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Sob protestos de fazendeiros franceses, Macron defende acordo com o Mercosul

© AP Photo / Jean Francois BadiasO presidente francês Emmanuel Macron fala ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na França, em 17 de Abril de de 2018.
O presidente francês Emmanuel Macron fala ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na França, em 17 de Abril de de 2018. - Sputnik Brasil
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O presidente da França, Emmanuel Macron, defendeu um enorme acordo comercial firmado entre a União Europeia (UE) e os quatro países sul-americanos do Mercosul, e advertiu contra o "neoprotecionismo", com agricultores e ambientalistas aumentando sua resistência ao acordo.

O acerto anunciado sexta-feira pela UE e Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai é o maior já atingido pela União Europeia. Ele abrange mercados que totalizam aproximadamente 780 milhões de consumidores, representando um quarto do PIB global.

Falando em Bruxelas na noite de terça-feira, Macron defendeu o acordo, apesar de uma porta-voz do governo ter dito antes que a França ainda não está apressada em ratificar o acordo comercial. Ele advertiu contra o que ele chamou de atitudes "neoprotecionistas", que recusariam a reciprocidade e a troca.

"Não somos protecionistas", afirmou quando questionado sobre o assunto. "Aqueles que dizem que qualquer acordo comercial é ruim, dizem-me em tais casos como eles se vestem, comem, se movem", prosseguiu, acrescentando: "Um acordo comercial não é ruim em si mesmo".

Macron complementou que medidas foram tomadas pelo lado europeu para proteger, por meio de cotas, setores sensíveis como carne bovina e açúcar.

Reações diversas

Os países da UE e do Mercosul elogiaram o acordo, que estava há 20 anos em construção, como histórico.

O presidente da Comissão Européia, Jean-Claude Juncker, avaliou que é um endosso empolgante do "comércio baseado em regras" em um momento de crescente protecionismo nos EUA, que está envolvido em uma guerra comercial com a China e disputas com a UE.

Mas o caminho para a ratificação por todos os 28 membros da UE poderia ser longo, dada a crescente hostilidade pública aos acordos de livre comércio, mesmo em países tradicionalmente favoráveis ao comércio.

Na terça-feira à noite, os agricultores se reuniram em toda a França para protestar contra o acordo.

A porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye, disse antes que a França não se apressaria em ratificá-la antes de ver todos os detalhes.

Citando o acordo comercial UE-Canadá de 2017, que a França ainda precisa ratificar, ela disse ao canal de notícias BFM: "Faremos o mesmo com os países do Mercosul [...] Vamos ver isso em detalhes e dependendo dos detalhes nós vai decidir. "A França ainda não está pronta para ratificar (o acordo)", ponderou ela.

© Sputnik / Galina Azule / Acessar o banco de imagensProdutores agrícolas franceses protestam contra a crise no setor agrícola, Paris, França, 2015 (foto de arquivo)
Sob protestos de fazendeiros franceses, Macron defende acordo com o Mercosul - Sputnik Brasil
Produtores agrícolas franceses protestam contra a crise no setor agrícola, Paris, França, 2015 (foto de arquivo)

A nota de cautela soada pela França na terça-feira "é o primeiro passo em uma espécie de batalha de vontades sobre a implementação concreta do acordo", disse o vice-presidente do grupo de pesquisa Institut des Ameriques em Paris, Carlos Quenan.

O Instituto Bruegel, um think tank econômico com sede em Bruxelas, em um artigo de agosto de 2018, observou um medo crescente de abertura ao comércio internacional, acusado de aumentar a desigualdade. Ele citou uma pesquisa que mostra 75% dos franceses e 57% dos alemães, favorecendo uma maior proteção contra a concorrência estrangeira.

"A questão não é se esse negócio é interessante apenas em termos comerciais. Devemos garantir que ele respeite as metas que estabelecemos em termos de práticas agrícolas sustentáveis e de combate às mudanças climáticas", disse à Agência AFP Sébastien Jean, diretor do Centro de Pesquisa Econômica do CEPII na França.

Resistências

As negociações haviam fracassado repetidamente ao longo dos anos devido à oposição de produtores europeus de carne bovina, especialmente pequenos agricultores, que temem ser prejudicados pelo preço das importações do Brasil, o maior exportador mundial de carne bovina.

O sindicato Copa-Cogeca, que representa 23 milhões de agricultores em toda a UE, alertou que o acordo "entrará para a história como um momento muito sombrio". Segundo o acordo, os países do Mercosul poderão exportar 99.000 toneladas de carne bovina para a Europa, com tarifas de 7,5%, entre outras concessões.

Embora as cotas sejam uma fração dos valores que o Mercosul buscava, o sindicato da Confederação Paysanne, da França, advertiu que a carne bovina alimentada com capim enfrentaria concorrência desleal "de animais abarrotados com soja transgênica e antibióticos".

Os sul-americanos, por sua vez, eliminarão progressivamente os impostos sobre carros e peças de carros europeus, entre outros produtos, e abrirão seus setores públicos para empresas da UE.

O acordo contém um "mecanismo de salvaguarda" que permite que ambas as partes restrinjam temporariamente as importações agrícolas em caso de dilúvio e também permite que as autoridades europeias suspendam a aprovação de produtos que percebem como representando um risco para a saúde.

Mas também entrou em conflito com ativistas do clima, que acusam o Brasil de sacrificar suas florestas tropicais e povos indígenas ao poderoso setor agroalimentar do país. O ambientalista francês e parlamentar europeu Yannick Jadot disse que é "vergonhoso" que a Comissão Europeia tenha assinado um pacto com o líder brasileiro Jair Bolsonaro.

Defensores do acordo argumentaram que isso dará à UE mais força na América do Sul, um continente onde há muito tempo se tornou um polo de domínio dos Estados Unidos.

O governo da França deve recomendar a ratificação do acordo em uma reunião na quarta-feira.

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