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Ano da guerra comercial e de reviravoltas inesperadas: como foi 2018 para economia global

© AP Photo / Richard DrewÁrvore de Natal perto da Bolsa de Valores de Nova York
Árvore de Natal perto da Bolsa de Valores de Nova York - Sputnik Brasil
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Guerra comercial entre os EUA e a China, tendência de desdolarização, desvalorização das criptomoedas, crises cambiais e volatilidade enorme nas bolsas por todo o mundo – 2018 foi muito rico em acontecimentos econômicos. Nos dias da virada do ano, a Sputnik Brasil lembra os maiores destaques de 2018 na economia global.

Desdolarização à vista

Moscou fala sobre a desdolarização já há vários anos e está tentando reduzir sua dependência da moeda dos EUA depois de os países ocidentais terem imposto sanções ao país em 2014.

Em 2018 as discussões sobre o abandono do dólar nas transações internacionais também ganharam impulso em outros países, inclusive entre os aliados de Washington.

"Desdolarização é uma tendência global ligada à perda gradual pelos EUA do estatuto de principal potência econômica. Além disso, o dólar se tornou demasiado usado como instrumento de pressão política, apesar de incialmente se ter prometido seu caráter suprapolítico. Por fim, os EUA usam frequentemente o estatuto do dólar como moeda global para lidar com seus próprios problemas econômicos à custa de outros países", explicou à Sputnik Brasil Andrei Kochetkov, analista principal da corretora russa Otkrytie Broker.

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Cada vez mais países mostram seu empenho em reduzir a cota-parte do dólar americano nas transações internacionais. Embora os dados anuais sejam revelados em janeiro, já é possível declarar que o volume de transações realizadas sem uso do dólar estadunidense está crescendo, sublinhou Kochetkov.

"A Rússia e a China decidiram reforçar esse processo a nível estatal. A Rússia também fecha contratos em rublos e rupias com a Índia. Assim, o processo de desdolarização se acelerou e ganhará impulso no ano que vem", afirmou o analista.

De fato, são os EUA que através de sua política agressiva estão empurrando outros países, como a Rússia, Índia, China, Irã e até os países europeus, para abandonarem o dólar e apostarem em outras divisas.

Colapso no mercado de criptomoedas

Há um ano, nos mercados globais se observou um verdadeiro boom das criptomoedas. Em dezembro de 2017, o bitcoin, a moeda digital mais popular do mundo, alcançou uma cotação de 20.000 dólares (R$ 78.000). Naquela época muitos analistas falaram sobre as perspectivas brilhantes das criptomoedas, fizeram previsões que as criptomoedas iriam substituir o dólar no comércio internacional e transformariam o sistema bancário atual.

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Entretanto, 2018 não foi o ano de maior sucesso para o mercado de moedas digitais. Ao longo do ano o preço das principais moedas digitais caiu drasticamente. Hoje em dia o preço do bitcoin é de 3.775 dólares (R$ 14.700). O que está por trás dessa desvalorização e da sua perda de popularidade?

Segundo Andrei Kochetkov, no mercado se observa uma forte queda da demanda por criptomoedas.

"Os governos que controlam a emissão de moedas não concordariam com a existência de quaisquer sucedâneos para as moedas. O mundo dos negócios também não apreciou as moedas digitais. As maiores lojas online e off-line se recusaram a aceitar criptomoedas. Se não existe qualquer demanda real por um bem ou serviço, ele se torna desinteressante", disse Kochetkov.

Entre outros fatores que contribuíram para desvalorização da maioria das criptomoedas o analista indica o risco à sua reputação ligado a ataques de hackers contra plataformas de negociação de criptomoedas e os próprios corretores de moedas digitais que podem "desaparecer sem qualquer notificação previa".

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Guerra comercial entre os EUA e a China

Sem dúvidas, a guerra comercial iniciada pelos EUA contra a China foi um dos grandes destaques de 2018 que ameaça a estabilidade econômica global. As críticas do presidente dos EUA, Donald Trump, foram dirigidas ao déficit comercial dos EUA com a China, que foi de 375 bilhões de dólares (1.464 bilhões) em 2017 e resultou, segundo o presidente estadunidense, de uma concorrência desleal (violação dos direitos de propriedade intelectual, controle estatal do yuan, criação de barreiras de entrada no mercado chinês e espionagem industrial) por parte da China.

