Comentarista israelense: 'Guerra civil na Síria não terminará em Idlib'

© AFP 2023 / Anas AL-DYABFumaça sobe na vila síria de Kafr Ain, no sul da província de Idlib, depois de um ataque aéreo em 7 de setembro.
Fumaça sobe na vila síria de Kafr Ain, no sul da província de Idlib, depois de um ataque aéreo em 7 de setembro. - Sputnik Brasil
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A coalizão liderada pelos EUA continua a ameaçar o presidente sírio, Bashar Assad, alegando que Damasco pode usar armas químicas na Síria. Falando à Sputnik, o comentarista político israelense Avigdor Eskin apelidou essa guerra psicológica, expressando confiança de que a Rússia e os EUA não se envolveriam em um conflito sobre o Idlib.

A libertação de Idlib pelo Exército Árabe Sírio não acabaria com a guerra da noite para o dia, disse o comentarista político e publicitário israelense Avigdor Eskin à Sputnik, referindo-se à potencial retaliação dos opositores de Assad e da questão curda ainda a ser resolvida.

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Segundo o comentarista israelense, deve-se agir com cuidado quando se trata de uma cidade com 3 milhões de pessoas mantidas como reféns por terroristas.

"Há três milhões de pessoas no Idlib", observou Eskin. "Muitos deles vêm de diferentes partes da Síria enquanto Assad e seus aliados avançam. O preço do ataque ao Idlib será maior do que o de Aleppo ou Mossul".

Ele opinou que a oposição de Washington à próxima operação poderia ser "um sinal de solidariedade aos tradicionais aliados sunitas dos EUA".

"O governo Trump não quer ser arrastado para isso", presumiu Eskin.

Apesar do reiterado pedido de Donald Trump em deixar a Síria o mais rápido possível, há duas questões que não permitem que os EUA saiam da República Islâmica neste momento, enfatizou o publicitário: "Estes são o total extermínio do Daesh* e impedir que o Irã fortaleça suas posições na região".

Quanto aos esforços antiterroristas de Washington, Eskin apontou para a ofensiva das Forças Democráticas Sírias (SDF) apoiada pelos EUA na cidade de Hajin, na margem oriental do rio Eufrates que teria sido lançada em 10 de setembro. Por outro lado, de acordo com o especialista, os EUA e Israel estão tentando evitar que a República Islâmica do Irã crie "um corredor" no Mediterrâneo passando pelo Iraque, Síria e Líbano.

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Washington e seus aliados europeus se opõem veementemente à próxima operação de Idlib, admitindo, no entanto, que a província continua a ser um grande foco de terrorismo.

Além disso, os membros da coalizão liderada pelos EUA sinalizaram que eles "retaliariam" caso o Exército Árabe Sírio recorra ao uso de armas químicas. Damasco refutou as alegações citando o fato de que seus estoques de armas químicas foram destruídos sob a supervisão da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).

Mais cedo, o Ministério da Defesa da Rússia alertou que os terroristas estavam preparando uma provocação com armas química na região para incitar a coalizão a intervir.

O Ministério especificou em 12 de setembro que a notória ONG Capacetes Brancos e outros grupos extremistas selecionaram crianças para um ataque químico encenado. No final de agosto, o Centro Russo de Reconciliação Síria revelou que o grupo tinha contrabandeado uma grande remessa de substâncias venenosas para um depósito usado pelos jihadistas Ahrar al-Sham na província de Idlib.

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No entanto, as declarações da Rússia passaram batidas em Washington. Falando à Fox News em 12 de setembro, a embaixadora dos EUA na ONU Nikki Haley "advertiu" Moscou, Teerã e Damasco contra o uso de armas químicas em Idlib "novamente" alegando que "sírios, os russos e os iranianos já usaram duas vezes na Síria".

"Não nos teste novamente. Porque eu acho que as chances estão contra eles", disse Haley.

Segundo Eskin, "as conversas sobre armas químicas pertencem à categoria de guerra psicológica". Ele expressou confiança de que "não haverá conflito entre as forças dos EUA e da Rússia".

Ainda assim, ele disse que "a preocupação é genuína": "O resultado dessa operação pode ser de dezenas de milhares de mortos e dois milhões de requerentes de asilo. A Turquia e outros países sunitas se opõem fortemente a isso. A Turquia não está interessada em outro milhão ou dois de refugiados".

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Durante a cúpula trilateral de 7 de setembro em Teerã, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ressaltou a necessidade de combater a ameaça representada pelo último foco terrorista na Síria e acrescentou que "há um grande número de civis na zona Idlib e certamente precisamos ter isso em mente [ao lutar contra terroristas]".

O enviado especial presidencial russo para a Síria, Aleksandr Lavrentiev, em Genebra no dia 11 de setembro apontou que "tudo dependerá de até que ponto os membros da comunidade internacional poderiam ajudar na separação da oposição moderada dos radicais em Idlib".

"É impossível imaginar que o governo sírio está vivendo em paz com os terroristas", disse ele, acrescentando que "se eles se renderem, essa seria a melhor decisão".

Enquanto isso, a Turquia tem alertado sobre a próxima operação: em seu recente editorial para o The Wall Street Journal, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan pediu à comunidade internacional para evitar o avanço no Idlib. Em 13 de setembro, o ministro da Defesa da Turquia, Hulusi Akar, declarou também que qualquer operação militar em Idlib seria um desastre para a região, acrescentando que Ancara estava trabalhando com Moscou e Teerã "para estabilizar o Idlib" segundo a agência Anadolu.

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No entanto, a Reuters informou na quinta-feira que a Turquia "está reforçando seus postos militares dentro da província de Idlib, controlada pelos rebeldes da Síria", citando fontes entre os rebeldes. Eskin presumiu que a Turquia poderia "ainda estar interessada em derrubar Assad".

Quanto ao avanço do Irã com a operação Idlib, o comentarista israelense ressaltou que "o Irã está agora do lado vencedor e terá interesse em capitalizar o sucesso atual".

"O problema de Teerã é a instabilidade interna e o fato de que a guerra na Síria não terminará em Idlib", concluiu o comentarista político.

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