Príncipe exilado acredita que a Arábia Saudita pode mergulhar no caos

© AFP 2023 / FAYEZ NURELDINEArtilharia do Exército saudita dispara contra o Iêmen a partir de um posto perto da fronteira saudita-iemenita, no sudoeste do país, em 13 de abril de 2015. A Arábia Saudita lidera uma coalizão de vários países árabes realizando ataques aéreos contra os rebeldes xiitas Huthis que invadiram a capital Sanaa em setembro e se expandiram para outras partes do Iêmen.
Artilharia do Exército saudita dispara contra o Iêmen a partir de um posto perto da fronteira saudita-iemenita, no sudoeste do país, em 13 de abril de 2015. A Arábia Saudita lidera uma coalizão de vários países árabes realizando ataques aéreos contra os rebeldes xiitas Huthis que invadiram a capital Sanaa em setembro e se expandiram para outras partes do Iêmen. - Sputnik Brasil
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O príncipe, que se nomeia como “membro da oposição” e vive na Alemanha há vários anos sem contato direto com a Família Real Saudita, costuma dar entrevistas fornecendo “insights” provocativos sobre a vida dos governantes do Reino.

Membro distante da Família Real Saudita, o príncipe Khaled bin Farhan Al Saud, que não pisa no país desde 2013, compartilhou sua posição sobre a situação na Arábia Saudita em uma entrevista exclusiva na segunda-feira.

Vulcão metafórico da Arábia Saudita

“Eu gostaria de dizer aos europeus que a situação na Arábia Saudita lembra um vulcão que está prestes a entrar em erupção. E se esse vulcão entrar em erupção, isso não afetará apenas a situação na Arábia Saudita ou a região árabe, mas afetará vocês também. Isso ocorre porque a Arábia Saudita é diversificada em termos de composição, seja tribal, social ou mesmo geracional”, disse o príncipe Khaled bin Farhan ao portal Middle East Eye.

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Ele prosseguiu explicando que um golpe na Arábia Saudita poderia “facilmente” tornar o Reino um centro para o terrorismo global, já que há uma falta de coesão intra-saudita.

"Se a Arábia Saudita cair em um estado de caos, haverá um caos global, e a Arábia Saudita será uma fonte de terrorismo para o mundo todo, uma vez que apoiará e manterá o terrorismo internacional", afirmou.

O príncipe também alertou que a Europa e os EUA teriam que "pagar a conta" do colapso do Estado saudita, em sua opinião a direção que o país está tomando.

Prisões minadas na legitimidade de bin Salman

Discutindo a campanha contra a corrupção do ano passado, liderada pelo herdeiro Mohammed bin Salman considerado "moderado e liberal" por líderes mundiais, o príncipe Khaled bin Farhan disse: “Foi um choqueporque figuras proeminentes da família foram detidas de uma forma que provocou muita humilhação. A família está agora enfrentando o enfraquecimento de sua posição aos olhos das pessoas. E isso inevitavelmente prejudicará sua legitimidade”.

Bin Farhan revelou que príncipes e empresários foram atraídos para o hotel sob o pretexto de conhecer o rei.

“E [as autoridades] registram suas conversas, seja por telefone ou diretamente com uma pessoa. Então eles estão sob vigilância pessoal, severa e humilhante dentro da Arábia Saudita e não estão autorizados a sair”, afirmou o Khaled bin Farhan.

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Porém, de acordo com o próprio exilado, as autoridades sauditas não confirmaram que impediram que qualquer dos ex-detidos do hotel Carlton Ritz deixassem o Reino.

"Políticas irracionais, erráticas e estúpidas" e louvor reservado

O príncipe criticou duramente a principal campanha anticorrupção de Mohammed bin Salman, dizendo: “É claro que a prisão dos príncipes criou um estado de trauma psicológico em toda a família, que é representado por duas coisas. Em primeiro lugar, eles temem pelo seu próprio futuro como uma família dominante na Arábia Saudita. E em segundo lugar, eles não estão satisfeitos com as políticas que estão sendo adotadas atualmente, que são irracionais, erráticas e estúpidas”.

No entanto, ele aplaudiu duas das reformas de bin Salman, especificamente, sua decisão de conceder às mulheres o direito de dirigir e sua tentativa de conter o poder das autoridades religiosas na Arábia Saudita.

“A primeira coisa é permitir que as mulheres dirijam carros. Isso não é generosidade, é direito da mulher dirigir, é seu direito básico. Em segundo lugar, ele restringiu a influência da autoridade religiosa saudita. Esta autoridade religiosa é uma organização governamental. É favorável a isso mesmo em questões que violam a lei islâmica, se estamos falando sobre a lei islâmica ”.

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O príncipe disse acreditar que Salman não implementou as reformas mencionadas para beneficiar a população saudita, mas apenas para "ganhar popularidade" com os EUA e a Europa.

Bin Farhan — um autoproclamado “membro da oposição” vive exilado na Alemanha desde 2013, quando recebeu asilo político dentro de dois meses depois de chegar ao país.

Desde então, ele deu várias entrevistas a meios de comunicação, fornecendo o que ele apresentou como insights sobre a vida da família real do Reino da Arábia Saudita.

A desavença do príncipe com a Família Real teria começado depois que o pai de Khaled, que ficou conhecido como o Príncipe Vermelho, foi colocado atrás das grades na década de 1980 por defender uma monarquia constitucional. O pai de Khaled é descendente de um clã que não tem acesso ao poder. Khaled, que se formou no Egito, não vislumbra ter qualquer contato direto com a Família Real no momento. Sua irmã, no entanto, está atualmente vivendo na Arábia Saudita, já que, de acordo com a lei Sharia, ela não pode sair do país a menos que tenha permissão do pai ou do irmão.

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