OTAN joga culpa pela operação na Líbia nos europeus, mas a realidade é outra, diz analista

© Sputnik / Andrei Stenin / Acessar o banco de imagensManifestantes queimam retratos de Muammar Khaddafi em Benghazi
Manifestantes queimam retratos de Muammar Khaddafi em Benghazi - Sputnik Brasil
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O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, desresponsabilizou a Aliança pela operação na Líbia, afirmando que esta foi iniciada pelos países europeus. Porém, para o analista Pavel Salin, Stoltenberg não contou toda na verdade sobre o assunto.

Segundo o secretário-geral, a operação foi começada pela Europa, "em maior grau pela França e Reino Unido".

O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg,  instrue a mídia durante uma reunião dos ministros de defesa da OTAN na sede da Aliança, em Bruxelas, Bélgica, 14 de junho de 2016 - Sputnik Brasil
Stoltenberg desresponsabiliza OTAN por operação na Líbia
Apesar de a decisão sobre a operação ter sido tomada sem a OTAN e os EUA, os países europeus mais tarde perceberam que precisavam da ajuda destes, sublinhou Stoltenberg.

Pavel Salin, cientista político russo e professor da Universidade de Finanças, acha que a razão apontada por Stoltenberg não corresponde à realidade.

Para ele, com a operação na Líbia, os EUA conseguiram pôr na prática a sua concepção quanto ao Oriente Médio.

"No caso da Líbia, eles [os EUA] conseguiram pôr plenamente em prática a concepção que promoveram no fim dos anos 2000 e início dos 2010 — 'liderança por detrás', quando os fins dos EUA são atingidos por meio dos aliados. Isso aconteceu quando começou a desagradar aos americanos o fato de estarem sempre na primeira linha no Iraque e também no Afeganistão […] Ademais, talvez tenham tido lugar interesses pessoais de alguns líderes europeus, porque, antes de o assassinato de [Muammar] Kadhafi ter sido ordenado, ele alegou que tinha dados comprometedores", falou o analista para o serviço russo da Rádio Sputnik.

Estas duas razões, mais as reservas de petróleo e o fato de a OTAN precisar de alguma razão para sua existência após o colapso da URSS, contribuíram para o lançamento da operação na Líbia, sublinhou Salin.

Nesta foto de arquivo de 18 de março de 2015, o General Khalifa Haftar fala durante uma entrevista com a Associated Press em al-Marj, Líbia. - Sputnik Brasil
Comandante líbio se recusa a participar de negociações para estabilização do país
"Mas dizer que a OTAN não teve nada a ver com isso, que simplesmente 'foi um pedido dos países europeus' não corresponde à realidade", acrescentou.

Todos os interessados no ataque à Líbia tiraram seu proveito: o presidente líbio foi calado, as corporações internacionais ganharam acesso ao setor de petróleo líbio, a OTAN demonstrou sua importância e os EUA — sua liderança. Aliás, quem perdeu, ressalta o especialista, foram os países europeus.

"Os europeus foram os que mais perderam porque, se o regime de Kadhafi existisse até hoje, a crise migratória na Europa não teria atingido o nível que tem hoje. Os europeus negociaram com Kadhafi, ele impedia o fluxo migratório", explicou o cientista político russo.

Após a morte de Kadhafi em 2011, a Líbia tem permanecido submergida em uma guerra civil. Dois governos rivais lutam pelo controle do país. As regiões orientais da Líbia são governadas por um parlamento sediado na cidade de Tobruk, que coopera com o Exército Nacional da Líbia, liderado por Haftar. O Governo do Acordo Nacional, formado com o apoio das Nações Unidas e da Europa, opera no oeste do país, inclusive na capital líbia de Trípoli. A falta de centralidade resultou em um surto de atividades de tráfico humano e no desenvolvimento de grupos jihadistas, tornando-se uma porta de entrada para migrantes ilegais da África para a Europa.

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