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Especialista: pressão política de centrais sindicais só funciona no Brasil com eleição no horizonte

© Ricardo Stuckert/ Instituto LulaCUT participa de evento do Dia do Trabalhador, em SP
CUT participa de evento do Dia do Trabalhador, em SP - Sputnik Brasil
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Centrais sindicais brasileiras vêm promovendo diversos atos contrários à reforma da Previdência proposta pelo governo federal, cujo texto já recebeu mudanças no Congresso. Mas até que ponto esses grupos ainda têm força para barrar uma proposta como essa ou promover mudanças substanciais no texto aprovado pela Câmara dos Deputados?

Na última segunda-feira, 15, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) decidiu em reunião se juntar à mobilização programada para 13 de agosto da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Dia Nacional de Mobilização, Paralisações, Assembleias e Greves Contra a Reforma da Previdência, em Defesa da Educação Pública e por Empregos, reforçando a luta contra medidas impopulares propostas pelo governo. Por conta de seus atos e manifestações frequentes ao longo dos últimos tempos, sindicatos e outras organizações da sociedade civil vêm sendo cada vez mais vistos como a principal força de resistência à gestão do presidente Jair Bolsonaro, "roubando", por vezes, o protagonismo dos partidos de oposição. 

​O cientista político Antonio Marcelo Jackson, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), considera positivo que, num país como o Brasil, entidades mobilizadas cumpram esse papel de defender nas ruas o interesse da classe trabalhadora. Ele argumenta que, enquanto os partidos políticos funcionam dentro de outra realidade, pautada pela negociação dentro das instituições democráticas, as centrais sindicais, por exemplo, atuam de acordo com outra lógica. 

"Nesse sentido, quando se fala numa atuação política mais ampla, é bem saudável que esses sindicatos assumam esse papel. Porque isso se repete, aparece nos Estados Unidos, isso aparece na França, na Alemanha, Itália, Espanha, enfim, todos os países. Isso não é, não chega a ser, extraordinário. Anormal seria o contrário, seria esses sindicatos não atuarem a favor das classes que eles representam", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil.

Avaliando o peso dessas organizações para pressionar o legislativo federal neste momento, o especialista diz acreditar que esses grupos tendem a exercer uma influência maior justamente sobre parlamentares que já são da oposição ou com potencial para ser oposição, só atingindo efetivamente os demais em períodos específicos do calendário eleitoral. 

"Se essas manifestações ocorrem no ano que vem, que nós temos eleições municipais — e aí vários deputados federais têm interesse nessas eleições nos seus municípios —, aí a conversa muda. Então, infelizmente, lamentavelmente, como o brasileiro vota e, no dia seguinte, esquece em quem votou, essa relação de pressão política, pensando nas centrais sindicais e no Congresso Nacional, só funciona na medida em que há uma proximidade de eleição ou da distância da eleição", explica o professor. "Se se vislumbra uma eleição no horizonte, se estamos a um, dois, três, quatro meses de uma eleição, aí a conversa é inteiramente diferente." 

Sobre a expectativa para as próximas ações da sociedade civil organizada contra a reforma da Previdência e outras medidas do governo, Jackson afirma que embora todas as manifestações tenham importância, o histórico da sociedade brasileira e as circunstâncias atuais "não ajudam muito".

"Parece que a sociedade está um pouco anestesiada. Quanto à pressão da classe política, é provável que não exerça muita. Resta saber se [com] a manutenção ou a sistematização dessas manifestações, ou seja, se, de tempos em tempos, manifestações como essas aparecerem, aí você comece a gerar uma consciência política nas pessoas. Aí é uma outra conversa. Mas eu não tenho bola de cristal, é só mesmo esperando o futuro chegar", declara o cientista político.  

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