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Afinal, guerra comercial entre EUA e China será boa ou ruim para o Brasil?

© AP Photo / EyePressMoedas e notas de yuan chinês em torno de um dólar norte-americano
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Entram em vigor nesta sexta-feira, 6, as sobretaxas norte-americanas sobre centenas de produtos chineses e as retaliações da China sobre mercadorias americanas, medidas protecionistas desencadeadas pela decisão dos EUA de rever suas práticas comerciais. Mas que efeitos essa guerra comercial entre potências pode ter para a economia brasileira?

Recentemente, em declarações à imprensa, o ministro brasileiro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, demonstrou grande preocupação com as possíveis consequências dessas disputas entre Washington e Pequim no comércio, sobretudo para o agronegócio brasileiro. Segundo ele, tal escalada só atrapalharia o Brasil, elevando os custos da soja e impactando negativamente o setor de carnes. 

"E vamos perder esses mercados (de carnes) para os americanos ou qualquer um outro lá fora. Perdemos competitividade na área de proteína animal. Quando vamos recuperar isto? Quando os EUA e a China sentarem e resolverem…", disse ele, citado pela Reuters.

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No início deste mês, a Folha de S.Paulo divulgou um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrando que o Brasil poderia lucrar até R$ 28,5 bilhões com essa guerra comercial entre as maiores potências do mundo, aumentando a exportação para esses países ou até exportando produtos que hoje não exporta para eles. 

As sobretaxas anunciadas por Washington e Pequim são de 25% e afetam 818 produtos chineses e 545 produtos americanos. A ideia da CNI é no sentido de que Brasília poderia se aproveitar disso para suprir a demanda por parte desses itens que deixariam de ser importados — ou seriam importados em menor quantidade — devido aos custos elevados. 

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista em geografia econômica e BRICS Diego Pautasso, professor do Colégio Militar de Porto Alegre, disse que o fato de essa tensão envolver os dois maiores motores da economia mundial não deixa dúvidas de que essa guerra comercial terá efeitos significativos em todo o mundo, beneficiando alguns países, como o Brasil, em um ou outro setor, abrindo mercados, mas também prejudicando em outros, devido a triangularidades do comércio. 

"Determinados insumos que vão para o mercado americano para depois irem para a China podem sofrer prejuízos, enquanto outros podem se beneficiar dessa guerra comercial", afirmou.

Segundo Pautasso, a diversificação do Brasil tanto em termos de produtos quanto — e principalmente — de parceiros deixa o país numa posição de menor vulnerabilidade do que outras nações em meio a mudanças de cenário como essa. 

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"É por isso que quem trabalha com política externa e política comercial sempre coloca em destaque a importância de ter uma diversificação da pauta de exportações tanto em termo de produtos quanto em termo de parceiros. O maior parceiro comercial do Brasil é a China e o segundo maior é os Estados Unidos, depois vem a Argentina. Nenhum deles passa muito de 15 ou 16% do nosso comércio exterior. Então, o Brasil tende a não ser tão afetado quanto é o caso de um país onde o vínculo comercial é muito estreito. No caso do México com os Estados Unidos, quase 80% da corrente comercial mexicana é com os EUA. A capacidade de retaliação, a capacidade de sofrer impacto com uma crise, como teve em 2007 e 2008, a crise do subprime, é muito maior", explicou. "Então, o que o Brasil tem que fazer hoje e sempre é fortalecer e diversificar o seu mercado externo tanto em produto quanto em destinos. Porque isso permite recolocar com maior facilidade produtos que estão sendo retaliados no mercado em outros mercados. E, daí, a importância também de um comércio forte no âmbito Sul-Sul, com a África, com a América Latina e com outros países da Ásia", acrescentou. 

O especialista lembra que, obviamente, as oportunidades que se apresentam para o Brasil nesse momento também podem ser aproveitadas por outros países, aumentando a competitividade entre eles. 

"O caso, por exemplo, da guerra comercial entre Europa e Rússia, das sanções à Rússia depois respondidas por Moscou, abriu oportunidades aqui para a América Latina para vender, fornecer produtos que até então eram fornecidos pelo mercado europeu. Só como um exemplo. Mas cada caso é um caso, cada cadeia produtiva tende a sofrer impactos distintos, alguns positivos e outros negativos. Difícil analisar a priori isso."

Em relação ao pessimismo do ministro Blairo Maggi sobre os efeitos dessas sobretaxações de EUA e China para o agronegócio brasileiro, o professor acredita no grande poder de competitividade do setor para se recolocar mais rapidamente no mercado.

"No setor da soja ou mesmo no setor mineral, o Brasil é muito competitivo. Então, eu creio que, mesmo com as eventuais sobretaxas, o setor pode perder menos do que, eventualmente, em uma oscilação de preços típica da volatilidade das commodities."

De acordo com o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge de Lima, apesar do aumento do protecionismo no mundo, o comércio internacional mantém seu dinamismo e traz grandes oportunidades para este ano. Segundo ele, dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que a exportação de 70 países, que juntos representam 90% do comércio internacional, aumentou 13% no primeiro quadrimestre de 2018, superando o que foi registrado no ano passado, com aumento de 10,1%. No caso do Brasil, as exportações cresceram 16% nesse período. 

"Estamos acima de importantes países como Canadá, México, Colômbia, Peru, Alemanha, França, África do Sul, Austrália e Índia. Esses números reforçam que o caminho traçado por nós está correto, apesar de ainda ter muito o que ser feito para o fortalecimento de nosso setor produtivo", disse ele, citado pela assessoria do Ministério.

Já o chanceler Aloysio Nunes, indo ao encontro do que destacou Pautasso sobre diversificação, disse à imprensa na última sexta-feira que a atual conjuntura tem permitido ao Brasil andar com cautela e buscar aproximação com diferentes parceiros, que, assim como o Brasil, esperam depender cada vez menos das grandes potências. 

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