Para que Coreia do Norte mostra armamento avançado?

© AP Photo / KCNALíder norte-coreano, Kim Jong-un (segundo da direita), em um lugar não revelado na Coreia do Norte
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A notícia que apareceu hoje (18) sobre a presença do líder norte-coreano nos testes de uma "nova arma guiada tática" parece ser uma demonstração do descontentamento de Pyongyang com a falta de progressos nas conversações nucleares com os EUA.

Visitando repetidamente infraestruturas militares, Kim Jong-un parece estar avisando Washington que não tenciona desistir do "escudo nuclear". Mas isso é o que parece apenas à primeira vista.

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Primeiro vamos esclarecer que armamento é esse. Pois já em novembro do ano passado foram noticiados testes de uma "arma táctica avançada" na Academia de Ciências Militares da Coreia do Norte, e naquela altura também Kim Jong-un tomou conhecimento pessoal sobre o seu desenvolvimento.

É verdade que ela ainda não era caracterizada como "guiada", por isso é difícil esclarecer se se trata de um desenvolvimento da mesma arma.

Mas o novo armamento táctico guiado é descrito como possuindo uma "ogiva potente e um método especial de guiamento em voo, comprovado em testes e que passaram por diferentes modos de tiro contra diversos alvos", por isso é pouco provável que isso seja um simples sistema de lançadores múltiplos de foguetes de 300 mm. É mais provável que se trate de novos mísseis de cruzeiro, opina o professor Kim Dong-yup, do Instituto dos Problemas do Extremo Oriente da Universidade de Kyungnam.

"A descrição apresentada nos permite supor que a arma táctica guiada elaborada possui capacidades para alvejar alvos terrestres, marítimos de superfície e aéreos e, respetivamente, pode ser lançada do solo, da água e do ar.", considera o analista militar, que anteriormente serviu no exército sul-coreano. 

"Por isso é muito provável que isso não seja simplesmente um míssil de cruzeiro 'terra-terra', 'ar-ar' ou 'navio-terra', mas sim um míssil de cruzeiro de curto alcance, que pode ter versões 'superfície-ar', 'ar-navio', 'navio-navio', etc", disse ele na entrevista à sputnik.

A frase sobre o 'método especial de guiamento e ogiva potente' indica as diferentes trajetórias de voo dos vários tipos de mísseis, dependendo da localização dos lançadores e dos alvos, e também das correspondentes diferenças de peso das ogivas", acrescentou a analista.

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Os mísseis de cruzeiro têm um alcance curto e têm o peso da ogiva limitado, mas possuem uma precisão muito elevada devido ao sistema guiado de pontaria. O análogo mais conhecido nesse sentido é o míssil norte-americano Tomahawk, que tem modificações para baseamento aéreo, terrestre e naval de superfície e submarino. A Coreia do Sul possui um míssil semelhante.

"Também é importante o fato que, se a 'nova arma táctica guiada', que hoje (18) foi anunciada pela Coreia do Norte, for um míssil de cruzeiro, isso não terá nada a ver com as sanções. Porque as atuais sanções da ONU estão relacionadas com os mísseis balísticos", disse o professor. 

Anteriormente, a Coreia do Sul, segundo os acordos com os EUA na área de mísseis, também não podia possuir mísseis balísticos com um alcance superior a 180 km, por isso, a partir dos anos 90, o país iniciou em condições de segredo absoluto a elaboração de mísseis de cruzeiro com o apoio de especialistas russos. Isso teve como resultado a criação do Hyunmoo-3.

Respondendo à pergunta por que Pyongyang anunciou agora abertamente os testes desse armamento, a maioria dos analistas, segundo ele, responderia que isso é uma tentativa de mostrar sua firmeza perante as sanções, sua determinação para seguir seu próprio caminho e fazer pressão sobre os EUA. Mas isso é só uma parte do quadro.

"Tal motivo existe, claro, mas na minha opinião isso também é um sinal interno importante, para os seus habitantes e exército. Tal como a visita de ontem a uma unidade militar da Força Aérea e defesa antiaérea, isso é uma demonstração de confiança na capacidade defensiva do país", declarou o professor Kim Dong-yup.

Isso, ao contrário, pode significar a disposição para a desnuclearização e a vontade obter o mínimo de forças de contenção necessárias para a autodefesa por conta de um reforço seletivo dos armamentos convencionais na situação em que as armas nucleares já não estarão disponíveis, resumiu o analista.

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Por outro lado, o analista do centro de pesquises dos países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ANSEA) e professor da cátedra de pesquises ocidentais do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO, na sigla russa), Ilia Dyachkov considera que os testes dos novos mísseis tácticos realizados pela Coreia do Norte visam convidar Washington ao diálogo e relembrar as possíveis consequências se o diálogo não acontecer. 

 

Porém, pode existir outro motivo para realizar este teste. De acordo com o chefe do Comitê de Defesa da Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo), Vladimir Shamanov, a Coreia do Norte realizou testes de um novo míssil tático guiado para recordar a todos os países sobre sua existência.

"Todos os testes, segundo as convenções internacionais, devem ser notificados […] Hoje em dia as tecnologias de mísseis exigem uma atenção especial. Devido ao desmantelamento das bases do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, hoje se realiza uma série de eventos de caráter militar dedicados à criação de um novo formato dos tratados, é mais provável que eles se tornarão multilaterais", disse Shamanov na quinta-feira (18) aos jornalistas.

Mais cedo, Pyongyang efetuou testes de uma nova arma táctica guiada. O líder do país Kim Jong-un assistiu às provas.

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