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Defesa e política externa: especialistas comparam projetos de Haddad e Bolsonaro

© REUTERS / Adriano Machado/Rodolfo BuhrerCandidatos à Presidência do Brasil Jair Bolsonaro (esq.) e Fernando Haddad (dir.).
Candidatos à Presidência do Brasil Jair Bolsonaro (esq.) e Fernando Haddad (dir.). - Sputnik Brasil
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Quais são as semelhanças e diferenças dos candidatos à Presidência do Brasil no que diz respeito à política externa e à Defesa nacional? A Sputnik Brasil traz um comparativo dos projetos de Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) para este assunto com análises de especialistas em política externa e estratégia militar.

Relações Internacionais

O projeto de Fernando Hadad para a política externa brasileira tem como vetor principal a retomada da diplomacia adotada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a começar pela menção à chamada "Política Externa Altiva e Ativa", termo cunhado pelo então chanceler Celso Amorim e presente no programa de Fernando Haddad. Entre os principais pontos deste plano de governo, destacam-se a aposta no multilateralismo, reforçando a relação com os BRICS, a cooperação sul-sul e a integração latino-americana. 

"O Brasil deve retomar e aprofundar a política externa de integração latino-americana e a cooperação sul-sul (especialmente com a África), de modo a apoiar, ao mesmo tempo, o multilateralismo, a busca de soluções pelo diálogo e o repúdio à intervenção e a soluções de força. O fortalecimento dos BRICS é outra diretriz essencial de uma política externa que reforce a presença dos países em desenvolvimento na agenda internacional e proponha o desenvolvimento de novos instrumentos de cooperação e reformas nos organismos multilaterais", diz o plano de governo do presidenciável petista.

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O projeto de Haddad também busca espelhar a política externa do governo Lula nas tentativas de construção da paz, destacando a assinatura da Declaração de Teerã para resolver a questão do programa nuclear iraniano e o reconhecimento do Estado da Palestina como "único caminho possível para a Paz no Oriente Médio". 

Já o projeto de Jair Bolsonaro para a diplomacia brasileira, intitulado em seu programa como o "Novo Itamaraty", enfatiza a aposta nas relações e acordos bilaterais, e o aprofundamento dos laços com os países latino-americanos. O programa sugere também uma aproximação a países como EUA e Israel, rejeitando uma diplomacia movida por "razões ideológicas". 

"Deixaremos de louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo atacar democracias importantes como EUA, Israel e Itália. Não mais faremos acordos comerciais espúrios ou entregaremos o patrimônio do Povo brasileiro para ditadores internacionais", diz o programa de Bolsonaro. 

"Países que buscaram se aproximar mas foram preteridos por razões ideológicas, têm muito a oferecer ao Brasil, em termos de comércio, ciência, tecnologia, inovação, educação e cultura", complementa o plano do PSL. 

O que dizem os especialistas 

É consenso entre os especialistas em Relações Internacionais que os projetos de governo para a política externa dos dois candidatos  não são muito aprofundados e fornecem apenas algumas indicações de qual será o rumo da diplomacia brasileira a partir de 2019.

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O professor de Relações Internacionais da UERJ e pesquisador do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), Paulo Velasco, ao comentar os planos dos candidatso, disse à Sputnik Brasil que no programa de Fernando Haddad há uma tentativa de reproduzir a política externa da década passada, "priorizando as relações com os países do chamado sul-global, o Brasil muito atento a fóruns como o BRICS, muito atento à lógica da integração regional". 

"Olhando para o programa do candidato do PT, Fernando Haddad, fica muito clara a tentativa daquela política externa mais assertiva que foi a política do governo de Lula da Silva, uma tentativa quase de emular e copiar as diretrizes que deram muito certo durante meados da década passada, em que colocaram o Brasil com uma postura de maior protagonismo e visibilidade internacional. […] Haddad afirma que o espaço sul-americano e latino-americano são condição para a atuação do Brasil como um ator de maio peso e envergadura na cena internacional, e reafirma-se a ideia de um Brasil autônamo e soberano nas relações internacionais sem qualquer subordinação  aos interesses de atores externos", observa Velasco. 

"A grande dúvida que fica no ar é se haverá todo esse fôlego, todo esse empenho", pondera.   

Em relação ao programa de Jair Bolsonaro, Paulo Velasco destaca o fato de que o candidato do PSL não faz menção a uma política externa em seu programa, mas fala em um "Novo Itamaraty". 

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"Sob esse título ele traz algumas ideias do que seria priorizado na sua política externa. Ele coincide com o Haddad  em ressaltar a importância da integração regional. Esse é um ponto de interseção entre os dois programas, muito embora o programa do PSL faça a ressalva quanto à integração com países da região que não sejam ditaduras. De alguma maneira, isso deixaria de fora já a Venezuela, e talvez, em uma interpretação extensiva de ditadura, deixaria de fora o governo da Bolívia de Morales, embora nesse caso seria absurdo caracterizá-lo como não democrático", comentou.    

