'Presente' de Trump: por que conflito em torno do Irã é vantajoso para Rússia

© AP PhotoParlamentares iranianos queimam papeis com a bandeira norte-americana e a cópia do acordo nuclear após a decisão de Trump de sair do acordo, em 9 de maio
Parlamentares iranianos queimam papeis com a bandeira norte-americana e a cópia do acordo nuclear após a decisão de Trump de sair do acordo, em 9 de maio - Sputnik Brasil
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A decisão de Donald Trump de sair do acordo nuclear com o Irã já fez com que a Rússia ganhasse vantagens graças ao drástico aumento dos preços do petróleo. Mas estes seriam muito maiores caso a Europa deixasse de apoiar as guerras de sanções promovidas pelos EUA, acredita o colunista da Sputnik Maksim Rubchenko.

Donald Trump declarou seu desejo de sair do acordo iraniano ainda durante a campanha eleitoral. Por isso, quando há um mês o presidente anunciou que os EUA não prolongariam o documento, poucos duvidaram de que não o fizesse. Já em abril, os preços do petróleo aumentaram 14%, atingindo o patamar de 4 anos atrás, isto é, 75 dólares por barril.

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Agora, ressalta o autor, tudo depende da maneira como as ações de Washington vão influir nas exportações do petróleo iraniano, pois o acordo nuclear iraniano fez com que Teerã voltasse aos mercados petrolíferos. Agora, o Irã produz diariamente cerca de 3,8 milhões de barris, sendo que entre 2 e 2,5 milhões são exportados.

Os especialistas discutem três cenários possíveis. O primeiro é aquele com qual Trump conta, ou seja, a redução da presença iraniana no mercado global devido às novas sanções e o aumento dos preços até 85-90 dólares por barril.

Primeiro, isto vai desacelerar o crescimento econômico na China, dado que Pequim é um concorrente global para Washington. Segundo, serviria de motivação para aumentar a exploração do petróleo de xisto nos EUA. Terceiro, o agravamento das tensões geopolíticas vai aumentar o interesse dos investidores pelos ativos em dólares, fazendo com que os EUA reduzam o valor da sua dívida pública.

Os principais amigos estadunidenses também ficariam em vantagem, sublinha Rubchenko. A Arábia Saudita espera substituir o Irã nos mercados de petróleo ao aumentar suas vendas e reduzir o déficit orçamentário.

Já por causa do acordo OPEP+ a exploração saudita é quase 700 mil barris menor que dois anos atrás e, por isso, o país ficaria muito contente em ganhar oportunidade de aumentá-la.

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Ao mesmo tempo, Israel, que de fato deu a Trump o pretexto para sair do acordo ao elaborar um relatório sobre um alegado programa "clandestino" de armas nucleares do Irã, ganha sérias vantagens tanto militares quanto políticas. Assim, espera-se que, ao perder uma parte leonina dos lucros do petróleo, o Irã reduza sua presença na Síria e no Líbano.

Contudo, a maior parte dos especialistas acredita que a restauração completa do regime de sanções contra Teerã é quase impossível. Uma das provas disso é a reação as Europa à recente decisão de Trump: assim, os líderes da França, Alemanha e Rino Unido se apressaram a lamentar o passo do presidente estadunidense e recusaram aderir à sua postura.

É evidente que as sanções contradizem os interesses das empresas europeias, pois entre os maiores consumidores do petróleo iraniano estão, por exemplo, a Total francesa e a Eni italiana.

Por isso, os analistas acreditam que Trump, provavelmente, em breve mudará seu jogo, tanto mais que já falou sobre a disponibilidade de Washington de rever o acordo.

Deste modo, o cenário mais provável é o de Trump apelando para o Irã e outros signatários celebrarem um novo documento ou o abrandamento da posição em relação às empresas europeias que fazem negócios com Teerã. Caso contrário, uma "rebelião" da Europa é inevitável, frisa o autor.

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Entretanto, mesmo se a Europa apoiar os EUA e sair do acordo, o que é muito pouco provável, Washington e seus aliados dificilmente alcançarão as vantagens pelas quais almejam. Acontece que, além do continente europeu, o Irã vende petróleo, por exemplo, a muitos países asiáticos, inclusive à China. Estes, certamente, ficarão fora de "boicote" norte-americano.

O cenário mais catastrófico é o início de um conflito militar real na região do golfo Pérsico. Alguns analistas não descartam que Trump possa não se limitar às sanções econômicas e logo passe para a fase "quente" de confrontação. Israel, por sua vez, também pode botar lenha no fogo.

Em todo esse cenário, fica cada vez mais forte a posição dos radicais iranianos, inclinados a restaurar o programa nuclear, e isso aumenta a possibilidade de um conflito militar real entre os EUA e o Irã, com envolvimento israelense.

De fato, se pode concluir que o agravamento das relações entre Teerã, Washington e a Europa é vantajoso para a Rússia. O aumento dos preços do petróleo garante novos lucros e reduz a necessidade de introduzir novos impostos. Ademais, a situação de hoje pode levar a que a Europa até recuse a apoiar novas sanções contra a Rússia.

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