Crise ambiental pode ser justificativa que contrários ao acordo Mercosul-UE precisavam, diz especialista

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Turistas e logo da União Europeia em Bruxelas, Bélgica - Sputnik Brasil
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A mais recente crise diplomática do governo do presidente Jair Bolsonaro pode gerar consequências naquele que é um dos seus principais projetos, o acordo entre os blocos do Mercosul e União Europeia.

Na sexta-feira (23), o presidente da França, Emmanuel Macron, acusou o Bolsonaro de mentir durante o encontro do G20 em Osaka, no Japão, ao minimizar as preocupações com a mudança climática. O escritório do presidente francês disse que, dado esse contexto, se opõe ao acordo entre a União Europeia e o Mercosul.

Macron não é o único chefe de estado a se dizer contrário ao acordo por conta dos incêndios na Amazônia. O primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, ameaçou votar contra o texto se o Brasil não respeitar seus "compromissos ambientais", em meio a críticas ao presidente Jair Bolsonaro pelos incêndios que assolam a Amazônia.

Neste sábado (24), em entrevista coletiva antes do começo da cúpula do G7, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse que vê dificuldades na tramitação do acordo.

"Apoiamos o acordo UE-Mercosul, que também implica a proteção do clima, mas é difícil imaginar uma ratificação harmoniosa pelos países europeus enquanto o presidente brasileiro permite a destruição dos espaços verdes do planeta", afirmou Tusk.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Maurício Fronzaglia, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, disse que a justificativa de uma crise ambiental de proporções internacionais pode ser usada por países que já seriam contrários ao acordo entre Mercosul e União Europeia.

"Por outro lado muitos países europeus não ficaram satisfeitos com o fechamento do acordo entre Mercosul e União Europeia, que já está em negociação. Esse acordo para entrar em vigor ele precisa ser ratificado pelos outros países. Então essa crise ambiental pode ser a justificativa que os grupos contrários ao acordo de livre comércio precisavam para justificar sua posição de desacordo com esse compromisso com o Mercosul", disse.

Segundo Fronzaglia, embora a imagem de Bolsonaro internacionalmente esteja manchada, internamente o presidente brasileiro ainda mantém uma base fiel de apoiadores.

"Internacionalmente ele sai com a imagem manchada, internamente ele tem um grupo muito forte de apoiadores, inclusive nas redes sociais. Para esse grupo não importa o que o presidente faça a imagem dele continua irredutível", afirmou.

Já para a cientista política Raquel Rocha, doutora em Relações Internacionais pela Univerisdade de São Paulo (USP), Bolsonaro está conhecendo agora o que é o jogo diplomático.

"O governo Bolsonaro está descobrindo na prática como funciona o jogo diplomático e está entendendo que qualquer ação tem uma reação. Ele vai ter que responder pelas práticas, seja pelas afirmações que são feitas, como foi feito no G20, ao próprio Macron, onde ele se responsabilizou e prometeu que melhorias seriam feitas para garantir a biodiversidade. Ou seja até nas próprias garantias que foram colocadas dentro do acordo UE-Mercosul", disse à Sputnik Brasil.

Raquel Rocha entende também que estamos vendo na agenda internacional um movimento parecido ao que já ocorreu há 20 anos, quando se questionava a capacidade do Brasil gerir a Amazônia.

"Nós estamos voltando aquela agenda dos anos 90 em que diziam que o Brasil não tinha capacidade e nem vontade de cuidar da sua própria biodiversidade e da Amazônia especificamente. E voltar aquela discussão de que a Amazônia deveria ser um patrimônio mundial, um território internacional e que não fosse governado por um estado soberano", completou.

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