Epidemia de heroína nos EUA: 'Quando não eram brancos a morrer, não era assunto de Estado'

CC0 / Pixabay / Heroína em uma colher, seringa e acendedor
Heroína em uma colher, seringa e acendedor - Sputnik Brasil
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Nova York processou judicialmente sete companhias farmacêuticas e três distribuidores de medicamentos. A cidade exige uma compensação de ao menos 500 milhões de dólares (1,5 bilhão de reais) de despesas causadas pela dependência.

De acordo com as estatísticas divulgadas pelo prefeito de Nova York, Bill de Blasio, na cidade morrem mais pessoas por causa de sobredosagem do que na sequência de acidentes de trânsito. Mais de 27 milhões de cidadãos abusam de opiáceos por todo o país.

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Na entrevista à Sputnik Mundo, o jornalista argentino Nicolás Ayala, que investigou a epidemia de heroína no país, explicou que, como qualquer fenômeno social, esse problema não pode ser examinado de um só lado. Mesmo assim, segundo ele, o papel da indústria farmacêutica nos anos 90 foi enorme no aparecimento desse problema. 

"Durante esse período nos EUA a indústria farmacêutica quase não estava regulada. Propuseram uma 'revolução na questão da dor'. Se alguém tinha uma entorse de um pé e ia ao médico, este receitava uma grande quantidade de opioides da classe farmacêutica que eram muito aditivos. A maior parte do consumo atual de heroína surge desse modo, através da medicina", disse Nicolás Ayala.

O jornalista adicionou que, uma vez que o Estado se deu conta do seu erro e quis regular as vendas desses remédios, isso somente complicou as coisas. "Havia uma geração inteira que ganhou dependência de comprimidos e um dia os tiraram, o que provocou o aparecimento de um mercado paralelo nas ruas da cidade, e lá era possível encontrar alguma coisa mais barata, por exemplo, heroína", explicou ele.

Em outubro do ano passado, o presidente norte-americano Donald Trump decidiu declarar a situação de emergência na área de saúde pública. Ayala precisou que o que ele declarou não foi o estado de emergência para lutar contra a crise de opioides, o que lhe daria acesso a 23 bilhões de dólares (72 bilhões de reais). Em vez disso, ele declarou a emergência na saúde pública, que lhe deu acesso a somente 53 mil dólares (167 mil reais). "Ele assinou o documento perante as câmaras e nada mais", acrescentou o jornalista.

A indústria farmacêutica nos EUA é aquela que gasta mais dinheiro em ações de lobby no Congresso. Por exemplo, em 2016 gastou quase 250 milhões de dólares (788 milhões de reais) para promover seus interesses.

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Nicolás Ayala indica o que ele chama de "fórmula de catástrofe": enquanto as corporações impõem as leis, os casos mortais vão continuar e os partidos políticos vão permanecer no poder porque são financiados pelas corporações.

Se nos anos 80 se tratava da dependência de drogas entre a população afro-americana e latina, hoje em dia a situação mudou – as vítimas desta epidemia são as classes rurais brancas, diz o jornalista.

"Quando não eram brancos a morrer, não era um tema de Estado", disse Nicolás Ayala. Ele também esclareceu que a epidemia é mais típica das regiões onde as pessoas estão envolvidas em difíceis atividades físicas, como minas ou trabalhos agrícolas.

Em um país como os EUA, as questões raciais impactam muito as relações sociais. Por exemplo, o Centro para a Prevenção e Controle de Enfermidades (CDC, na sigla em inglês), relatou que os médicos são mais propensos a prescrever opioides aos brancos do que aos latinos ou afro-americanos.

Isto tem a ver com os preconceitos raciais, segundo os quais as pessoas acham que os brancos vão usar os medicamentos para se tratar, enquanto os outros os vão vender no mercado paralelo. "Isto é como um racismo ao contrário, os brancos sofrem por as outras raças serem discriminadas", concluiu o jornalista.

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