Encontro entre Putin e Trump deve ser a maior preocupação do mundo ocidental?

© AFP 2023 / Odd Andersen, Jim WatsonO Presidente da Federação da Rússia Vladimir Putin e seu homólogo dos EUA Donald Trump
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Em 16 de julho, a capital finlandesa sediará uma longamente esperada reunião bilateral entre os líderes russo e estadunidense, que decorrerá em meio à tensão contínua entre o país eslavo e as potências ocidentais. A Sputnik explica por que Trump enfrenta tanta crítica em relação a isso e que temas serão abordados no encontro.

Esta não será a primeira vez em que os dois políticos vão falar face a face — já aconteceu duas vezes no ano passado. Porém, não se tratou de negociações verdadeiras, mas meramente de conversas rápidas nas margens de eventos internacionais de que os dois líderes estavam participando, o que se costuma chamar na diplomacia de "conversas em pé".

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O primeiro encontro aconteceu quase um ano após a eleição de Donald Trump nas presidenciais estadunidenses de 2016. Foi uma reunião muito esperada, especialmente no contexto das então decorrentes investigações norte-americanas em relação aos "laços russos" do mandatário republicano e seus elogios feitos a Putin no decorrer da campanha eleitoral.

A reunião aconteceu um pouco mais de um ano atrás, em 7 de julho, durante a cúpula do G20, ou seja, das vinte maiores economias do mundo, na cidade de Hamburgo. A primeira negociação entre os dois "líderes pragmáticos", que se prolongou por mais de duas horas em vez da meia hora agendada, provocou sensação na mídia, tendo as fotos dos políticos dando seu primeiro aperto de mão circulado por todo o mundo.

Mesmo tomando em conta que os dois presidentes estavam bem ocupados com suas agendas lotadas, eles conseguiram fazer um avanço significativo no diálogo, que havia estado paralisado por muito tempo até aquele momento, inclusive a respeito do regime de cessar-fogo em várias regiões da Síria. Desse jeito, muitos especialistas e jornalistas, inclusive aqueles que estavam presentes no evento, concluíram que Trump e Putin conseguiram encontrar uma "linguagem comum" muito rápido.

A segunda reunião aconteceu alguns meses depois, durante a sessão de fotos na cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em 11 de novembro, porém, mal pode ser caracterizada como um verdadeiro encontro bilateral. De fato, os líderes apenas trocaram algumas frases e acabaram partindo sem falar cara a cara, o que, a propósito, tinha sido esperado e repercutido na mídia nas vésperas da cúpula.

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Desta vez, os políticos vão se juntar para uma cúpula de larga envergadura, que muitos comparam com a que houve entre Kim e Trump em 12 de junho, além de traçar paralelos históricos com as negociações entre o então líder da URSS, Mikhail Gorbachev, e seu homólogo estadunidense, Ronald Reagan, em 1986. E há pelos menos duas semelhanças evidentes: o ambiente, parecido com o da Guerra Fria que se travava na época, e o local, sendo este a cidade de Helsinque, capital de um país tradicionalmente considerado como neutro.

Indignação do establishment estadunidense

Enquanto a elite política russa prefere se expressar de modo bem cauteloso sobre o próximo evento, avisando que este não servirá para "ultimatos", mas para um diálogo em pé de igualdade, a maioria da classe política estadunidense, até da própria administração, manifesta toda a gama negativa de emoções, desde pânico evidente até acusações duras contra seu presidente.

É verdade que para Trump o melhoramento das relações com Moscou tem sido uma das questões mais dolorosas na política externa, não por mera ausência de desejo, mas, em primeiro lugar, devido a investigações incessantes relacionadas com o ciclo eleitoral de 2016, que muitos consideram ter sido solapado por uma "intervenção de hackers russos".
Nessa situação, o presidente estadunidense de fato foi colocado em uma armadilha, não podendo avançar sem que o acusem de alguma "ligação especial" com o Kremlin.

Desse modo, os dois líderes passaram quase dois anos sem se encontrarem em um ambiente de negociação adequado, contudo, mantendo um contato através de telefone em torno de várias questões, inclusive a síria.

Afinal das contas, quando um encontro bilateral foi anunciado na mídia internacional, a reação do establishment e da mídia estadunidenses não demoraram. Há numerosos relatos de que Trump, de fato, promoveu este encontro a despeito de numerosos protestos, tanto por parte de parlamentares norte-americanos, quanto dos próprios membros do seu gabinete.

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A situação fica ainda agravada pelo fato do encontro acontecer logo após a cimeira dos países-membros da OTAN. Trump é conhecido por suas declarações duras quanto ao funcionamento deste bloco, nomeadamente na área de contribuições financeiras, e como se fosse pouco, ainda planeja se reunir com o principal "agressor" da Aliança Atlântica.

Claro que isso é visto como uma ameaça séria pela OTAN, que parece ter montado toda sua estratégia das últimas décadas na "salvação" da Europa dos russos.

Somando isto às declarações de Trump nas vésperas da cúpula, inclusive sobre o possível reconhecimento da Crimeia por Washington, o que contradiz completamente a postura tomada pelo mundo ocidental em relação a Moscou.

Pauta de negociação

De acordo com os pouco numerosos depoimentos feitos por altos funcionários das duas partes, o leque de temas que serão discutidos em 16 de julho em Helsinque será mais que vasto. Assim, deverá incluir assuntos internacionais, particularmente os conflitos sírio e ucraniano, vários aspetos das relações bilaterais e, segundo assegurou o chanceler russo Sergei Lavrov, "todos os assuntos que os presidentes acharem necessário".

De acordo com especialistas, as sanções podem ser um dos focos das negociações entre Trump e Putin, sendo que o primeiro por várias vezes expressou a esperança de um dia acabar com as medidas restritivas contra Moscou e começar um diálogo aberto. De fato, uma estratégia semelhante foi escolhida no processo de conversações com a Coreia do Norte, só que no caso da Rússia, esta dificilmente fará algum tipo de concessões por ser uma potência de dimensão completamente diferente.

Evidentemente, a Síria não escapará à atenção dos dois mandatários, tomando em conta que a guerra no país está em sua fase final e logo será seguida por um período de recuperação. Nesse âmbito, surgem aspetos importantes de regulação pós-guerra e de reorganização da vida do povo sírio em um panorama completamente renovado.

Além disso, há prognósticos de que os líderes dediquem um tempo especial às questões de caráter estratégico, incluindo a provável celebração de novos acordos para substituir o Tratado de Redução de Armas Estratégicas, que provou sua ineficiência, e o futuro do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em 1987.

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