Médico afirma: ‘Não há evidências de que cigarros eletrônicos não apresentam nicotina'

© REUTERS / Mark BlinchHomem fuma cigarro eletrônico nas ruas de Toronto
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A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está promovendo uma série de debates sobre a regulamentação (ou liberação para venda comercial) de cigarros eletrônicos e tabaco aquecido. Os produtos são considerados pelos seus fabricantes como "nova forma de fumar" diante das crescentes campanhas mundiais contra o fumo convencional.

As discussões em torno do uso comercial destes produtos no Brasil arrastam-se, pelo menos, desde 2007. Até aqui, não se chegou a qualquer conclusão sobre se estas vendas devem ser liberadas. A razão desta demora é clara segundo o médico Jackson Caiafa, Chefe do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, em entrevista à Sputnik Brasil:

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"Os conhecimentos científicos sobre o uso de cigarros eletrônicos e tabaco aquecido são muito recentes e os eventuais malefícios que possam causar ainda estão sendo avaliados. Ninguém que fuma cigarros tradicionais vai ter muito problema com o uso desses produtos", afirmou.

O médico explicou que já foi observado substâncias como estanho e chumbo no cigarro eletrônico.

"No caso específico do cigarro eletrônico, a base dele é a utilização de um mecanismo ou dispositivo que faz a pessoa aspirar um líquido aquecido com vapor que possui substâncias potencialmente lesivas como estanho e chumbo, já identificadas em alguns exemplares. E também há nicotina, que é a substância viciante do cigarro convencional, da mesma forma presente na maioria dos cigarros eletrônicos", disse.

O Dr. Jackson Caiafa aponta algumas razões médicas pelas quais o uso da nicotina deve ser evitado. Mas isso, para o cirurgião vascular, não deve ser visto como uma liberação quase imediata para o uso de cigarros eletrônicos:

"A nicotina, além de viciante, causa vários outros problemas como lesões vasculares e, no caso das gestantes, a interrupção da gravidez levando ao aborto involuntário. O uso do cigarro eletrônico, aparentemente, pode reduzir esses riscos, mas, repito, ainda não há suficientes evidências científicas de que estas possibilidades estejam comprovadas."

O cirurgião vascular não está inteiramente convencido de que, ao contrário dos argumentos dos fabricantes, o cigarro eletrônico não seja fabricado com nicotina:

"Se o cigarro eletrônico não contem tabaco, nicotina e alcatrão, como alegam seus fabricantes, ele produzirá menos problemas. Mas boa parte dos cigarros eletrônicos vendidos pelo mundo apresentam alguma presença de nicotina. O líquido vaporizado do cigarro eletrônico possui alguma nicotina justamente para saciar o hábito do fumante do cigarro convencional."

Em entrevista concedida ao jornal O Globo em novembro de 2017, a farmacêutica-bioquímica Solange Cristina Garcia, Coordenadora do Laboratório de Toxicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explicou as diferenças entre cigarro eletrônico e tabaco aquecido.

Segundo a Professora, o cigarro eletrônico além do vaporizador, possui "apenas nicotina e alguns componentes" enquanto o tabaco aquecido possui mais substâncias, "a maioria nocivas", por utilizar plantas de tabaco. Como o Dr. Jackson Caiafa, a Dra. Solange Cristina Garcia ressalta que ainda não há estudos científicos suficientes e conclusivos. A bioquímica também ressalta que, na aparência, cigarro eletrônico e tabaco aquecido parecem a mesma coisa mas possuem composições químicas distintas.     

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No Brasil, a promoção dos "novos produtos do fumo" é defendida por duas das maiores fabricantes mundiais de cigarros: a Souza Cruz (British American Tobacco) quer colocar os cigarros eletrônicos no mercado e a Philip Morris é partidária do tabaco aquecido.

Para o Dr. Jackson Caiafa, a discussão em torno da liberação destes produtos no Brasil ainda vai se estender por mais algum tempo devido aos inúmeros fatores que devem ser levados em conta pela Anvisa: 

"Os debates em torno da regulação do comércio de cigarros eletrônicos e tabaco aquecido se arrastam há anos porque não há conhecimento técnico suficiente nem certeza científica dos males que estes produtos causam. Por outro lado, há o risco de se criar uma outra situação grave: por que banir (ou impedir) a venda somente de cigarros eletrônicos e não banir os cigarros convencionais? Sem dúvida que estará criada uma situação estranha."

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