'LEGO' para adultos: como diferentes países produzem armas de modelos russos

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Tanque T-90S em exposição em Nizhny Tagil (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Caças pesados, tanques, mísseis, munições, fuzis, armas automáticas – a Rússia, como grande exportador internacional de equipamentos militares, oferece aos seus clientes não só produtos prontos "encaixados", mas também licenças para sua própria produção das armas mais modernas.

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O colunista da Sputnik, Andrei Stanavov, explica onde e como são produzidas as armas russas e pormenoriza os aspetos mais interessantes do sistema de licenças.

Caças produzidos em série

Por tradição, o maior importador de armamentos russos é a Índia. De acordo com o relatório do Instituto de Estudos de Paz Internacional de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), este país recebe cerca de um terço das exportações militares russas. No total, desde a década de 60, segundo afirma a empresa Rosoboroneksport, a Índia comprou à URSS, e depois à Rússia, armamentos no valor de 65 bilhões de dólares.

A Índia não só compra artigos já prontos, mas também os produz ela própria. A escala de sua produção impressiona, pois apenas a corporação Hindustan Aeronautics Limited (HAL) fabricou mais de 200 caças pesados Su-30MKI desde 2000. Ademais, se trata de ciclo completo da produção, ou seja, Moscou apenas fornece as matérias-primas, como o alumínio e a estampagem em titânio.

"O principal cliente que apresenta exigências para produção sob licença no âmbito de quase todos os projetos grandes é a Índia. O que é bem natural. Normalmente, os indianos encomendam lotes muito grandes. O Su-30MKI é um programa absolutamente grandioso. No total, as fábricas da empresa HAL produziram 222 caças. Pelos padrões contemporâneos, é um número muito grande", disse à Sputnik o vice-chefe do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias russo, Konstantin Makienko.

Licenciados ou não

De acordo com o especialista, o nível de confiança entre a Rússia e a Índia no campo militar é extremamente alto. No âmbito dos contratos, os indianos recebem toda a documentação relacionada com a produção das armas russas. O governo do país segue o lema "Produza na Índia, compre indiano". Por exemplo, o moderno tanque russo T-90S também é lá produzido sob licença, bem como as munições Mango para seu canhão.

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Outros projetos estão em preparação, particularmente empresas conjuntas para produção dos helicópteros Ka-226 e de munições para lançadores múltiplos de foguetes Smerch.

A única coisa que a produção aeronáutica da Índia ainda não conseguiu dominar são os motores a jato AL-31FP para os aviões da família Sukhoi. Mesmo tendo toda a documentação, o país não consegue alcançar o necessário nível de qualidade já por muitos anos.

"É importante que eles não tentam copiar ou organizar uma produção não licenciada. Não entram em nossos mercados com estes produtos, fazem tudo em conformidade com os acordos. Ao contrário dos chineses que são que nem monstros neste sentido — desmontam e tentam copiar tudo o que lhes damos", sublinha o especialista.

Contudo, foi precisamente a China a primeira a desenvolver a produção de armamentos russos após o colapso da URSS. Em 1996, Pequim comprou uma licença para produção de 200 caças Su-27. A corporação Shenyang Aviation Company (SAC) recebia de Moscou os desenhos técnicos e conjuntos tecnológicos, inclusive motores, aviônica e armamentos.

No total, foram montados cerca de 100 aviões com a sigla J-11, após o que a Força Aérea da China os qualificou como obsoletos e desistiu das entregas ulteriores. Mais tarde, as tecnologias obtidas foram usadas na construção do "seu próprio" avião J-11B, já com motores e aviônica chineses. Segundo os especialistas, esta é a tática predileta de Pequim — comprar um lote pequeno de armamentos importados, analisá-lo e iniciar sua própria produção não licenciada.

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Quanto à produção licenciada de armas ligeiras, as coisas são mais simples, pois não existem níveis de localização. Regra geral, os armamentos se produzem a partir do zero, o país importador paga a licença, recebe os desenhos técnicos e documentação do exportador, constrói uma fábrica e começa a produção em série.

"Não se deve recear o vazamento de tecnologias de armas ligeiras. No fuzil de assalto Kalashnikov, por exemplo, não há nada de classificado. Nem nas tecnologias, nem nos materiais. Do ponto de vista da construção metalomecânica este é um objeto relativamente simples, […] haja vontade e dinheiro", afirmou à Sputnik o editor-chefe da revista Kalashnikov, Mikhail Degtyarev.

Outra coisa é a elaboração do projeto e as provas, que não é qualquer país que consegue realizar isso. Por exemplo, a edição Soha comunicou que há pouco o Vietnã montou sua própria linha de produção de fuzis de precisão de grande calibre OSV-96 Vzlomschik de 12,7 mm.

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"Os vietnamitas não conseguem projetar tal fuzil. É uma prerrogativa dos países que dispõem de sua própria escola de produção de armas. Um deles é, naturalmente, a Rússia. A fase de projeto é uma espécie de know how", afirmou Degtyarev.

O próprio fuzil é bem interessante, pois garante o tiro de precisão à distância de até dois quilômetros. A munição, por sua vez, é capaz de perfurar blindados ligeiros, antenas de radar, minas navais e até as peças de artilharia.

Vale destacar que diferentes tipos de fuzis de assalto baseados nos modelos da Kalashnikov são ainda hoje produzidos na Europa do Leste, ou seja, na Bulgária, Polônia, Sérvia, Hungria e Romênia, mas com uma licença soviética já vencida. Ou seja, de forma ilegal, pois não pagam nada à Rússia, sucessora da URSS. Entretanto, ninguém parece planejar a renovação da licença.

Além do mais, não se trata apenas de fuzis. Os países do antigo campo soviético não se acanham em produzir em série tanques T-72, helicópteros, veículos blindados de transporte de tropas, sistemas de mísseis portáteis, morteiros, mísseis antitanque guiados, peças de artilharia e outros tipos de armamentos.

Poder suave

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Entretanto, apesar dos efeitos colaterais como a reprodução e roubo de tecnologias, em geral a venda de licenças é vantajosa para o exportador não só do ponto de vista econômico, mas político também.

A instalação da produção nos territórios de países terceiros permite não só influir nos mercados da região, como cria condições para o aprofundamento da cooperação técnica militar e o fortalecimento da confiança mútua.

Dito de forma simples, um país que compre a licença para produção de um grande lote de armamentos, em certo sentido, fica "dependente" destas tecnologias.

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