'Quem tem mente sã deve ter receio' das ações do Irã contra EUA, diz ministro

© AFP 2023 / FABRICE COFFRINIJavad Zarif durante uma coletiva de imprensa em Lausanne
Javad Zarif durante uma coletiva de imprensa em Lausanne - Sputnik Brasil
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O programa nuclear iraniano continua gerando polêmicas. Mesmo com o acordo preliminar assinado em 2015, uma das partes está mostrando sinais de querer revogar o documento. A Sputnik ouviu a parte mais interessada.

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O ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, deu uma entrevista exclusiva à Sputnik Persa às margens do Fórum do Oriente Médio do Clube Internacional de Discussão Valdai, explicando a postura iraniana sobre o programa nuclear do país.

Primeiro, o ministro, que estava presente na assinatura do acordo, falou sobre o sentido jurídico de um acordo internacional:

"Hoje, a situação é a seguinte: toda a comunidade internacional, inclusive os americanos, excluindo o governo de Trump, Israel e dois ou três países da região, concordam que o acordo nuclear é um acordo internacional e não um pacto bilateral entre Irã e EUA. E acordos internacionais não podem ser alterados unilateralmente por um dos outorgantes. Se essa prática se tornar norma comum mundialmente, será difícil firmar acordos. Países que tiverem assinado acordos com os EUA vão pensar que em caso de troca no governo norte-americano, será necessário discutir e alterar o acordo de novo."

Mais do que isso, tal prática mina o conceito de "acordo internacional", ressaltou Zarif:

"Um acordo internacional nunca vai ser alcançado se um país, mesmo se for uma superpotência, se provar capaz de ignorar as obrigações assumidas e revogar o acordo."

Em 2015, o mundo celebrava a assinatura do acordo preliminar sobre o programa nuclear iraniano. O documento, fruto de negociações do "sexteto" composto por EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha com o próprio Irã, permitia o desenvolvimento da pesquisa nuclear no país. Mas, em outubro de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, surpreendeu ao afirmar publicamente que o acordo podia não ser do interesse de Washington.

Essa declaração só foi ouvida dos EUA. A União Europeia insiste que o acordo vigente não pode ser revogado unilateralmente. Já o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse, ainda em 2017, que ele lamentava as palavras de Trump, mas acreditava que elas não levariam ao fim do acordo.

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O chanceler iraniano compartilhou também a sua visão da firmeza europeia:

"Os europeus insistem que vão tomar todas as medidas necessárias. Mesmo em seus discursos oficiais, eles dizem que, primeiro, não admitem que o acordo assinado possa ser revisado. Segundo, eles se manifestam a favor da proteção dos seus próprios interesses e a favor da conservação dos resultados do acordo. Ainda vamos ver o que os europeus vão fazer, como eles vão manifestar a sua vontade política."

Já a postura da Casa Branca é considerada por Zarif como perigosa, principalmente para os próprios Estados Unidos:

"Hoje em dia, tendo em conta as necessidades da comunidade internacional e certos assuntos, os países possuem um interesse que faz com que eles não apoiem a postura dos EUA em relação ao acordo nuclear. Pelo contrário, eles se manifestam contra essa postura. Está claro que se os EUA optarem por sair do acordo unilateralmente, eles vão se isolar e se tornarão pária no palco mundial."

E se Trump ganhar?

Teerã já afirmou possuir um "plano B" para o caso de os EUA conseguirem revogar o acordo unilateralmente. A Sputnik Iran perguntou ao ministro iraniano sobre esse plano. Sem detalhar, ele resumiu assim:

"O roteiro que o Irã vai implementar depende do grau de sabedoria que os EUA demonstrarem. Vou dizer uma única coisa: aqueles que têm mente sã devem temer essas ações."

Zarif também comentou o papel da "guerra híbrida" e o anúncio dos militares estadunidenses sobre o início de uma campanha de desenvolvimento de meios cibernéticos de inteligência.

"Claro que os EUA usam diversos instrumentos de influência nas suas tentativas de recuperar a sua potência perdida de monopólio informacional. Por isso, é importante para os nossos usuários e governos utilizar essa possibilidade com a maior transparência", disse ele, comentando o suposto monitoramento e controle de emojis por militares dos EUA.

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