Especialista: EUA têm dificuldade em legitimar sua presença na Síria

© AP Photo / Arab 24 networkPatrulha dos EUA na Síria
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A realização de patrulhas conjuntas norte-americanas e turcas de uma zona de segurança no norte da Síria começou mal, com a Turquia acusando os EUA de tomar partido dos "terroristas".

Em entrevista à Sputnik Turquia, o especialista turco em segurança e antiterrorismo Metin Gurcan comentou sobre a situação na região com relação à criação de uma zona de segurança na Síria sob condições de patrulhamento conjunto EUA–Turquia na zona de fronteira, iniciado no dia 8 de setembro.

Acordo pleno entre Turquia e EUA

De acordo com o especialista, Washington e Ancara, de fato, não conseguiram chegar a acordo sobre uma operação conjunta a leste do Eufrates, mas somente "em criar um mecanismo que reforce a confiança entre as partes".

"Hoje é difícil falar de um acordo pleno entre a Turquia e os EUA na região […] Sabe-se que a principal tarefa da Turquia é limitar ao máximo a atividade militar dos destacamentos curdos das YPG [Unidades de Proteção Popular] a leste do Eufrates, destruir o corredor do Partido dos Trabalhadores do Curdistão [PKK, que é considerado uma organização terrorista na Turquia] entre o Iraque e a Síria e distanciar o mais possível as posições das YPG de sua fronteira", destaca o analista.

Nestas condições, coloca-se a questão de saber por que razão os EUA estão trabalhando tão arduamente para conseguir uma cooperação estreita com a Turquia nesta região.

"Depois da destruição do Daesh [organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países], os EUA enfrentam o problema de justificar a legitimidade da sua presença militar em território sírio, particularmente a leste do Eufrates. A emergência de uma nova ameaça terrorista como o Daesh é improvável em um futuro próximo. Nesta situação, os EUA escolheram a tática de deixar passar o tempo, e ela ainda está funcionando, dada a lentidão com que o processo de interação com Ancara na região está se desenvolvendo", explica o especialista turco.

Limitar influência na Síria

Gurcan acredita que os EUA também estão interessados em reduzir a influência da milícia xiita pró-iraniana, que fortaleceu sua posição na luta contra o Daesh.

"Washington atualmente considera as forças de milícias xiitas apoiadas pelo Irã como seu principal inimigo, por isso procura limitar sua influência na Síria, especialmente nas proximidades dos campos de petróleo de Deir ez-Zor", disse ele.

© AFP 2023 / DELIL SOULEIMANForças dos EUA na Síria (foto de arquivo)
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Forças dos EUA na Síria (foto de arquivo)

Comentando a declaração do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de que os EUA estão agindo na região no interesse dos destacamentos curdos das YPG e que a Turquia iniciará uma operação unilateral caso as expectativas de um acordo com Washington não sejam cumpridas até o final de setembro, o especialista observou que tal operação poderia levar a sérias consequências negativas.

Região estratégica

"O cenário mais perigoso de desenvolvimento dos acontecimentos do ponto de vista dos EUA a leste do Eufrates seria a intervenção unilateral da Turquia no norte da Síria, sem consultar Washington, e a abertura ali de uma frente de combate […] Esta região contém quase metade dos recursos hídricos da Síria, cerca de 60% de suas terras agrícolas e, o que é mais importante, campos de petróleo. A abertura de uma frente em Deir ez-Zor poderia comprometer tudo o que os americanos conseguiram a leste do Eufrates", salienta.

Na opinião de Gurcan, o controle do espaço aéreo nos territórios a leste do Eufrates está nas mãos dos Estados Unidos.

© REUTERS / Rodi SaidAs forças dos EUA na sede da Unidade de Proteção do Povo Curdo (YPG) perto de Malikiya, na Síria, em 25 de abril de 2017.
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As forças dos EUA na sede da Unidade de Proteção do Povo Curdo (YPG) perto de Malikiya, na Síria, em 25 de abril de 2017.

"Os americanos não permitem que aviões e helicópteros turcos entrem no espaço aéreo a leste do Eufrates. Sem a abertura do espaço aéreo, as forças terrestres turcas poderão avançar para o interior a uma distância máxima de 30-35 km. A continuação do avanço seria muito arriscada, e não creio que o comando turco decida dar esse passo", concluiu.

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