100 dias de prisão sem provas: comunidade internacional exige libertar jornalista russo

© Sputnik / Stringer / Acessar o banco de imagensJornalista russo e chefe do portal RIA Novosti Ucrânia, Kirill Vyshinsky, no tribunal de Kherson enquanto este considera a apelação do caso, 1º de junho de 2018
Jornalista russo e chefe do portal RIA Novosti Ucrânia, Kirill Vyshinsky, no tribunal de Kherson enquanto este considera a apelação do caso, 1º de junho de 2018 - Sputnik Brasil
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Hoje, cumprem-se 100 dias desde o aprisionamento do chefe do portal RIA Novosti Ucrânia, Kirill Vishinsky, acusado de alta traição e apoio às repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, no leste ucraniano. Jornalistas e ativistas por todo o mundo não param de manifestar seu descontentamento com a atitude de Kiev para com a liberdade de imprensa.

Detenção

Participante do protesto contra a detenção de Kirill Vyshinsky perto da embaixada ucraniana em Moscou, em 18 de maio de 2018 - Sputnik Brasil
Protesto sob chuva: manifestantes se reúnem na embaixada ucraniana em apoio a Vyshinsky
As buscas, conduzidas pelo Serviço de Segurança da Ucrânia, irromperam em 15 de maio de 2018 inesperadamente para todos, tanto na casa do jornalista quanto no escritório da redação que chefia. Na sequência, os agentes ucranianos afirmaram ter encontrado fitas de São Jorge (objeto que simboliza a vitória soviética sobre Alemanha nazista na Rússia e é objeto de cada vez maior repressão na Ucrânia), imagens impressas do mapa da Novorossiya e dinheiro em moeda estrangeira.

Depois, o prazo de detenção, que inicialmente era de 60 dias, foi prorrogado. Enquanto isso, o Conselho para Direitos Humanos da Rússia mantém um contato contínuo com a ombudsman ucraniana, Lyudmila Denisova.

Entretanto, até hoje não foi esclarecido por que as autoridades ucranianas decidiram prorrogar o período de detenção do jornalista. Nesse contexto, elas nem permitem que os diplomatas russos se aproximem de Vishinsky, argumentando isso com o fato de o jornalista ter cidadania tanto russa quanto ucraniana. Porém, a última já parece ser algo de que o preso tenciona abdicar, segundo aludiu durante a última audiência.

Reação da comunidade internacional

Ao mesmo tempo, a preocupação em relação ao caso é manifestada pelos jornalistas e ativistas não só russos, mas de todo o mundo. Até se ouviu a voz da organização europeia OSCE, que se mostrou muito alarmada com as atividades de Kiev, que atrapalha o trabalho pacífico de jornalistas, bem como da organização Repórteres sem Fronteiras. Em alguns casos, as violações até resultam na morte de repórteres inocentes, como foi no caso de Oles Buzina e Pavel Sheremet.

Representante oficial da chancelaria russa, Maria Zakharova, durante a entrevista coletiva em Moscou, Rússia, 15 de setembro de 2016 - Sputnik Brasil
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Em uma conversa à Sputnik Mundo nas vésperas dos 100 dias de detenção de Vyshinsky, o chefe da Organização de Jornalistas Ibero-Americanos, Álvaro Martínez, destaca que seu colega foi aprisionado "sem qualquer motivo", pois "não chegou a receber nenhuma imputação de culpa concreta".

"É uma situação muito controversa que prejudica tanto ele quanto sua família. Ao mesmo tempo, trata-se de uma violação dos direitos humanos", disse.

"Nós, representantes da Organização de Jornalistas Ibero-Americanos, apelamos para o bom senso, pedimos ao presidente ucraniano, Pyotr Poroshenko, para defender [Vyshinsky] e conceder a liberdade ao nosso colega detido, permitir que ele volte para a família e suas honradas obrigações — as de jornalista", acrescentou Martínez.

Ainda de acordo com o entrevistado, grandes filósofos "como Platão, Sócrates, Aristóteles", ou seja, os "pais da democracia", nunca chegaram a definir o que é que se chama de liberdade.

"E as autoridades ucranianas não podem saber esta verdade", resumiu.

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Martínez sublinhou que, caso as autoridades ucranianas não cheguem a libertar Vyshinsky, sua entidade planeja enviar uma carta pessoalmente para o presidente do país, Pyotr Poroshenko, encaminhando uma cópia para entidades que se ocupam da proteção dos direitos humanos.

A editora-chefe do RT e da Sputnik, Margarita Simonyan, também se expressou sobre o tema.

"Temos questões. Para a Ucrânia. Vocês realmente acreditam que quanto mais jornalistas têm em suas prisões, mais perto estará o luminoso futuro europeu? [Pergunta] para a Europa. Vocês não estão a par, vocês esqueceram, vocês não repararam, vocês foram proibidos de reparar ou passaram a acreditar a partir de agora que fabricar um processo sobre alta traição em referência ao trabalho jornalístico é uma coisa ordinária?", manifestou ela.

Já em uma entrevista à Sputnik França, Ricardo Gutiérrez, secretário-geral da Federação Europeia de Jornalistas, partilhou que sua entidade condenou publicamente a detenção de Kirill Vyshynsky em Kiev no próprio dia de 15 de maio, publicando um comunicado em uma plataforma especial do Conselho da Europa.

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"Em uma resposta, publicada nessa plataforma em 12 de julho, o governo ucraniano tenta justificar a detenção. Mas eles estão apresentando uma série de fatos que formam apenas parte dos deveres profissionais do jornalista Vyshinsky e seus colegas. Eles são acusados de terem escrito sobre o referendo na Crimeia. Mas isto faz parte do trabalho de qualquer jornalista com respeito por si mesmo. Pela resposta se pode ver que o trabalho de Vyshinsky não era confortável para as autoridades ucranianas, e por isso elas decidiram acusá-lo de alta traição e detê-lo", disse.

Ainda de acordo com ele, o caso de Vyshinsky se integra "na agenda do dia de hoje" e reflete um "caso oficialmente registrado de violação dos direitos dos jornalistas".

"Até que a situação seja resolvida, o país violador é condenado por toda a comunidade internacional", concluiu.

A detenção de Vyshinsky foi prorrogada até 8 de setembro. Entretanto, é difícil prognosticar sua libertação, especialmente tomando em consideração as próximas eleições presidenciais na Ucrânia, nas quais Poroshenko provavelmente usará a retórica sobre alegados inimigos externos para ganhar mais pontos.

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