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Sem apoio político e popular: Temer virou um presidente decorativo?

© REUTERS / Cesar Itibere/PRPresidente Michel Temer faz pronunciamento no Palácio do Planalto
Presidente Michel Temer faz pronunciamento no Palácio do Planalto - Sputnik Brasil
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Faltando pouco mais de seis meses para o fim de seu mandato, Michel Temer parece estar sempre nas cordas. Seja através de pressões de antigos aliados, de setores populares, do mercado e denúncias judiciais colocam o presidente a quase todo momento na defensiva. Dentro desse cenário, o que resta de governo para Michel Temer?

No poder desde agosto de 2016, após o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Michel Temer começou seu governo diferente da sua antiga companheira de chapa. Com a promessa de fazer um "choque de gestão" e botar em prática o projeto denominado pelo seu partido de "Ponte para o Futuro", Temer aprovou projetos de lei complexos a toque de caixa e com maioria esmagadora.

 Os exemplos mais emblemáticos desse período do governo Michel Temer foram o êxito na tramitação de projetos como a Reforma Trabalhista, aprovada em julho de 2017 no Senado por 50 votos favoráveis contra 26, e a chamada PEC do Teto, que congelou os investimentos em algumas áreas pelas próximas duas décadas, aprovada no Senado com 53 votos a favor e apenas 16 contrários em dezembro de 2016.

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Temer passou meses com a base de governo consolidada e apoio de alguns setores da sociedade, sobretudo da elite econômica brasileira. A Sputnik entrou em contato com alguns especialistas para saber o que mudou no cenário político brasileiro que justifique a perda de apoio político do presidente Michel Temer.

Ponto de virada

O episódio chave dessa mudança, segundo o cientista político Aldo Fornazieri, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), foi a denúncia do empresário Joesley Batista de que Temer havia atuado para comprar o silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que atualmente está preso no Complexo Médico Penal, em Pinhais (PR).

Batista gravou uma reunião que teve com o presidente Temer em um encontro secreto, fora da agenda oficial, no qual supostamente o emedebista não só tentava comprar o silêncio de Eduardo Cunha, mas também combinava a entrega de uma mala com 500 mil reais em dinheiro para o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do presidente que havia sido apresentado como um interlocutor dele com a JBS.

"O governo sofreu um impacto muito forte, tanto na base quanto na opinião pública. De lá para cá, ele caminhou para um isolamento. A intervenção militar no Rio de Janeiro foi uma tentativa de recompor uma certa credibilidade política do governo", explicou Aldo Fornazieri.

No dia do vazamento da denúncia, o jornal O Globo publicou um editorial pedindo a renúncia imediata de Temer. O presidente foi forçado a fazer um pronunciamento às pressas e disse que não abandonaria o cargo, mas já suspeitava das consequências que aquelas gravações teriam para o seu governo.

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"A revelação de conversas gravadas clandestinamente trouxe fantasmas de crise política de proporção ainda não dimensionada", disse Temer em seu discurso à época.

No entanto, Temer conseguiu se livrar de duas denúncias feitas pela Procuradoria-Geral da República. As duas eram referentes ao caso dos irmãos Batista. A primeira o acusava de corrupção passiva e a segunda denúncia se tratava dos crimes de obstrução da Justiça e organização criminosa.

Para conseguir se livrar das denúncias, Temer fez concessões para os parlamentares através de liberações de emendas. Um levantamento produzido pela Agência Estado estima que o governo pode ter gasto até R$ 32,1 bilhões em medidas do governo para agradar a base. O valor equivale a quatro vezes o que é gasto com famílias beneficiárias do Bolsa Família e supera também o custo da obra da hidrelétrica de Belo Monte.

O cientista político Leonardo Barreto, professor da Universidade de Brasília (UnB) também entende que as denúncias da JBS foram o principal marco da perda de apoio político de Temer com a sua base, mas aponta para o alto valor gasto com emendas como motivo para não ter conseguido aprovar a Reforma da Previdência, uma das principais bandeiras do governo do emedebista.

"O presidente Temer gastou todo o seu capital político para se livrar da primeira denúncia, tudo que ele tinha de estoque e de recursos para aprovar a Reforma da Previdência ele gastou na segunda denúncia, dessa forma ficou endividado com o Congresso e não conseguiu honrar suas promessas. O Congresso fez uma alternativa por mantê-lo, mas não necessariamente uma alternativa por continuar com a agenda de Temer", afirmou.

Em paralelo as negociações para aprovar as Reformas Trabalhista e da Previdência, a equipe econômica de Temer, conduzida pelo até então ministro da Fazenda Henrique Meirelles, também anunciou um pacote de privatizações. Ao ver que a Reforma da Previdência não seria aprovada, o governo Temer depositou suas fichas na privatização da Eletrobrás.

Mas a greve dos caminhoneiros neste mês, juntamente com a proximidade do calendário eleitoral inviabilizaram de vez o projeto de privatizar a estatal do setor elétrico. Uma pesquisa divulgada em abril deste ano pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que 87% dos brasileiros desaprovam o governo do presidente Temer, enquanto apenas 7% o aprovam.

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A derrota definitiva de alguns dos principais projetos do seu governo faltando ainda seis meses de mandato faz com que Temer, na opinião de Leonardo Barreto,  vire um governo "reativo".

"Esse governo se tornou muito reativo e factual, ele vai administrar as crises que forem surgindo, tanto crises da sociedade, do setor produtivo, da economia, quanto as próprias crises em que o Temer está envolvido", apontou.

Barreto afirma que Temer tem grandes chances de virar reféns de lobbies de todos os setores por não ter apoio e precisar se manter no poder a qualquer custo.

"Com o  governo sem qualquer força a tendência agora é você ter uma guerra de lobbies com cada um tentando sequestrar uma parte do governo ou preservar algum tipo de política. Isso faz com que o governo caminhe para um nível de paralisação cada vez mais forte. Em um pior cenário a gente pode esperar um desgoverno, que eu acho que é um cenário possível", explicou, se referindo ao fato de Temer correr o risco de não terminar o seu mandato.

Para Aldo Fornazieri, uma próxima denúncia contra Temer está se encaminhando e pode ser decisiva para sua permanência no cargo de presidente da República.

"Ele agora está espremido em um novo processo investigatório que avança em torno da questão do Porto de Santos e provavelmente vai ter uma nova denúncia partindo do Ministério Público contra o presidente", disse.

Por outro lado, Fornazieri acredita que uma nova denúncia contra Temer tende a não passar novamente pelo Congresso.

"De certa forma houve uma acomodação das forças políticas, todo mundo acha que Temer tem que ficar ali como um caixão no meio da sala", completou.

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