As Fake News podem influenciar as eleições no Brasil?

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As Fake News estão na boca do povo e na ponta dos dedos dos eleitores. Elas se espalham pelas redes sociais e apresentam um desafio para a Justiça Eleitoral, assim como para o jornalismo. Para falar sobre esse fenômeno eleitoral, a Sputnik Brasil entrevistou o cientista político da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado.

O pesquisador tem uma visão ponderada sobre o efeito das notícias falsas e afirma que há dificuldade em mensurar seu real impacto nas eleições.

"O que posso dizer é que elas foram muito presentes e que algum papel elas desempenham. Se elas foram determinantes ou não para a vitória de um ou outro candidato, nunca dá para saber", disse Ortellado.

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O cenário não é dos mais favoráveis. Uma recente reportagem da Folha de São Paulo lançou suspeitas  ao revelar uma suposta comercialização ilegal de disparos em massa de mensagens de WhatsApp, aumentando o receio da população sobre a circulação das Fake News. A denúncia é atualmente investigada pelo TSE.

"A gente não consegue isolar esse fator né, e saber o que teria sido. O que eu posso dizer é o seguinte: nas mídias sociais, a circulação de notícias falsas foi muito grande", apontou Pablo Ortellado sobre a circulação de Fake News.

Negligência da Justiça Eleitoral ou surpresa com a avalanche de Fake News?

A Justiça tem sido cobrada para coibir a difusão de notícias e informações falsas. Para o pesquisador Pablo Ortellado, o fenômeno das Fake News teve uma presença marcante ao longo do período eleitoral. Apesar dos alertas sobre o uso dessa ferramenta na política, houve surpresas nessas eleições.

A Justiça Eleitoral formou uma comissão para combater as Fake News ainda antes das eleições com o objetivo de avaliar maneiras de garantir a vigilância sobre as notícias falsas. No entanto, a atuação do TSE tem sido criticada.

Uma das principais ações da instituição até agora foi a criação de uma página para rebater boatos e notícias falsas. Porém, a página foi ao ar apenas alguns dias depois do primeiro turno das eleições. Além disso, o TSE ordenou a retirada de centenas de notícias falsas do ar durante a campanha eleitoral.

"No que diz respeito ao Facebook isso era bem esperado, tinham outros exemplos internacionais, estava todo mundo mais ou menos preparado. Eu acho que menos o TSE, embora o TSE tenha atuado um pouquinho", explica o pesquisador.

Para Ortellado, a grande novidade da campanha eleitoral, no entanto, foi o WhatsApp. Segundo ele não havia experiência acumulada para lidar com o uso do aplicativo de difusão de mensagens da forma como foi utilizado e a consequência foi a ineficiência da fiscalização da Justiça Eleitoral nesse uso.

"A grande novidade, no entanto, foi no WhatsApp. No WhatsApp ninguém estava preparado e era uma ferramenta que já tinha sido usada em campanhas políticas, principalmente aqui na América Latina. Mas o que aconteceu nessas eleições foi muito novo né, que é uma campanha se estruturar principalmente no WhatsApp. E aí isso tomou todo mundo de surpresa, porque ninguém tinha os instrumentos nem para verificar o que estava acontecendo e nem para agir. E aí, nesse sentido, o WhatsApp ficou basicamente sem ação regulatória da Justiça Eleitoral", afirmou.

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Ele ressalta a atuação do jornalismo nesse processo que, em sua visão, não conseguiria conter toda a massa de notícias falsas, mas conseguiu agir e diminuir os efeitos das Fake News.

"Mas as próprias plataformas, as organizações jornalísticas… todo mundo se coordenou. E houve um trabalho das plataformas de atuar rapidamente, das agências de verificação e das redações jornalísticas de fazerem o contraponto. Não seria o suficiente para impedir, para acho que mitigou. Onde houve ação, essa ação foi efetiva", explicou.

É possível combater as notícias falsas?

Com a disseminação de notícias falsas, através de aplicativos de mensagem como o WhatsApp, ficou mais difícil controlar e fiscalizar a campanha eleitoral. Para Pablo Ortellado, as formas tradicionais de combater as Fake News, não só não são suficientes como também trazem consigo alguns riscos que devem ser observados.

"As maneiras tradicionais de combater notícias falsas por meio da limitação, da censura ou da penalização, da criminalização, elas são muito perigosas, porque elas ameaçam a liberdade de expressão", aponta o pesquisador da USP.

Ortellado acredita que a solução mais efetiva é desmentir as notícias através do contraditório, como têm feito diversos veículos de imprensa, plataformas e também as agências de checagem de fatos.

"Por esse motivo eu acho que a maneira mais efetiva é combater essas notícias falsas fazendo circular o contraponto. Mais ou menos o que foi feito aí para o Facebook nessas eleições. Houve uma ação coordenada da imprensa, das agências de verificação e das plataformas e eu acho que foi razoavelmente bem sucedida", explica.

Apesar de essas medidas não conseguirem conter todo o fenômeno das notícias falsas, elas são capazes de desmentir as Fake News que se tornem mais relevantes, segundo acredita o pesquisador.

A credibilidade da imprensa tradicional está em risco?

Um dos apontamentos das pesquisas de Pablo Ortellado tem sido a diminuição da credibilidade da imprensa tradicional. Para ele, isso é um efeito da polarização política no país, que vem sendo explorada na campanha eleitoral.

"[…] Na verdade tudo isso faz parte de um outro fenômeno, que é o que está na base disso, que é a polarização política. A polarização política empurra as pessoas para dois pontos de vista só. E nesses dois pontos de vista elas ficam tão apaixonadas que as pessoas aceitam sem muito juízo crítico qualquer informação que corrobora com aquilo que elas já têm", afirmou Ortellado.

De certa forma, como acredita o especialista, as paixões políticas estão nublando a razão das pessoas, que acabam confirmando crenças através de notícias falsas e replicando-as com base no mesmo afã.

"Eu acho que as notícias falsas elas exploram essa vulnerabilidade das pessoas que estão muito apaixonadas para ficarem vendendo informação falsa, divulgando informação falsa, que foi criada para confirmar a posição em que as pessoas já estão, essa posição apaixonada, para consolidar esse ponto de vista", alerta o pesquisador.

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O cientista político aponta que as informações falsas criam um respaldo para as crenças das pessoas, que sob uma paixão por seus candidatos, procuram confirmar visões que já têm. Com isso, o posicionamento divergente na imprensa tradicional acaba sendo evitado por quem não quer se ver diante da crítica.

"As pessoas vão criando certas convicções que não são respaldadas pelos meios de comunicação e o efeito disso é o descredenciamento dos meios de comunicação. Isso, quando você pega um público muito mobilizado, como o que a gente mediu aí na manifestação pró-Bolsonaro, é muito extremo né. A gente vê que os meios de comunicação tem menos de 10% de confiança", afirma.

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