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Segurança pública no Brasil é feita com 'discursos fáceis', diz ex-comandante das UPPs

© REUTERS / Paulo WhitakerUm veículo das Forças Armadas brasileiras patrulha uma rua em Vitória, ES, em 8 de fevereiro de 2017
Um veículo das Forças Armadas brasileiras patrulha uma rua em Vitória, ES, em 8 de fevereiro de 2017 - Sputnik Brasil
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Em números absolutos, o Brasil é o país que mais mata no mundo. Foram 61.283 homicídios em 2016, segundo o Fórum de Segurança Pública. É um índice maior do que países em guerra como Síria (33.425) e Iraque (13.187). Ainda assim, a resposta do poder público é feita com "discursos fáceis", avalia o coronel da reserva Robson Rodrigues.

Ele foi comandante das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e chefe do Estado-Maior da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Rodrigues, que é também antropólogo e consultor de Polícia e Segurança Pública, ressalta que, apesar da alta letalidade, é errado encarar a violência no Brasil como se houvesse uma guerra civil no país. O coronel da reserva avalia que não há um "componente ideológico" no conflito brasileiro como a tentativa de derrubar um governo.

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Professor do Laboratório de Análise de Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rodrigues prefere analisar a violência brasileira pelo viés da economia. Ele ressalta que a América Latina é o maior exportador de cocaína do mundo e que o mercado das drogas é "altamente vantajoso". 

"No mercado formal são disputas selvagens, mas elas são controladas porque o mercado é regulado pelo Estado. Quando você tem um mercado informal e ilícito, ele também é selvagem, ele quer se expandir e lucrar, mas trabalha na violência", disse Rodrigues em entrevista à Sputnik Brasil. 

O ex-comandante das UPPs diz que a guerra às drogas — tentativa de acabar com a produção de drogas ilícitas por meio da violência — falhou: "A guerra às drogas, uma política que parte do proibicionismo, foi catastrófica. Ela não atingiu os resultados propostos quando foi iniciada e tem produzido mais violência".

Rodrigues diz que existe uma política "irracional" de "combate pelo combate". "Como se o crime organizado estivesse só na favela. Ele não está. O que está ali é o varejo, a ponta". Enquanto a violência acontece nas periferias, o coronel reformado ressalta que o "grande tráfico" fica "ileso".

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Ele também diz que o discurso de alguns políticos de que é possível acabar com a violência por meio do controle das nossas fronteiras é uma "utopia". "Nem os Estados Unidos com todo seu aparato e tecnologia conseguem."

"Boa parte das armas que matam, que estão envolvidas com essas 60 mil mortes aqui no Brasil, elas não vêm de fora. Elas são da indústria nacional. Nós temos uma indústria que é um dos maiores players mundiais na venda e exportação de armas. [Somos] o segundo maior exportador de armas médias e de pequeno porte do mundo, vendemos até para os Estados Unidos, isso as pessoas não sabem." 

Rodrigues diz que para enfrentar a violência brasileira, são necessárias reformas na justiça criminal, sistema carcerário e nas polícias. Sem ferir "suscetibilidades econômicas e mercadológicas", não é possível alterar o quadro, diz o chefe do Estado Maior da PM carioca. 

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