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Bolsonaro nos EUA: o que o presidente brasileiro espera receber na Casa Branca?

© Foto / Alan Santos/PRPresidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante jantar em Washington, na Embaixada do Brasil nos EUA
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante jantar em Washington, na Embaixada do Brasil nos EUA - Sputnik Brasil
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Em visita oficial aos Estados Unidos, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, se encontra nesta terça-feira com o líder norte-americano, Donald Trump, na Casa Branca. O que o chefe de Estado brasileiro pode conseguir de concreto com essa reunião e o defendido alinhamento automático aos EUA?

Desde seu período de campanha eleitoral, Bolsonaro tem defendido uma aproximação irrestrita entre as duas potências das Américas como forma de obter mais vantagens para o Brasil, o chamado bandwagon, na linguagem das Relações Internacionais. Mas, desde que assumiu o poder, foi avisado, explicitamente, que uma aliança carnal com Washington, em detrimento de outros parceiros, pode trazer prejuízos praticamente irreversíveis para Brasília. 

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Nos EUA desde o último domingo, o presidente brasileiro não tem escondido a enorme admiração que sente pelo povo, pelos valores e as conquistas daquele país. Apontado por alguns órgãos de imprensa como a versão tropical do seu homólogo norte-americano, ele terá a chance, amanhã, de se reunir com Trump para discutir temas polêmicos das agendas bilateral, regional e internacional, como, por exemplo, a cessão da base de Alcântara, a situação da Venezuela e a transferência da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, assuntos que podem interferir nas relações do Brasil com uma série de outros países. Afinal, o que é bom para os EUA é bom para o Brasil?*

Para o professor de Relações Internacionais Ricardo Cabral, pesquisador da Escola de Guerra Naval, o tão aguardado encontro entre Trump e Bolsonaro será, na prática, "mais do mesmo". De acordo com ele, em primeiro lugar, desde o governo Temer, o Brasil já vem mantendo conversas avançadas com os Estados Unidos em relação à base de Alcântara, em segundo lugar, no que diz respeito à esfera militar, o país já mantém uma aproximação bem estreita com os seus parceiros do norte, e, na área comercial, Washington tem um posicionamento crítico em relação ao Brasil e, apesar do superavit, optou por barganhar com Brasília para conseguir mais acesso ao mercado brasileiro. 

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"Eu acho, sinceramente, que não é uma boa perspectiva que nós temos do governo Bolsonaro porque parece que eles querem uma aliança mais com Trump, com o conservadorismo de direita norte-americano, do que com os Estados Unidos. Isso é prejudicial. As relações devem ser institucionais", disse Cabral em entrevista à Sputnik Brasil. "Nós temos discursos difíceis com aliados estratégicos que conseguimos, como a Rússia e a China… E você não pode fazer um discurso e ter uma prática diferente."

Segundo o especialista, o aprofundamento das relações com os Estados Unidos poderia, sim, ser interessante para o Brasil. Já uma aproximação com Donald Trump não seria algo muito "saudável".

"É um governo que reclamou tanto dessa questão ideológica e me parece que comete o mesmo equívoco dos governos do PT." 

Pedro Costa Júnior, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, também acredita que, considerando a agenda apresentada, as expectativas para o encontro de amanhã não são muito favoráveis aos interesses nacionais. Ele afirma que a proposta de alinhamento automático aos EUA não implica em uma soberania da política externa brasileira e dos interesses brasileiros. Segundo ele, a questão do novo regime de dispensa de vistos adotado, por exemplo, de caráter unilateral, reflete um desequilíbrio existente nessa relação.

"O que fica claro nisso? Que nós não estamos falando de igual para igual. Porque o Brasil se apequena diante dos Estados Unidos", disse ele à Sputnik, citando o uso da base de Alcântara pelos norte-americanos como uma "violação consentida da soberania nacional". "Eu vou colocar entre aspas porque soa meio forte, mas é uma espécie de recolonização do território nacional por parte de uma potência estrangeira. E, pior, é uma recolonização sem uma guerra, sem uma invasão, sem dominação violenta. É uma recolonização consentida. É isso que nós vamos ver nessa viagem aí."

O professor lembra que, neste ano, o Brasil está presidindo o grupo do BRICS, que conta com importantes parceiros, como Rússia e China, que podem ser colocados de lado nessa agenda que privilegia os EUA nas relações internacionais.

"O Brasil vai acabar se isolando ainda mais nas relações exteriores." 

*"O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil" foi uma afirmação feita por Juracy Magalhães, embaixador brasileiro nos EUA durante o governo do general Castelo Branco. 

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