Por que Pentágono está tão interessado em comprar novos mapas da Europa?

CC BY 2.0 / brownpau / Vista do Pentágono a partir de um avião
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O departamento militar dos EUA está selecionando empreiteiros que fornecerão informações cartográficas detalhadas sobre a maioria dos países europeus e está disposto a pagar US$ 50 milhões (R$ 188,9 milhões) pelo serviço.

Nesta matéria a Sputnik explica por que o Pentágono precisa de mapas detalhados de estradas, zonas urbanas e rurais e passagens subterrâneas da Europa.

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O Exercito dos EUA está interessado em tudo. Fotogramas aeroespaciais, mapas geodésicos e subterrâneos, incluindo redes de serviços públicos, dados topográficos, esquemas de controle e medição – tanto eletrônico como em papel – assim como acesso a banco de dados cartográficos. A área de interesse abrange 31 países, excluindo a Bielorrússia, a Moldávia e a Rússia, mas inclui a Ucrânia e a Geórgia na lista. 

A proposta foi publicada no site de pedidos governamentais dos EUA. O cliente é o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (USACE, na sigla em inglês). A duração do contrato proposto é de cinco anos, o custo total corresponde a US$ 50 milhões (R$ 188,9 milhões).

O propósito de o Pentágono estar disposto a gastar esse valor elevado para adquirir um grande número dos mais diversos mapas da Europa não está especificado no documento. Sabe-se apenas que os materiais recebidos serão utilizados "para planejamento preliminar". 

Medo de ficar preso no trânsito

A publicação do anúncio de concurso indica que os EUA decidiram levar a sério a modernização da infraestrutura de comunicações na Europa, que é mal adaptada para a rápida movimentação de tropas, segundo Yuri Byaly, vice-presidente do Centro Criativo Experimental da Fundação Pública Internacional. 

"Estudos preliminares dos serviços de engenharia do Pentágono e da OTAN mostraram que, se necessário, a rápida movimentação de tropas ao leste não será possível – estradas, pontes, portos e aeródromos não se encaixam. Bruxelas e Washington exigem que os governos europeus reequipem a infraestrutura de transporte, mas aparentemente não confiam neles. Então o Pentágono decidiu pegar o touro pelos chifres e primeiro avaliar a escala do problema", avalia o analista. 

Em 2017, um relatório secreto da OTAN acabou caindo nas mãos da imprensa sobre sérias dificuldades logísticas que dificultam prontidão a um ataque do Oriente. 

"Depois do fim da Guerra Fria, as chances da OTAN de conseguir realizar uma rápida amplificação logística em um território que havia aumentado significativamente foram atrofiadas", observou o documento.

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A infraestrutura de transportes europeia não está adaptada ao rápido movimento de tropas e equipamentos. A situação é agravada pela burocracia na própria OTAN. 

Em junho, o The Washington Post publicou um grande artigo que começava assim: "Os comandantes norte-americanos estão preocupados — se tiverem que enfrentar a Rússia, então as tropas mais poderosas do mundo podem ficar presas no tráfico". Citando mais um exemplo: unidades do Exército dos EUA que voltaram para a Alemanha de exercícios na Geórgia, ao invés de duas semanas como planejado, passaram quatro meses esperando seus veículos blindados – tempo preciso para deslocá-los. 

Estradas despreparadas

Em princípio, as vias europeias não são destinadas ao deslocamento operacional de tropas, e sua modernização exigirá muito tempo e dinheiro. No entanto, não há dúvida de que a OTAN e, acima de tudo, o principal patrocinador da Aliança, os EUA, resolverão este problema. Assim, o tenente-general aposentado, Nikolai Topilin, avalia a situação. 

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Segundo ele, o ponto mais fraco da infraestrutura de transporte da Europa são pontes e túneis, que não são projetados para equipamentos militares pesados e não correspondem às dimensões exigidas. É necessário fortalecê-los ou reconstruí-los. A rede ferroviária é muito mais fraca do que a russa. Muitos aeroportos – mesmo internacionais – não têm pistas adequadas para aeronaves militares. A mesma história com os portos marítimos, que não são destinados para a entrada de navios de guerra de grande porte com um grande calado – o fundo deve ser aprofundado, os cais devem ser reforçados. 

As lendárias estradas europeias, mesmo a famosa Autobahn alemã (sistema de rodovias da Alemanha), construída por ordem de Hitler, nem sempre são adequadas para propósitos militares. Elas possuem multicamadas, são muito confiáveis e duráveis, mas os veículos militares com lagartas não podem se mover ao longo delas. Para evitar o colapso da estrada, revestimentos de borracha especiais devem ser usados nos trilhos de tanque e veículos blindados.

Herança soviética

A maioria dos problemas, é claro, está no Oriente – nos antigos "países da democracia popular" e nos Estados pós-soviéticos. Na Polônia, há grandes dificuldades com pontes e túneis, assim como com aeródromos. Nos países do Báltico, a largura dos trilhos das ferrovias segue o padrão russo. Os vagões vindos do Ocidente precisariam trocar seus truques para se adaptar aos trilhos, e é impossível falar sobre rápido deslocamento de tropas ou equipamentos nessa situação.

A Lituânia, a Letônia e a Estônia, talvez também a Geórgia e a Ucrânia, precisariam substituir todo o sistema ferroviário, e esse é um trabalho colossal. 

As estradas desses países costumam ser tão estreitas e pouco desenvolvidas que um único caminhão derrubado pode impedir todo o movimento de tropas. 

"O principal problemas estratégico da Europa é que todas as vias de transporte de lá se desenvolveram caoticamente, dependendo das necessidades da logística comercial, mas sem levar em conta interesses de defesa. Enquanto na Rússia, a construção de qualquer via, que pode ter importância operacional e tática, é tradicionalmente realizada com normas prescritas por militares. Pontes e túneis têm características bem definidas, as vias podem ser utilizadas como estradas frontais ou rápidas", explica Topilin.

A modernização das vias de transporte da Europa, que o Pentágono e a OTAN têm como o objetivo, é chamada de preparação de engenharia de um teatro de operações militares, disse o general. Segundo ele, os custos relevantes podem ser medidos em centenas de bilhões de dólares. 

Atrair para corrida armamentista

Não se trata de preparo para uma guerra real. Pelo contrário, esta é uma tentativa de impor uma corrida armamentista à Rússia, opina Byaly.

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Moscou está sendo atraída para esse processo supercaro, com o risco de prejudicar sua própria economia.

"Os políticos norte-americanos falaram sobre isso repetidamente, principalmente os 'falcões' do Senado. A experiência bem-sucedida do colapso da URSS, em relação à qual as mesmas táticas foram usadas de ano a ano, não dá descanso a eles", especifica o vice-presidente do centro.

A corrida armamentista é um processo de dois gumes, lembra Topilin. Um adversário em potencial começará a se armar pesadamente apenas se a ameaça a ele for realmente séria. Portanto, os preparativos para guerra, levados a cabo pela OTAN e pelos EUA na Europa, são muito reais. E qualquer arma mais cedo ou mais tarde pode ser disparada.

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