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Saiba que produtos podem logo entrar na pauta comercial entre Rússia e Brasil (EXCLUSIVO)

© Sputnik / Andrei Shapran / Acessar o banco de imagensRede de pesca na ilha russa de Kunashir (foto de arquivo)
Rede de pesca na ilha russa de Kunashir (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Hoje em dia, os principais produtos que montam a balança comercial russo-brasileira na área de agronegócios são fertilizantes e carnes, respectivamente. Em uma entrevista com o adido Agrícola da Embaixada do Brasil em Moscou, Cósam de Carvalho Coutinho, a Sputnik Brasil descobriu como é que se pode diversificar o panorama.

Tendo em consideração que as exportações agropecuárias brasileiras para a Rússia no último ano foram de 2,1 bilhões de dólares e que o respectivo setor de fato responde por mais de 90% do comércio bilateral, seria justo afirmar que a importância da área é enorme, e muitas mudanças e novidades ainda estão por vir, nos assegura o diplomata brasileiro.

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Atualmente, os produtos líderes fornecidos pelo lado brasileiro para a Rússia são carne suína, soja em grãos, carne bovina in natura, café solúvel e café verde e o fumo, ou seja, folha de tabaco. Na percepção de muita gente, é apenas carne, que continuará sendo o único foco. Entretanto, em uma conversa com a Sputnik Brasil, o senhor Coutinho evitou concordar com tal suposição.

E o que mais?

"Vamos falar de agronegócio, porque a gente não fala somente de agricultura e agropecuária, a gente fala de tudo: serviços, insumos, rações. Existe uma série de produtos que podem ser transacionados entre o Brasil e a Rússia. Da Rússia para o Brasil, eu vejo grande possibilidade de aumentar muito o comércio de pescado" — foi assim que o adido brasileiro começou sua reflexão, relembrando a recente reunião bilateral dos órgãos russo-brasileiros que decorreu na Bélgica em 24 de abril.

Nesse encontro, além da questão do levantamento da suspensão temporária das exportações de carne brasileiras, foram debatidos temas recém-integrados na agenda que podem logo mudar o jogo no relacionamento comercial entre as duas nações.

"Hoje a Rússia já tem 13 estabelecimentos e barcos pesqueiros que podem exportar pescado para o Brasil [a respectiva lista está em disposição da Sputnik Brasil]. Eu acho que o pescado é um produto muito interessante, eu diria de volume, porque o Brasil é um grande importador de pescado. Então, acho que a Rússia pode vir a ser um grande fornecedor [nesse campo]", assegurou o representante da embaixada, dizendo que de fato foram mais de 100 as entidades que demonstraram disponibilidade para também serem habilitadas a referentes atividades.

Isso sem mencionar ainda a questão do trigo, que há pouco reentrou no palco. Com a recente abertura do mercado brasileiro, as esperanças da cooperação são enormes, pois estamos falando do país maior produtor de trigo, a Rússia.

"Insumos agrícolas também é produto que o Brasil importa bastante, sobretudo aqueles à base de potássio e eletrogêneo, e a Rússia é um grande produtor desses insumos", prosseguiu o diplomata.

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"Tem vários outros produtos aí, por exemplo, do Brasil para cá, eu vejo como mercado ainda para ser bastante explorado… A questão de frutas tropicais, porque somos o terceiro maior produtor de frutas do mundo. Eu não vejo muita fruta aqui no mercado russo, estou falando da diversidade, não de quantidade. Não vejo a diversidade que você vê no Brasil, que tem uma diversidade imensa de frutas. Acho que o Brasil tem condição de iniciar tratativas, de aumentar. Existe já um fluxo, mas é muito pequeno", agregou.

Para ampliar ainda a lista de possíveis emparceiramentos, enumerou inclusive os produtos lácteos, bem como os produtos da gelatina e ovo em pó que são também produtos hoje em dia negociados para a importação. Para mais, existe a matéria-prima para produção de ração para animais de estimação, como gatos e cães, que do mesmo modo pode se alistar na pauta comercial das duas nações.

"Tem muitos produtos, acho que a gente não deve e não pode ficar tão somente nessa questão de carne, trigo, pescado", expressou o diplomata, mencionando também a questão de intercâmbio técnico-científico e investimento na área de infraestrutura.

