de R$ 389 bilhões até 2030. Entre as medidas estariam um teto para o salário inicial de servidores públicos no valor de R$ 5 mil e o congelamento de salários por três anos com reajuste da inflação por uma década.

O economista João Prates Romero, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que esse tipo de discussão sobre o gasto público é importante.

"A racionalização do gasto é sempre bem-vinda. Escolher onde gastar e como gastar da forma mais eficiente é sempre positivo", aponta o professor em entrevista à Sputnik Brasil.

Apesar de também enxergar distorções no serviço público brasileiro, o economista pondera sobre a forma como o estudo aborda a questão.

"Acho que o mais problemático do relatório talvez é a forma de fazer isso [os ajustes]. Não leva em consideração algumas especificidades que eles mesmos indicam nos dados que eles apresentam", explica.
© Folhapress / Pedro Ladeira/FolhapressO presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, após reunião na sede do ministério, em Brasília no dia 6 de maio de 2019.
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O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, após reunião na sede do ministério, em Brasília no dia 6 de maio de 2019.

O economista se refere aos ajustes gerais sugeridos pelo Banco Mundial, tais como a padronização do salário de entrada em todas as carreiras públicas.

"No caso da saúde é possível ponderar se não haveria uma demanda maior de profissionais de saúde. Ou seja, reduzir a taxa de reposição de funcionários da saúde será que é positivo? A gente precisa olhar as especificidades e olhar aonde existe excesso e aonde existe uma demanda que não está sendo atendida", argumenta.

Romero cita também que carreiras como as do Judiciário têm um salário inicial médio superior a outras, como professores e médicos.

"Aplicar uma regra geral sem levar em conta essas especificidades é bastante problemático", afirma.

Economia sugerida só vem com medidas drásticas

O economista da UFMG, João Prates Romero, aponta que as cifras de possível redução com gastos de pessoal citadas no estudo só viriam a partir de uma espécie de choque administrativo.

"Essa economia de R$ 400 bilhões que eles mencionam, a economia total que poderia ser atingida, é com medidas muito drásticas", aponta.

Romero explica que olhando de perto há sugestões que considera "descabidas". Uma delas seria a redução dos salários de entrada nas carreiras federais.

"É uma economia grande, mas um salário de R$ 5 mil de entrada para um nível federal é descabido. Os funcionários federais muitas vezes tem um nível de qualificação elevado, porque estão participando de processos decisórios complexos, precisam ter uma elevada qualificação. Então, uma redução desse tipo, não me parece factível", opina.
© Folhapress / Pedro Ladeira/FolhapressO ministro da Economia, Paulo Guedes, fala durante seminário sobre a MP da Liberdade Econômica, no STJ, em Brasília, em 12 de agosto de 2019.
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, fala durante seminário sobre a MP da Liberdade Econômica, no STJ, em Brasília, em 12 de agosto de 2019.

Apesar da crítica, o economista também vê com bons olhos algumas sugestões, como a redução e compatibilização de carreiras públicas e a diminuição de benefícios, como no caso do Judiciário.

"Muitas vezes você tem carreiras diferentes que estão desempenhando funções semelhantes com nível de escolaridade semelhante, mas há uma diferença salarial grande entre elas. Então isso seria positivo de ser eliminado", afirma.

O próprio estudo aponta que os salários no setor público costumam ser maiores do que no setor privado para conseguir atrair pessoal qualificado. Para o economista, essa situação é um dos impedimentos das sugestões do estudo.

"Uma redução muito drástica dos salários eu acho que é problemático e dificilmente seria factível", aponta.

O economista também alerta para o fato de que é preciso cuidado com determinados cortes para não gerar gastos futuros.

"Em alguns casos, há uma economia que é uma economia porca. [...] Tem alguns cortes que são contraproducentes. Poderíamos pensar outros exemplos, o serviço de saúde talvez seja o caso mais claro disso. É uma economia hoje que vai gerar mais gastos no futuro", conclui.
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