Rússia e China poderiam virar concorrentes na Síria após fim da guerra?

© AFP 2023 / Youssef KarwashanPoço de petróleo no campo Rmeilane, província de Hasakeh, Síria, julho de 2015 (foto de arquivo)
Poço de petróleo no campo Rmeilane, província de Hasakeh, Síria, julho de 2015 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, prometeu que a China ajudará a recuperar a Síria depois do fim da guerra. A Síria é rica em petróleo e Pequim há muito tempo que mostra interesse pelo país, diz um artigo do jornal Vzglyad. Estará na hora de Moscou se preocupar com a influência chinesa?

O chanceler chinês se encontrou na quinta-feira passada (27) com seu homólogo sírio Walid Muallem às margens da Assembleia Geral da ONU e afirmou que Pequim aprecia muito as relações sírio-chinesas e "não se absterá" da recuperação da Síria, segundo cita a agência Xinhua.

Porém, ressalta o colunista do Vzglyad Mikhail Moshkin, Pequim manteve laços coma a Síria mesmo durante a guerra, e Damasco, segundo afirmou em março de 2016 o presidente Bashar Assad, espera que "o processo [de recuperação] se baseará na ajuda dos três principais Estados que apoiaram a Síria durante a crise: a Rússia, a China e o Irã".

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Antes da guerra, a China era o maior exportador de produtos à Síria ao mesmo tempo investindo ativamente no setor de petróleo do país árabe, sublinha o autor do artigo. Vale destacar que, em 2010, a Corporação Nacional de Petróleo da China, junto com a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, se tornou acionista da principal companhia de refino de petróleo síria, Al-Furat Petroleum.

Além disso, Pequim considerou a Síria como uma das "interfaces" da iniciativa Nova Rota da Seda: a China planeja criar um dos roteiros do sistema de transporte euroasiático através do Irã e Iraque para a Síria e seus portos mediterrâneos.

Quanto à parceria político-militar entre os dois países, esta remonta à época de Mao Tsé-Tung, nota o colunista, acrescentando que Pequim ajudou no desenvolvimento do programa de mísseis sírio.
Neste contexto, se vê como lógica a visita de navios da Marinha chinesa à costa síria em 2013, quando a guerra estava no auge e faltavam dois anos até o início da operação russa: assim, a China "marcou sua presença", mas de uma forma cautelosa, frisa Moshkin.

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O especialista em assuntos chineses Aleksei Maslov lembra que a China recebeu várias propostas para participar na operação de paz no país árabe, mas Pequim nunca se envolveu em ações militares.

"A China ficou observando em que resultaria o confronto entre Damasco e a oposição síria, por um lado, e entre a Rússia e os EUA, por outro lado. Agora a China começou a anunciar estar pronta para prestar ajuda humanitária. É uma tática comum chinesa", opinou o analista.

Quanto maior era sucesso do exército sírio, apoiado pela Força Aeroespacial russa, na luta contra os terroristas, tanto mais ativamente Pequim prometia participar da recuperação da Síria, diz o artigo. Assim, em 2017 o governo chinês anunciou planos de investir cerca de 2 bilhões de dólares na construção de um parque industrial no país árabe. Mais tarde, foi informado que a gigante chinesa de equipamentos para redes de comunicação Huawei poderia se encarregar de restaurar as telecomunicações sírias.

"Primeiro, a China está interessada em entrar na Síria para recuperar a infraestrutura. Pois quem possui infraestrutura, vias ferroviárias, possui o país. Segundo, Pequim tem interesse na exploração dos campos de petróleo sírios", apontou Maslov.

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O analista acredita que no momento já não é tão importante quem vencerá a guerra síria, mas quem vai recuperar sua economia, e a China "quer que isso [recuperação] siga um modelo seu".

Neste ponto irá de certo modo competir com a Rússia, sublinha, que "sofreu as maiores despesas e baixas na Síria", e que também está interessada na recuperação, sendo esta vantajosa para Moscou do ponto de vista geopolítico.

"A recuperação da Síria significará que os países que participem do processo reconhecerão que o ‘regime de Assad' deve permanecer pelo menos até às próximas eleições […] Assim, a participação chinesa da recuperação também é uma questão política e não apenas econômica", comentou ao Vzglyad Konstantin Simonov, diretor do Fundo de Segurança Energética Nacional.

Resumindo, o autor do artigo ressalta que, tal como Pequim, Moscou tem seus interesses econômicos na Síria, de que falou o presidente Putin durante sua Linha Direta anual.

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