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Altos e baixos: o que atrapalha reabertura do mercado russo para carne brasileira?

© Sputnik / Aleksandr Kryazhev / Acessar o banco de imagensCarne vendida em um supermercado de Novossibirsk, na Rússia (foto de arquivo)
Carne vendida em um supermercado de Novossibirsk, na Rússia (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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A dinâmica do comércio bilateral russo-brasileiro parece estar passando hoje em dia tanto por subidas como por quedas em diferentes áreas. Pelo menos foi essa a impressão que dá a conversa da Sputnik Brasil com Yulia Melano, porta-voz do Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia, Rosselkhoznadzor.

Na sequência de várias notícias positivas em relação às trocas comerciais entre a Rússia e o Brasil, que se espera serem consideradas como um novo fôlego no relacionamento entre as duas economias, falamos com a representante oficial do Rosselkhoznadzor, a entidade russa responsável pela maior parte das negociações, inclusive quanto ao comércio de trigo e carne.

Êxitos no comércio de trigo

Particularmente, o início da semana foi marcado por uma notícia importantíssima — isto é, o descarregamento do primeiro lote de trigo russo no porto de Fortaleza. Ao discutir o respectivo evento com a Sputnik Brasil, a representante oficial da instituição russa explicou o porquê do atraso tão grande nas negociações que o antecederam.

"O principal problema consistiu em que por muito tempo não conseguimos acordar certas questões técnicas com nossos colegas. Foi por isso, de fato, que esse assunto demorou bastante. Mas, de qualquer modo, conseguimos acordar as condições necessárias para as exportações", falou Yulia Melano, se referindo à primeira entrega de trigo russo para o Brasil, efetuada em 26 de julho no volume de 26,2 mil toneladas.

"E nós recebemos uma resposta da parte brasileira que o lote não simplesmente chegou, mas também passou por todas as inspeções necessárias, bem como pelas pesquisas laboratoriais", disse a porta-voz com ar positivo.

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"Para a gente, isso é um momento-chave, esperamos com continuar a cooperação com nossos colegas brasileiros e vamos esperar que, da parte deles, não haja nenhuma objeção quanto a isso", acrescentou.

Embora de fato a Instrução Normativa nº 15, publicada em 18 de abril de 2018, tenha culminado um processo difícil de negociações entre as duas partes, que durou desde 2009, a porta-voz sublinhou para a Sputnik Brasil que a fase ativa dessas conversas, nomeadamente, começou há bem pouco.

"As negociações ativas se realizaram ao longo dos últimos três anos, quando começamos a receber os pedidos dos produtores agrícolas russos que manifestavam sua vontade de exportar sua produção de grãos para o Brasil. Dizendo a verdade, se intensificou nestes últimos três anos, anteriormente estava em uma condição bem dormente", informou.

Quanto à possível concorrência com Argentina no mercado brasileiro de trigo, Yulia Melano destacou que que a Rússia "não se considera um grande concorrente nesse sentido", pois vários fatores, inclusive os custos de transporte, o preço e a presença de outros produtores nessa macrorregião, fazem com que as respectivas exportações não sejam vantajosas para todas as empresas russas nesse campo.

"Porém, a despeito disso, o fato de nós ganharmos essa oportunidade é, certamente, um grande passo em frente", resumiu a representante.

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Mais uma notícia importante nesta semana foi a declaração do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento brasileiro, Blairo Maggi, sobre o ajuste de demandas em relação à retomada das exportações da carne brasileira para o território russo, efetuada durante a cúpula dos BRICS, entre 25 e 27 de julho.

Entretanto, a porta-voz do Rosselkhoznadzor assegurou que o serviço russo ainda não chegou a tomar tal decisão.

"Sabe, não recebemos essas informações. Além disso, recentemente tivemos negociações técnicas com os nossos colegas brasileiros… E ficou evidente que, por enquanto, nem se trata do levantamento das restrições, particularmente se trata de que os nossos parceiros brasileiros devem efetuar de forma adequada uma investigação interna sobre a presença de ractopamina, detectada por nós, nos produtos entregues do Brasil", manifestou.

Em um comentário oficial para a Sputnik Brasil, a representante reconheceu que o lado brasileiro apresentou uma série de materiais, porém, eles foram considerados como "inconsistentes" pela parte russa.

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"Até que nossos colegas façam o trabalho necessário, não poderemos sair deste impasse", explicou. "De fato, aquelas respostas evasivas, não posso chamar de outro modo aqueles materiais que nossos colegas nos apresentaram, não têm nenhum conteúdo substancial no que se trata da investigação que eles formalmente tiveram e, infelizmente, não deixam claro como a ractopamina surgiu naqueles produtos", especificou a interlocutora da agência.

Em busca da visão da parte brasileira, a Sputnik contatou o adido agrícola da Embaixada do Brasil em Moscou, Cósam de Carvalho Coutinho, que nos contou mais detalhes sobre o processo de negociação que, evidentemente, está ainda em curso.

Segundo explicou, na sequência das negociações técnicas, que tiveram lugar em 24 de julho na Rússia com a participação de Alexandre Pontes, diretor da Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, a parte brasileira apresentou uma nova série de matérias (até traduzidas para o russo de antemão) para o Rosselkhoznadzor. As primeiras duas, entregues em 2 e 6 de agosto, tiveram a ver exclusivamente com a questão da ractopamina, enquanto o documento mais recente, apresentado pessoalmente pelo adido em 7 de agosto, tocou outros assuntos formais.

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Assim, as respectivas informações da parte brasileira relataram que, conta o senhor Carvalho, a contaminação, provavelmente acontecida na fase do chamado "premix" (substâncias acrescentadas à ração para enriquecimento em nutrientes), nunca foi mais detectada na produção brasileira desde a imposição da suspensão, ou seja, desde 1º de dezembro do ano passado.

"Isso é uma fatalidade", diz o adido em relação aos registros de contaminação, sublinhando que as empresas, que nesse caso foram apenas 4 do total de 16, não podem provocar a responsabilização de todo o complexo produtivo.

"Não se pode responsabilizar todo o sistema", explica o diplomata, argumentando que a maioria absoluta das empresas brasileiras que exportavam carne para a Rússia nunca foram flagradas em usar ractopamina.

Porém, a decisão final sobre que empresas (somente as "limpas" ou incluindo as "culpadas") serão capazes de voltar a vender sua carne para o mercado russo, claro, cabe ao Rosselkhoznadzor.

"Não podemos nos meter nisso. O lado brasileiro não está indicando que empresas devem se abrir e quais não", assinala.

Evidentemente, as informações mais recentes apresentadas pelo lado brasileiro ainda não chegaram a ser analisados pelos serviços russos. Com os novos dados, e o convite formal de visita para laboratórios e empresas brasileiras aos inspetores do Rosselkhoznadzor, se espera que a negociação finalmente consiga um avanço.

"Temos que cooperar de forma proativa, não reativa", resume o adido.

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