Ao longo do ano a China e os EUA estiveram envolvidos em uma troca de restrições comerciais que afetaram os mercados globais. A moratória de 90 dias na introdução de tarifas sobre produtos importados da China, acordada no fim do novembro, deu aos investidores uma esperança que Washington abandone sua política agressiva.

É de assinalar que Washington realizou uma política comercial agressiva não apenas em relação à China, mas também contra outros países, incluindo seus aliados tradicionais. Em 2018 os EUA impuseram uma tarifa de 25% sobre as importações de aço dos EUA e uma tarifa de 10% sobre o alumínio por um período de tempo indefinido.

Donald Trump continua ameaçando com restrições comerciais, apelidando-se a si próprio de Homem das Tarifas. O agravamento das tensões provoca desconfiança entre os investidores por todo o mundo, bem como o aumento dos custos de produção para as empresas norte-americanas, levando a um aumento da volatilidade nos mercados financeiros.

Bolsa de valores de Nova York, 17 de outubro 2018 - Sputnik Brasil
Pior ano para investidores: que fatores causam volatilidade enorme nas bolsas globais?
Volatilidade bolsista enorme

O ano de 2018 foi o ano de uma enorme volatilidade nas bolsas em todo o mundo. Que fatores causaram essa enorme onda de volatilidade nos mercados de valores globais? Segundo Yaroslav Khudorozkov, da empresa de investimentos Veles Capital, a acima mencionada guerra comercial é apenas uma das causas dessa turbulência financeira.

"A guerra comercial entre os EUA e a China é apenas uma parte, embora uma das mais importantes, do difícil ano de 2018, dos acontecimentos mais marcantes do ano. Podemos falar sobre um conjunto de fatores: guerra comercial, política monetária restritiva do Fed, volatilidade no mercado de petróleo, problemas geopolíticos em vários pontos do mundo, tensões políticas nos EUA e outros", explicou Khudorozkov à Sputnik Brasil.

"Um ou dois desses fatores não teriam conseguido causar uma volatilidade tão alta, mas todos esses fatores em conjunto e os três anos bastante moderados e calmos para a economia mundial e mercados de valores que enfraqueceram a 'resposta imunitária' dos investidores aos choques, causaram uma espécie de pânico e agravaram o estado de incerteza em relação ao futuro próximo", acrescentou o analista.

"Sim, todos esperavam que o longo rali chegasse ao seu fim em breve, que estivéssemos à beira de uma correção, mas a transição foi tão rápida e dura se tornou uma surpresa para todos" concluiu ele.

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Situação macroeconômica global

Quatro subidas de juros do Fed (banco central dos EUA) se tornaram um dos acontecimentos principais para a economia global que afetou todos os ativos financeiros. O aumento do custo de créditos denominados em dólar, junto com a política agressiva de Washington, contribuiu para a crise cambial nos países emergentes. O peso argentino perdeu quase 50% de seu valor. O valor da lira turca atingiu seu mínimo histórico, desvalorizando mais de 40%. A rupia indonésia atingiu seu valor mínimo dos últimos 20 anos. O rublo russo e o real brasileiro também sofreram uma desvalorização moderada.

"Entretanto, isso não significa que a situação nos mercados desenvolvidos tenha sido mais fácil. O índice bolsista japonês Nikkei 225 se encontrou no mercado urso [mercado em baixa, com preços de ativos em queda e com o pessimismo onipresente se tornando autossustentável]. O mesmo aconteceu com o índice americano NASDAQ, que reúne as grandes empresas do setor de alta tecnologia. A desaceleração econômica também se observa na China e na Europa. Mesmo os indicadores econômicos americanos começaram a registrar fraqueza", explicou Andrei Kochetkov da Otkrytie Broker.

Enquanto 2018 foi muito interessante e polêmico do ponto de vista econômico, os analistas esperam que 2019 traga ainda mais surpresas, tanto para os mercados financeiros, como para as relações econômicas internacionais e para a ordem econômica existente.

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