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'Eles não estão nem aí!': diz especialista sobre descaso com Museu Nacional

© REUTERS / Ricardo MoraesMuseu Nacional, Rio de Janeiro, 02 de setembro de 2018
Museu Nacional, Rio de Janeiro, 02 de setembro de 2018 - Sputnik Brasil
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O incêndio no Museu Nacional na noite do domingo (2) chocou a sociedade brasileira e escancarou o desalento do financiamento público na Ciência. Sobre o assunto, a Sputnik Brasil ouviu Telma Lasmar, museóloga integrante do Conselho Internacional de Museus, ex-presidente do Conselho Federal de Museologia, e professora universitária.

Fundado em 1818, o Palácio de São Cristovão foi residência dos imperadores brasileiros no século XIX. Mais tarde, em 1890, tornou-se o Museu Nacional, a instituição científica e histórica mais antiga do Brasil e da América do Sul, abrigando milhões de itens em seu acervo ao longo dos anos e mantendo atividades de pesquisa. Em 1946, ele foi incorporado pela então Universidade do Brasil, a atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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Após o desastre do incêndio do museu, a opinião pública trouxe à tona a diminuição do investimento público nos últimos anos. Desde 2014, o orçamento da instituição caiu de forma drástica, acompanhando o ritmo austero dos governos. Entre janeiro e agosto de 2018, o repasse ao Museu Nacional foi de R$ 98 mil, ao que no mesmo período de 2013, havia sido de R$ 666 mil, uma redução de 85%.

Para Telma Lasmar, em entrevista à Sputnik Brasil, a situação do Museu Nacional reflete uma mentalidade que desvaloriza instituições de educação e cultura, como é o caso dos museus.

"No Brasil, nós temos a mentalidade de que manutenção é despesa. Ao contrário, manutenção é investimento. Se você não faz a manutenção, você não preserva. E nós temos essa realidade em vários museus brasileiros", alerta a museóloga.

Lasmar, que dá aulas na Universidade Federal Fluminense (UFF), acredita que a falta de uma estrutura adequada e de investimentos desestimula a cultura no país. Isso se reflete, ainda segundo Lasmar, em um envolvimento menor dos visitantes e das pessoas que vivem ao redor da instituição.

"Se o museu é público, é o Estado, é o primeiro que tem que cuidar. Coisa que não faz. Eles não estão nem aí! Os nossos governantes, os nossos parlamentares, o nosso Judiciário. Ninguém está nem aí para o nosso patrimônio", afirma Telma Lasmar.

Membro do Conselho Internacional de Museus, a pesquisadora aponta que há um nível profissional em termos de segurança desse tipo de instituição que o Brasil ainda não atingiu. "Aqui no Brasil [a segurança] é uma esculhambação, entendeu?".

"Segurança é uma coisa muito séria, é uma coisa preventiva. Porque depois que alaga, depois que incendeia, não há o que fazer. E agora nós estamos entrando em um momento que é um momento muito perigoso, que é o momento do rescaldo", enfatiza a museóloga.

Ela afirma que internacionalmente esse é um momento previsto em políticas de segurança como um momento arriscado, que deve ser acompanhado por profissionais ligados à preservação dos objetos. Essa precaução serve para evitar roubos e destruição do acervo que for salvo.

"O único lugar do mundo que tem múmia molhada é o Brasil"

Dizendo-se envergonhada, a museóloga Telma Lasmar afirma que os museus e acervos do Brasil têm uma segurança gerida de forma amadora. Ela enfatiza a necessidade de profissionalização e treinamento para garantir a preservação de instituições do tipo.

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"O que temos que ter clareza é que temos que ter profissionais. Segurança em museus é coisa de profissional, não é coisa de amador. E não pode ser barata. Os museus têm que ter sensores de fumaça, sensores de presença, sensores de calor, sensores de impacto. Os museus têm que alarme, gente qualificada, que saiba segurar um extintor de incêndio", ressalta a especialista.

"Os nossos museus dão medo. São poucos, a gente pode contar nos dedos, poucos em que a gente entra e se sente segura".

Ela ainda lembra de um caso recente no próprio Museu Nacional, em que uma infiltração deixou que água da chuva entrasse dentro das salas da instituição, literalmente molhando múmias. "O único lugar do mundo que tem múmia molhada é o Brasil", conta.

Na tarde desta segunda-feira (3), o Ministério da Cultura anunciou o aporte de R$ 10 milhões do Ministério da Educação para que a UFRJ possa investir em obras no local. Além disso, afirmou que um plano de emergência será estabelecido para a recuperação do prédio.

Telma Lasmar, no entanto, acredita que as perdas são irreparáveis.

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