O que há por trás da 'generosidade' de Washington relativamente à Venezuela?

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O Senado dos EUA aprovou fundos de 20, 15 e 5 milhões de dólares para promover a democracia na Venezuela, Cuba e Nicarágua, respectivamente. O cientista russo Aleksandr Kharlamenko explica por que o controle sobre estes países é de muita importância para Washington.

Kharlamenko, diretor de um dos centros do Instituto da América Latina da Academia de Ciências da Rússia, recordou que as revoluções que ocorreram nestes Estados no século XX acabaram com o controle que os EUA tinham sobre estas nações.

"Está claro que estas revoluções foram percebidas como uma bofetada dada a muitos políticos em Washington que se consideravam donos não apenas do hemisfério ocidental, mas também do mundo inteiro", sublinhou o especialista em entrevista à Sputnik Mundo.

Por que Washington 'se preocupa' com a democracia na Venezuela?

O interlocutor da Sputnik opina que a Venezuela é de grande interesse econômico para os EUA, sendo um dos jogadores-chave no mercado de petróleo.

Segundo os dados publicados em um relatório da British Petroleum, nos fins de 2017 este país latino-americano contava com as maiores reservas de petróleo bruto no mundo: mais de 303,2 bilhões de barris.

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Além disso, a Venezuela é um membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os preços no mercado mundial de petróleo dependem em grande medida da posição do país.

Quanto a Cuba, é importante para os EUA em primeiro lugar devido à sua posição geográfica, pois desde os tempos de Cristóvão Colombo tem sido considerada "a chave da América", explicou o cientista russo, destacando que hoje em dia "Cuba se encontra no cruzamento das principais vias marítimas que se estendem entre a América do Norte e a América do Sul".

Falando da Nicarágua, o país, segundo Kharlamenko, poderá construir uma via alternativa ao canal do Panamá.

"Esta é a razão pela qual os EUA sempre buscaram ocupar este país — para que ninguém mais possa criar um canal alternativo ao do Panamá", opinou o cientista.

Em que Washington gastará o dinheiro aprovado?

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O analista acredita que o maior número de atividades clandestinas americanas pode ser realizado na Venezuela, pois ela tem extensas fronteiras terrestres, impossíveis de fechar.

De acordo com o cientista político, Caracas faz parte de uma grande economia transfronteiriça e os adversários das autoridades venezuelanas sempre tentaram transferir para Venezuela o narcotráfico da Colômbia.

"Este cenário costumava ocorrer nos tempos de distúrbios maciços. Atualmente, a situação está sob controle do governo venezuelano. As eleições se celebraram tranquilamente […] e este fato não deixa em paz a oposição, EUA e seus aliados", ressaltou Kharlamenko, acrescentando que o mesmo acontece na Nicarágua.

Antes, a Nicarágua era o único país sem narcotráfico e criminalidade fronteiriça, detalha o analista, mas agora há intenções de "romper esta barreira" no caminho de narcotráfico.

Precisam os países em questão da ajuda norte-americana?

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Segundo anunciaram os próprios EUA, o principal objetivo pelo qual o governo americano quer alocar tantos recursos é para "promover a democracia nestes três países".

Porém, segundo Kharlamenko, mesmo que os planos dos EUA tenham realmente este objetivo, eles contradizem a Carta da ONU, que qualifica como crime a interferência nos assuntos internos de países soberanos.

"É um assunto interno, e se os três Estados sofrem de violência ou precisam de apoio, podem sempre se dirigir à ONU ou às organizações especializadas em proteção de direitos humanos. Não há necessidade que o Senado dos EUA lhe dê sua ajuda", afirmou o especialista russo.

Falando do nível de democracia nos países latino-americanos em questão, Kharlamenko acredita que este é bastante adequado e poderia ser mais amplo "se não tivesse sido iniciada uma guerra silenciosa".
Ele também destacou que a Venezuela mantém até agora o recorde mundial quanto ao número de eleições e referendos realizados nos últimos 20 anos durante os governos de Chávez e Maduro. A Constituição venezuelana, segundo o cientista, é uma das mais democráticas do mundo.

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