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BRICS se consolidam como liderança política diante de crise comercial, dizem especialistas

© Sputnik / Aleksei NikolskyO presidente russo, Vladimir Putin, durante coletiva de imprensa em Joanesburgo, na 10ª Cúpula dos BRICS.
O presidente russo, Vladimir Putin, durante coletiva de imprensa em Joanesburgo, na 10ª Cúpula dos BRICS. - Sputnik Brasil
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A 10ª Cúpula dos BRICS ficou marcada como um momento de consolidação do grupo diante da crise comercial protagonizada pelos EUA. A sólida do grupo renovou a confiança no bloco, que deve aumentar sua influência. Para comentar o assunto, a Sputnik Brasil ouviu Paulo Wrober e Oliver Stunkel, especialistas nos BRICS.

Ao completar a 1ª década de existência, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mostrou uma solidez que ultrapassou abalos políticos internos. Com a liderança de Rússia e China, os BRICS aproveitaram a oportunidade para consolidar o grupo e projetar uma década de ainda mais integração entre os países.

Um dos temas que ficou em evidência e abriu espaço para essa investida do bloco foi a atual guerra comercial promovida pelo governo de Donald Trump. Os EUA têm protagonizado uma volta ao protecionismo comercial, comprando brigados com aliados como a União Europeia e também a China, abrindo espaço para uma reconfiguração do poder mundial.

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"Essa cúpula acontecer no meio de uma situação de política sem precedentes na qual o G7 está no meio de crise e na qual o BRICS encara também um vácuo de poder em função disso, para mim, mais do que os acordos, o que foi o importante foi o aspecto do compromisso com a globalização, com o livre comércio, com as instituições, o que de fato representa o grande contraponto à crise que nesse momento surge nos Estados Unidos", aponta Oliver Stuenkel pesquisador de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Para ele, também é importante ressaltar que a reunião também teve aspectos positivos para o Brasil. Stuenkel acredita que ponto mais alto do país durante o encontro foi o acordo firmado pelo bloco para a abertura de um escritório em São Paulo do Novo Banco do Desenvolvimento (NBD), o Banco dos BRICS.

"Isso é importante em função da baixa visibilidade que essa instituição continua tendo no Brasil. Acho que isso traz um pouco de concretude, de tangibilidade a uma coisa que para muita gente continua sendo um pouco abstrato", ressalta Oliver Stuenkel.

A abertura sinaliza mais oportunidades para os brasileiros, além de ampliar a possibilidade de atuação de profissionais do país no Banco. Oliver ressalta que é comum que seus alunos busquem entrar nas instituições consolidadas do poder financeiro mundial, como o FMI e o Banco Mundial. Com a presença do Banco dos BRICS no Brasil, esse quadro poderia se alterar, alargando os horizonte da diplomacia brasileira dentro do mercado financeiro mundial.

O pesquisador, no entanto, reconhece que o Brasil encolheu-se enquanto ator mundial desde a entrada de Michel Temer e também devido às crises política e econômica que encobrem o país. Porém, é esperançoso no sentido de que a consolidação e o avanço dos BRICS estejam criando um horizonte de atuação mundial que um possível novo governo possa explorar.

"O Brasil passou por um momento complicado, com poucos chefes de Estado visitando o Brasil, e o Temer participou de três cúpulas. Então nesse sentido foi importante para que o presidente pudesse participar das conversas internacionais. Agora, [foi um governo] fraco, de curta duração e em função disso com pouco destaque internacional. A minha esperança é que isso possa mudar depois da próxima eleição", aponta o pesquisador da FGV.

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Já Paulo Wrobel, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), destaca que os acordos estabelecidos pelo grupo durante a 10ª cúpula tocam em assuntos caros à política internacional, tanto na questão comercial, quanto nas questões de desenvolvimento tecnológico e da segurança. Com tais ações, os países estariam se empenhando em aumentar a projeção do bloco.

"Há toda uma tentativa de criar, sob um ponto de vista mais abstrato possível, que formem uma agência comum entre esses cinco países, que faz com a organização, os BRICS, se torne um ator relevante no cenário internacional. Esse talvez seja o objetivo último", afirma Wrobel.

O professor também destaca que o marco de uma década de integração do bloco é algo que exige arranjos complexos, devido às distâncias culturais e especificidades de cada um dos países. Com isso, é louvável a forma como o grupo se mantém até hoje com destaque internacional e coerência interna.

"Às vezes há uma certa ilusão em torno do que o BRICS pode vir a ser. É muito difícil, porque são 5 países de extrema complexidade, cada um com sua própria agenda, é claro. Mas essa aproximação desses últimos 10 anos, eu acho que é uma grande conquista", aponta.

Com o sucesso do grupo, especula-se a possível adesão de novos países, como a Indonésia, o Paquistão, o Egito, a Jamaica até a Argentina. Sobre a possibilidade de uma possível ampliação, no entanto, tanto Oliver Stuenkel quanto Paulo Wrobel são cautelosos, afirmando que essa ainda é uma possibilidade remota, porém com o precedente da adesão da África do Sul ao grupo.

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