Após 65 anos, EUA consideram novo golpe de Estado em Teerã?

© AFP 2023 / INTERCONTINENTALEManifestantes armados com pedaços de madeira gritam slogans durante tumultos em Teerã, agosto de 1953
Manifestantes armados com pedaços de madeira gritam slogans durante tumultos em Teerã, agosto de 1953 - Sputnik Brasil
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Os EUA adotaram métodos antigos de guerra psicológica e pressão econômica para manipular Teerã. Porém, nos últimos 65 anos, a República Islâmica do Irã mudou drasticamente, disseram acadêmicos iranianos à Sputnik, adicionando que as lições do golpe de Estado de 1953 no Irã não foram suficientes para que o governo norte-americano aprendesse.

O especialista em estudos americanos na Universidade de Teerã, professor Seyed Mohammad Marandi, relatou à Sputnik Persa que a administração Trump adotou os mesmos métodos aos quais Washington recorreu há 65 anos para realizar um golpe de Estado no Irã.

"Na minha opinião, a situação no Irã agora é diferente daquela época […] Mas os métodos usados pelos EUA são semelhantes: boicote petrolífero e guerra psicológica. Então, o serviço da rádio BBC persa estava envolvido nisso, agora é a televisão BBC e redes sociais em persa patrocinadas pelo Ocidente, e milhares de pessoas que conduzem essa guerra cibernética psicológica contra o Irã. Mas, repito, agora a situação é completamente diferente. A atual liderança do Irã é muito diferente do governo do Dr. Mossadegh", afirmou o especialista.

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Este comentário veio em meio à declaração feita pelo ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, que acusou os EUA de realizarem "ações" que podem levar a mais um golpe de Estado no país.

Em 1953, o golpe de Estado apoiado pela CIA levou à deposição do gabinete legitimamente eleito chefiado pelo primeiro-ministro Mohammad Mossadegh, substituindo-o pelo governo do general Fazlollah Zahedi.

O problema, segundo o professor, é que o ex-primeiro ministro iraniano era "ingênuo" e "confiava nos Estados Unidos", adicionando que os EUA se aproveitaram das "numerosas contradições internas", causadas pelo "isolamento que havia no país".

"Agora, os líderes de nosso país não são tão ingênuos e não nutrem ilusões quanto às intenções dos Estados Unidos […] Mesmo aqueles que olhavam de forma otimista para o futuro das relações entre EUA e Irã, após a assinatura do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), perceberam que não podiam confiar nos EUA e seus aliados, sendo testemunhas da completa inação de [Barack] Obama em relação ao JCPOA e da política agressiva de Trump em relação ao Irã", enfatizou o analista iraniano.

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A opinião é compartilhada pelo pesquisador iraniano especializado em assuntos americanos, Fuad Izadi, ressaltando que um golpe de Estado envolvendo as Forças Armadas iranianas, sob o comando dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha ou de outro país no Irã, é absolutamente impossível.

"Hoje, o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica e outras unidades do exército iraniano são treinados em seu país e pertencem ao povo do Irã. Nosso exército nunca irá contra seu povo", disse Izadi.

Ele observou que, embora numerosos programas dos EUA, que visam a mudança de regime no Irã e em outros países, nunca tenham declarado abertamente seus objetivos genuínos, seus incentivos e motivação são bastante claros.

Segundo Izadi, o povo iraniano deveria ter em mente os acontecimentos de 1953 e "monitorar de perto cada passo dos responsáveis oficiais americanos e seus protegidos".

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Após a retirada unilateral de Washington do JCPOA, juntamente com a reintrodução das sanções contra o Irã neste ano, o pesquisador comenta que o principal objetivo do governo Trump é desencadear a instabilidade civil no país, porém, essas tentativas serão inúteis pelo simples fato de que o povo iraniano sabe que o verdadeiro culpado pelas sanções é o presidente americano e não o presidente Hassan Rouhani.

"Parece que nos últimos 65 anos, os americanos não conseguiram entender como devem lidar com o povo iraniano", concluiu Izadi.

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