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Brasil sofre por tabela na guerra das sanções dos EUA contra o Irã

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As sanções impostas pelo Governo dos Estados Unidos ao Irã devem afetar diretamente o comércio de empresas brasileiras com aquele país do Oriente Médio, principalmente as ligadas ao agronegócio, que, segundo estimativas, representam 90% das exportações do Brasil para o Irã.

Esta é a avaliação de Pedro Netto, assessor de Relações Internacionais da CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Com as sanções, o Brasil vai ter dificuldade para conseguir o financiamento das exportações nos embarques para o Irã”, diz o analista. “O relacionamento bancário fica dificultado, e sem ele o exportador brasileiro tem mais dificuldade para receber pelo produto que está vendendo. Então, com essas novas sanções é esperado que o nosso comércio deva diminuir consideravelmente.”

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No último ano, segundo dados do Ministério da Agricultura, as exportações do setor para o Irã chegaram a US$ 2,3 bilhões, após alta constante nos últimos anos, sobretudo após a assinatura do acordo nuclear em 2015, do qual os Estados Unidos se retiraram em maio.

A saída para os exportadores brasileiros conseguirem driblar o bloqueio norte-americano pode ser a Europa. Segundo Pedro Netto, esse era o caminho buscado pelos empresários, já que, mesmo após a assinatura do acordo, o comércio ainda era restringido devido a termos contratuais de bancos brasileiros com bancos norte-americanos.

“A maior parte dos bancos brasileiros não aceitava financiar diretamente o comércio com o Irã, porque eles tinham acordo com os Estados Unidos, que, por mais que tivessem reduzido as sanções, ainda consideravam o país envolvido em atividades das quais o Governo norte-americano discordava”, explica o analista da CNA.

O caminho para finalizar as transações encontrado pelos exportadores brasileiros foi, principalmente, o sistema bancário europeu, além de bancos do Oriente Médio.

Se o presidente norte-americano Donald Trump não ceder, essa será uma opção que os empresários terão de fazer. Na última semana, Trump já impôs ao comércio mundial uma escolha entre Irã e Estados Unidos usando o seu habitual Twitter.

“As sanções contra o Irã foram oficialmente lançadas. Elas são as mais duras sanções já impostas, e em novembro serão levadas a outro nível”, enfatizou Trump na rede social. “Qualquer um que mantiver negócios com o Irã não fará negócios com os Estados Unidos. Eu estou pedindo a paz mundial, nada menos!”, escreveu.

​A escolha será difícil para o agronegócio brasileiro, que teve no Irã o sexto maior destino para suas exportações no último ano, atrás de China, União Europeia, Estados Unidos, Japão e Hong Kong. Apesar da importância daquele país, porém, em uma comparação direta com os Estados Unidos ainda há uma grande disparidade. Enquanto o Irã foi responsável pela exportação de US$ 2,3 bilhões em 2017, o mercado norte-americano respondeu por US$ 6,7 bilhões das exportações do setor do agronegócio.

Para Pedro Netto, se os países da União Europeia conseguirem manter uma relação estável com o Irã, o impacto ao Brasil tende a ser menor.

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“O maior beneficiário em termos comerciais do acordo nuclear com o Irã não foi o Brasil, mas sim a União Europeia. Tanto que vieram da Europa os maiores questionamentos ao fim desse acordo por parte dos Estados Unidos. Se a União Europeia conseguir organizar uma forma de se defender dessas sanções dos Estados Unidos, os impactos ao Brasil tendem a ser menores. Isso é algo muito maior que a relação entre Brasil e Irã e envolve muitos fatores, principalmente a União Europeia”, ressalta o analista.

Apesar do posicionamento dos países europeus, na avaliação do representante da CNA, no entanto, o produtor rural brasileiro será penalizado.

“O Brasil reduziu um pouco as exportações para o Irã neste primeiro semestre, mas aquele país ainda foi um grande parceiro. Com certeza, a redução desse comércio será muito prejudicial ao produtor rural que exporta para lá”, enfatiza Pedro Netto.

A decisão do Governo norte-americano trouxe apreensão para o mercado brasileiro, que se preparava para expandir os laços comerciais com aquele país do Oriente Médio. Em março deste ano, durante o Seminário de Relações Econômicas e Comerciais Brasil-Irã, a Confederação Nacional da Indústria chegou a propor um acordo de livre comércio entre o Mercosul e o Irã.

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“A CNI considera que, neste momento, devemos priorizar a agenda econômica, de comércio exterior e de investimentos com o Irã. E o início das negociações para a celebração de um acordo comercial entre o Mercosul e o Irã é um dos temas mais importantes”, declarou, na época, o vice-presidente da Confederação, Paulo Tigre.

O acordo não foi adiante. A Sputnik Brasil questionou a CNI sobre como essa decisão norte-americana afeta a indústria brasileira, mas a instituição informou que ainda está analisando o impacto das sanções.

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