Arma do apocalipse: como URSS testou sua 1ª bomba de hidrogênio (VÍDEO, FOTOS)

© AP Photo / Laboratório Nacional de Los AlamosNuvem em forma de cogumelo que surgiu após os testes da arma Ivy Mike sobre o Pacífico, 1º de novembro de 1952
Nuvem em forma de cogumelo que surgiu após os testes da arma Ivy Mike sobre o Pacífico, 1º de novembro de 1952 - Sputnik Brasil
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No dia 12 de agosto de 1953 foi realizado o primeiro teste de uma bomba de hidrogênio na URSS, no campo de testes de Semipalatinsk, atual Cazaquistão. O analista da Sputnik Nikolai Protopopov comentou como pessoas sobreviveram aos 40 anos de testes de armas nucleares no maior polígono do mundo.

Eliminar da face da Terra

Os primeiros testes na União Soviética foram realizados em Semipalatinsk com a bomba de hidrogênio RDS-6s, mais especificamente a 60 quilômetros de povoados. No entanto, a brilhante bola de fogo de explosão colossal foi vista a 100 quilômetros e o ruído ensurdecedor foi ouvido em áreas ainda mais distantes.

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Para avaliar o efeito destruidor da nova bomba, foi construída uma cidade artificial com edifícios industriais e administrativos no polígono Semipalatinsk. No total, foram construídos quase 200 edifícios em campo aberto, aponta Protopopov.

A RDS-6s foi detonada na superfície da terra. A carga foi fixa a uma torre de aço de 40 metros. O sinal para detonação foi soado às 7h30 de 12 de agosto. A nuvem de cogumelo alcançou um quilometro de diâmetro e no epicentro da explosão se formou um funil de oito metros de profundidade com um diâmetro de 40 metros. A maioria dos edifícios e estruturas dentro de um raio de quatro quilômetros foi destruída por uma onda de choque e a contaminação radioativa pôs fim ao uso posterior dos edifícios que restaram.

© Sputnik / A. Solomonov / Acessar o banco de imagensEquipamento para provas nucleares no campo de provas de Semipalatinsk
Equipamento para provas nucleares no campo de provas de Semipalatinsk - Sputnik Brasil
Equipamento para provas nucleares no campo de provas de Semipalatinsk

Foram realizadas mais de 200 explosões nucleares aéreas e terrestres no campo de testes de Semipalatinsk. Os testes continuaram até 1963, quando entrou em vigor o Tratado sobre proibição parcial de testes nucleares na atmosfera, no espaço exterior e sob as águas, passando a ser explodidas apenas debaixo da terra.

O campo de testes, localizado a 130 quilômetros do centro regional, cidade de Semipalatisnk, que mais tarde passou a ser chamado Kurchatov em homenagem ao físico soviético e pai da bomba atômica, Igor Kurchatov, era um enorme território de quase 20 mil quilômetros quadrados. Na cidade, que não estava marcada em nenhum mapa, viviam cientistas e militares.

O triunfo da ciência

Os testes das armas nucleares perto de Semipalatinsk começaram em 1949. A primeira carga de RDS-1 foi de potência relativamente baixa: 22 quilotons. No entanto, o êxito de cientistas nucleares soviéticos quebrou o monopólio norte-americano de armas nucleares. Nos anos seguintes, a URSS desenvolveu bombas muito mais potentes: termonucleares e de hidrogênio. Em agosto de 1953, cientistas sob a liderança de Andrei Sakharov criaram o "artigo RDS-6s".

© Foto / All-Russian Scientific Research Institute of Experimental PhysicsMaquete da primeira bomba atômica soviética RDS-1
Maquete da primeira bomba atômica soviética RDS-1 - Sputnik Brasil
Maquete da primeira bomba atômica soviética RDS-1

Os Estados Unidos são considerados o país pioneiro na criação de armas termonucleares. O poder da explosão que teve lugar em 1º de novembro de 1952 no atol de Enewetak, no oceano Pacífico, foi superior a 10 megatons, o que na época era um recorde absoluto.

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Porém, o que fizeram explodir os norte-americanos não foi exatamente uma bomba. O dispositivo Ivy Mike pesava umas 60 toneladas e tinha umas dezenas de metros de altura. Os engenheiros nucleares soviéticos criaram uma carga menos potente, de "apenas" 400 quilotons, mas compacta o suficiente, feita em forma de uma munição transportável que pesava sete toneladas e foi colocada no compartimento de bombas do Tu-16.

A criação e os testes bem-sucedidos da bomba de hidrogênio não apenas deram a Moscou uma vantagem contra Washington, mas também contribuíram para o rápido desenvolvimento do setor espacial russo.

Testemunhas involuntárias

O campo de testes de Semipalatinsk funcionou até 1991 e durante este período foram levados a cabo cerca de 470 explosões nucleares. Embora tenham tentado esconder os testes, residentes de Semipalatinsk e povoações circundantes sentiram plenamente as consequências das explosões.

"Toda explosão era como se fosse um pequeno terremoto […] Às vezes, havia explosões tão fortes que vidros saíam das janelas […] Não víamos as explosões, pois eram subterrâneas. Mas, minha mãe, por exemplo, várias vezes viu a nuvem de cogumelo nuclear, quando os testes ainda eram realizados na superfície da terra. As pessoas achavam interessante ver esta ação maravilhosa, mas assustadora", lembra Anna Kondazhenko, que viveu a maior parte da vida em Semipalatinsk.

Segundo a vizinhança, nas povoações próximas ao local dos testes nasciam crianças com deficiências físicas e vacas e ovelhas com duas cabeças.

Após o fechamento do polígono, as autoridades prometeram indenizar os residentes pelas consequências dos testes, mas com o colapso da URSS o programa fracassou, concluiu Protopopov.

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