O especialista completa dizendo que alguns dos pontos que aparecem no programa do PSL são muito semelhantes aos pontos que foram anunciados pelo ex-chanceler José Serra, no início do governo Temer, que também falou que buscaria uma política externa menos ideológica, mas atenta a parceiros tradicionais e buscando acordos de comércio bilaterais. 

Já Antônio Gelis, professor de Estratégia Internacional Geopolítica da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, em entrevista à Sputink Brasil, concordou que o programa de governo do Haddad replica a política externa do PT de aproximação aos países da África, dos BRICS, mas ressalta que "vivemos hoje em um mundo em rápida transformação, o que faz com que os candidatos não se comprometam demasiadamente com a política externa".  

"É uma cautela elogiável em ambos, por saber que esse é um mundo que supresas têm acontecido o tempo todo", destaca o especialista. 

De acordo com Gelis, o projeto de Bolsonaro para as Relações Internacionais apontam uma aproximação com o presidente dos EUA, Donald Trump, embora destaque que o seu projeto nesta área seja genérico. 

"Os pontos dele, não só escritos em si, mas em toda a fala dele, têm uma identificação muito grande com o governo norte-americano do presidente Donald Trump, e uma tentativa de replicar alguns posicionamentos, o que é curioso, porque o governo americano enfrenta hoje uma oposição interna imensa. Então o quanto isso viraria a possibilidade de uma aliança estável, tanto para o Bolsonaro, quanto para o Haddad, é muito questionável nesse momento", afirmou. 

Defesa Nacional 

No âmbito da Defesa Nacional, os projetos dos candidatos à Presidência coincidem em valorizar as Forças Armadas do Brasil, apesar de apresentarem abordagens diferentes para os assuntos ligados à soberania nacional. 

O plano de governo de Jair Bolsonaro para a Defesa tem como vetor fundamental a valorização das Forças Armadas brasileiras na "Garantia da Lei e da Ordem" e na "seguranças das fronteiras". Para isso, o projeto do PSL promove uma "maior integração entre os demais órgãos de segurança pública". 

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"Diante das crises, nossos combatentes precisam de equipamentos modernos, não somente de veículos e armas. Ameaças digitais já são presentes. Nossas Forças Armadas precisam estar preparadas, através de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com a participação das instituições militares no cenário de combate a todos os tipos de violência. Além disso, no papel de consolidação nacional, devemos lembrar da participação das Forças Armadas no processo de atendimento da saúde e da educação da população, principalmente em áreas remotas do país", diz o programa de governo de Bolsonaro. 

Já o projeto do candidato do PT, Fernando Haddad, assim como na política externa, destaca uma retomada dos governo de Lula e Dilma em relação à Defesa Nacional. 

O plano de Haddad diz que "serão tomadas todas as medidas jurídicas para preservar os interesses nacionais contra a ilegítima decisão do Governo Temer de entregar a Embraer para a Boeing, reforçando-a como instrumento nacional de grande importância tecnológica e estratégica".

A análise do especialista 

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista em questões de Defesa, o jornalista Roberto Godoy, observou que é difícil determinar semelhanças e diferenças entre os programas dos dois candidatos na área de Defesa.

"Nenhum dos dois tem um plano bem definido e específico para a área de Defesa. Têm intenções", afirmou. 

Segundo ele, uma questão convergente entre os candidatos é a questão do reequipamento das Forças Armadas, embora haja, segundo o especialista, uma ausência de propostas de financiamento para realizar a modernização das tropas. 

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"Esse é um problema crônico das forças brasileiras. A gente não pode esquecer que em 2016 um diagnóstico da Marinha apontava que em 2023, se as coisas acontecessem como vinham acontecendo, nã haveria dinheiro sequer para a modernização dos navios existentes", lembra Godoy. 

"No caso do Haddad, ele promete retomar os programas, investir nas forças, mas falta uma coisa absolutamente fundamental, que se resume em uma única palavra com um ponto de interrogação: 'como?'. De onde virá o dinheiro? De onde virão os recursos? Nenhum dos dois candidatos especifica isso, o que é absolutamente frustrante. O Brasil nunca precisou tanto de Forças Armadas ativas, preparadas, bem equipadas, como hoje", destacou o jornalista. 

Já no projeto de Bolsonaro, Roberto Godoy comenta que nem a forte ligação que o canidato do PSL tem com o Exército resulta em uma proposta mais concreta para a Defesa Nacional. 

"O que até surpreende no caso da candidato Bolsonaro, porque ele é um ex-militar. Há muito tempo que ele está fora, mas sempre manteve ligações, a assessoria dele é composta por alguns generais que eram do alto comando. Então é surpreendente que ele não tenha detalhado um pouco mais a proposta, tenha ficado também no território das intenções", afirmou. 

Segundo ele, no caso do Bolsonaro o que tem de concreto é uma "clara intenção de colocar um colégio militar em cada capital num prazo máximo de 24 meses a partir da posse, e uma insinuação dessa intenção de manter a intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro por um período indefinido".  

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