"Por exemplo, nós temos terminais para recebimento de fertilizantes que pode baratear [o produto], por exemplo, chegando pela Calha Norte do país. A Calha Norte entra lá no oceano Atlântico, na foz do Amazonas, e por ali você pode chegar por água até o estado do Mato Grosso, que hoje é um fortíssimo produtor nacional. Existem terminais lá, e também existem projetos de andamento de terminais para receber supostamente esses produtos de matéria-prima, ou, digamos, fertilizantes para agricultura, que são de mútuo interesse entre os russos e brasileiros", propôs o senhor Coutinho.

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Construção de confiança

Ao falar da cooperação entre a Rússia e o Brasil, é vital ter em consideração o estreitamento no âmbito dos BRICS, que auxilia bastante, pois "qualquer cooperação tem que ser provocada", realça o adido.

Em relação a isso, frisa o nosso interlocutor, é indispensável a presença de um sistema sólido e confiável baseado em confiança mútua, pois em países com mercado livre como o brasileiro e russo são, o governo apenas estabelece as regras, logo saindo do palco para conceder o lugar ao setor privado.

"O governo é nada mais que regulador, no sentido de regulamentar, ele estabelece as diretrizes. Mas quem opera são privados. E nenhum governo tem capilaridade para ter as rédeas do que pensa produtor A, ou produtor Z", explicou o enviado brasileiro.

Deste modo, no caso específico Brasil-Rússia, se busca "uma confiabilidade de ambas as partes", ou seja, cada um dos países precisa e tem que acreditar naqueles órgãos que são responsáveis por implementação de acordos.

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"É óbvio que você não pode entrar na cabeça de todo o mundo. De repente, um desses que faz parte desse sistema produtivo por algumas razões tenta burlar o sistema, estou falando em tese. E com isso acontecendo, em meu entendimento, você não pode penalizar o sistema, por que alguém fez alguma coisa de forma equivocada. Penaliza quem fez. O sistema tem que ser confiável", manifestou.

Por mais estranho que pareça, nesta relação vem à cabeça um paralelo de um mundo completamente alheio — o esporte, nomeadamente o caso do escândalo de doping na Rússia. Esse, em sua essência, foi uma das ocasiões na qual vários "rebeldes" do sistema acabaram por trapacear o complexo todo, provocando desconfiança.

Desafios a serem eliminados

Ao fazer uma análise em termos largos, para hoje em dia se podem identificar dois grandes desafios estruturais no comércio agropecuário bilateral entre os dois países. O primeiro deles é um grande superávit do lado brasileiro.

"O mercado russo tem uma importância vital para o negócio nosso. Em contrapartida, a importação brasileira de produtos agrícolas russos é muito pequena. É exatamente isso que a gente tem que mudar. Nós temos que ver isso como um desafio, levando em consideração que a mão tem que ser dupla", argumentou o senhor Coutinho.

O segundo "challenge" sério seria, de fato, relacionado com o principal tema da nossa conversa, isto é, a intensificação das trocas comerciais. A questão é que essas vêm diminuindo nos últimos anos.

"Vale a pena ressaltar que, se pegar os índices dos últimos quatro anos, baixou bastante a exportação do Brasil para cá. Em 2012, ela estava na faixa de 3 bilhões de dólares, e agora está pouco acima de 2, está chegando a 2,1 bilhões. Esse é o quadro atual. […] Está baixando. Eu imagino que esta diminuição do volume exportado de lá para cá deve estar acontecendo por razão da busca da Rússia pela autossuficiência. Talvez seja por isso", sugeriu o adido.

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Entretanto, aqui aparece mais um fator que não pode ser descartado — os nichos do mercado que abriram na Rússia na sequência das rupturas comerciais com a União Europeia, como foi no caso de maçãs polonesas ou de queijos franceses, hoje em dia proibidos para a exportação.

Claro que há outros parceiros com quem a Rússia se vincula e estão mais perto que o Brasil, como a China, Marrocos ou Turquia. Contudo, o adido demonstrou uma atitude positiva para com esse ensejo.

"Eu acho que o Brasil tem chance muito grande de brigar por essa fatia de mercado", concluiu.

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