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Com Brasil figurante, BRICS lucram com guerra comercial de Trump, diz analista

© REUTERS / Tyrone SiuPresidente russo, Vladimir Putin, atende à plenária dos BRICS em Xiamen, na China, em 2017.
Presidente russo, Vladimir Putin, atende à plenária dos BRICS em Xiamen, na China, em 2017. - Sputnik Brasil
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Sob o espectro das políticas protecionistas de Donald Trump, a 10ª cúpula dos BRICS está reunida em Joanesburgo, na África do Sul, discutindo temas como a cooperação tecnológica na 4ª Revolução Industrial. A Sputnik Brasil ouviu o pesquisador em Relações Internacionais Charles Pennaforte, que acredita que Brasil perdeu espaço no cenário global.

A 10ª cúpula dos BRICS acontece em um momento de dúvidas na geopolítica mundial. Após lançar a nova estratégia de segurança dos EUA, Donald Trump incendiou com protecionismo as relações comerciais nas quais o mundo estava assentado, movendo o eixo de poder mundial que os BRICS já vinham alterando. No entanto, mesmo o próprio bloco tem sofrido abalos com disputas políticas em países como o Brasil e a África do Sul, além de atritos com Índia em relação à Nova Rota da Seda chinesa. Com isso, tem ficado à cargo de Rússia e China o rumo em direção a um novo desenho do poder mundial.

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O termo BRICS surgiu pela primeira vez em 2001 através de um documento do banco Goldman Sachs assinado por Jim O'Neill.

No documento, o tamanho das economias de Brasil, China, Índia e Rússia, à época, 8% do PIB global, eram vistos com espanto, fazendo um chamado à reorganização dos fóruns de poder mundiais. De lá para cá, o crescimento dessas economias superou as expectativas, assim como seu peso político.

Desde 2009, o grupo incorporou a África do Sul, aumentando sua influência. Em 2012, o BRICS desafiou o sistema de poder global estabelecido pelo sistema Bretton Woods, liderado pelos EUA e União Europeia e colocou no mundo o Novo Banco do Desenvolvimento, uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial.

Para explicar o momento atual da organização que se reúne nesta quarta-feira (25) e também na quinta-feira (26) em Joanesburgo, na África do Sul, a Sputnik Brasil entrevistou o especialista em Relações Internacionais da Universidade Federal de Pelotas, Charles Pennaforte.

Brasil de Temer chegou "ao ponto zero" no cenário internacional

O Brasil foi um dos principais atores no surgimento do BRICS. À época, o Itamaraty de Celso Amorim foi uma das lideranças que ajudaram a agrupas os 5 países em torno do BRICS. Porém, a crise política e econômica empurraram o país ladeira abaixo no cenário internacional, desmanchando a projeção internacional alcançada até então, como afirma o Pennaforte.

"No caso específico do Brasil, infelizmente essa crise política que se arrasta há mais de 3 anos praticamente, realmente enfraqueceu a posição do Brasil não só dentro do agrupamento dos BRICS, mas como também no cenário internacional. Então sob o ponto de vista de importância, o governo Temer levou o Brasil praticamente ao ponto zero", aponta Charles Pennaforte

O especialista ainda lamenta o fato de que o país gera um vácuo dentro do BRICS, apontando que a estagnação na projeção internacional brasileira durante o governo de Michel Temer.

"O Brasil poderia com seu softpower ter uma projeção bem maior sobre as áreas que a China não tem uma grande influência, mas infelizmente estamos estagnados no momento", ressalta.

Protecionismo dos EUA aumenta influência dos BRICS

Ao longo de 2018, o protecionismo comercial tem dado o tom da política internacional norte-americana. A partir de março, Donald Trump aportou tarifas sobre produtos como o aço e o alumínio e não poupou nem seus principais aliados. Levantando preocupações e suspeitas em todo o mundo, o movimento de Trump pode abrir espaço para que os BRICS ajudem a reorganizar o comércio mundial.

Para o pesquisador Charles Pennaforte, a tendência é que o isolamento dos EUA cresça, e com isso os outros atores do comércio internacional passem a se reorganizar politicamente.

"Sem dúvida nenhuma isso é importante para o aumento da influência dos BRICS sob o ponto de vista do comércio mundial. Na verdade o que o Trump faz é colocar uma perspectiva nua e crua do que é o grande comércio internacional. O comércio internacional é feito para as velhas potências", afirma.

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Com isso, acredita ele, os BRICS se tornam um polo em torno do qual podem gravitar os países que buscam uma alternativa ao esquema internacional regido pelos EUA.

"Do ponto de vista prático, o Trump carece de fundamentos mínimos da economia. Grande parte da produção americana fica fora, fica na China, fica em outros lugares do mundo. Então ao iniciar uma guerra comercial, uma retaliação sob o ponto de vista de tarifas, fatalmente isso vai impactar sobre a própria indústria norte-americana no médio prazo. É uma coisa sem sentido", aponta o especialista.

Pennaforte afirma que o lado positivo é que o tumulto protecionista deve empurrar o mundo na direção de um rearranjo das forças políticas, buscando alternativas. Para o especialista, os BRICS terão a direção de dois principais países nesse momento de aumento de influência:

"Sob o governo Putin, nos últimos anos, geopoliticamente a Rússia renasceu. Ela [fez] uma reforma de seu arsenal, tal como a China também o fez. Acredito que os dois países vão ficar na ponta puxando essa alternância, essa mudança de status no cenário internacional", conclui.

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