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Programa de Estado? Especialista aponta vantagens da energia nuclear para o Brasil

© Folhapress / Luciana WhitakerTurbinas da usina nuclear Angra 2, em Angra dos Reis (RJ) (foto de arquivo)
Turbinas da usina nuclear Angra 2, em Angra dos Reis (RJ) (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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O governo brasileiro considera construir seis centrais nucleares até 2050, além de concluir a usina de Angra 3. Mas de que forma o país poderia se beneficiar desse projeto?

​Na última semana, em evento no Rio de Janeiro, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento do Ministério de Minas e Energia, Reive Barros, afirmou que essa possibilidade de construir novos reatores deve constar no Plano Nacional de Energia 2050, previsto para dezembro. A expectativa é a de que seriam necessários cerca de 30 bilhões de dólares para a iniciativa, que aumentaria a capacidade do sistema em 6,6 GW de energia.

"É fundamental que os investidores tenham uma noção do Brasil para os próximos anos", disse Barros, citado pelo UOL, acrescentando que não apenas o setor elétrico seria beneficiado com esses planos. "A geração nuclear ancora desenvolvimento tecnológico, incluindo setores como agricultura, medicina e outros." 

​De acordo com o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, é muito bem-vindo o interesse do governo brasileiro nesse tipo de alternativa energética, que, para ser colocada em prática, passará provavelmente por parcerias com o setor privado ou com o capital externo, dada a onda de contingenciamento da União.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista afirma que, ao anunciar uma medida como essa, o governo sinaliza para o mercado se tratar de um plano de Estado, que retomará a cadeia produtiva do setor, trazendo um grande ganho para o país.

"O setor elétrico como um todo, o setor de energia como um todo, ele permite muitas parcerias, seja na área de petróleo e gás, seja na área de energia elétrica, seja no que for. O país não parou de crescer nesse segmento e de ter investimentos nesse segmento, através dos leilões que são realizados pelo governo. Isso é reconhecido mundialmente como um parâmetro muito bom que foi construído ao longo dos anos. Agora, o governo, ao sinalizar que no Plano Nacional de Energia 2050, eles preveem aí até seis usinas, isso é importante", diz ele. "A nossa visão disso é que você começa a criar, a retomar a cadeia produtiva do setor." 

​Segundo o presidente da ABDAN, tomando como exemplo a conclusão de Angra 3, só essas obras já gerariam cerca de 9 mil empregos diretos e indiretos, conforme constatado por um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). E, considerando-se o grande número de desempregados no país, seria ótimo "partir com esses projetos logo, de uma vez". 

"Daqui a dez anos, para você ter a usina, você tem que partir agora. Então, é um processo muito importante que a gente caminhe com essas coisas. E o plano decenal já tem que sinalizar."

Nordeste, principal candidato

Sobre as possíveis áreas de instalação dessas novas usinas, Celso Cunha explica que há vários estudos em andamento, mas, levando em conta a necessidade regional, o Nordeste deverá ser contemplado de alguma forma.  

"O Nordeste, neste momento, vive um problema sério porque mais de 80% da sua energia é gerada por fontes não controláveis, ou seja, solar e eólica. São fontes que você uma hora tem vento, uma hora não tem vento, uma hora tem sol, uma hora não tem sol. E isso provoca oscilações no sistema muito grandes. Então, você precisa ter, na matriz energética daquela região, para não ter que ficar importando tanta energia do sudeste, do resto do país, aquela energia que a gente chama de base. É aquela energia que está sempre ali."

O especialista argumenta que essa tal energia de base sempre esteve ligada às hidrelétricas, mas, atualmente, vivemos em um período onde o risco hídrico é imenso, com os reservatórios não se recompondo mais como antigamente.  

"São questões que levam a gente a dizer o seguinte: o Nordeste, hoje, precisa de energia de base. E energia de base nesse nível, a mais recomendável, e que é limpa ainda por cima, é a energia nuclear. Então, se eu sou o tomador de decisão, eu diria: o melhor lugar para começar é o Nordeste."

Para Cunha, depois de suprir essa necessidade nordestina, o mais indicado seria instalar outra fonte de energia desse tipo na região Sudeste, por ser o "centro de carga do país".

"São Paulo, Rio pode ter outra, Minas Gerais tem condições de ter, qualquer coisa dentro do Sudeste."

Energia nuclear, sinônimo de energia limpa

Ainda de acordo com o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares, há cada vez mais ambientalistas defendendo o uso da energia nuclear, sobretudo na Europa, por se tratar de uma energia limpa.

Ele afirma que a utilização desse tipo de fonte seria "a única maneira de o mundo retroceder o aquecimento global". Isso porque há, atualmente, um crescimento na demanda por energia em todo o mundo, acompanhado por uma necessidade também crescente de escapar dos chamados combustíveis fósseis. E as fontes solar e eólica, segundo Cunha, não dão vazão para um crescimento desse.

"Para se ter uma ideia, a China está construindo dez usinas [nucleares] simultaneamente. E, lá, é um problema de saúde, não é só de geração de energia. Por quê? Porque eles querem desativar o carvão." 

Além de ser limpa, o especialista destaca que a energia nuclear tem fator de capacidade acima de 92%, e as usinas existentes no país, Angra 1 e Angra 2, estão entre as dez melhores do mundo. Para ele, não há dúvidas de que um investimento maior nesse tipo de alternativa trará inúmeras vantagens para o Brasil. 

"Ele tem que vir. Ele vai gerar emprego, vai movimentar a economia, é um programa de Estado, não é um programa de governo", afirma, citando a estruturação de uma cadeia produtiva com ramificações nos setores de combustível, medicina nuclear e irradiação de alimentos, entre outros. "Ou seja, tem uma série de aplicações nessa cadeia produtiva que virão como benefício disso, de termos um programa de Estado."

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