Procurando 'cisne negro': de onde virá nova crise financeira?

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No que se trata de perspectivas econômicas, as maiores instituições financeiras preveem futuro um tanto assombroso: elas alertam que em breve enfrentemos outra crise financeira gravíssima.

 O analista financeiro, Timur Nigmatullin, em entrevista à Sputnik falou sobre as tendências na economia mundial e analisou condições de desencadeamento de uma nova crise financeira.

Mercado financeiro dos EUA

Cisne Negro é uma teoria do famoso economista Nassim Nicholas Taleb, que explica os acontecimentos raros e difíceis de serem previstos, causadores de impactos desproporcionais e que precisam de uma nova explicação.

A prática revelou que ninguém consegue prever crises (a teoria supõe isso também), contudo, especialistas mundiais fazem de tudo para prevê-las. 

Falando sobre colapso futuro, o Bank of America indica o crescimento de taxa de inflação, endurecimento da política monetária do Sistema de Reserva Federal dos EUA (FED, sigla em inglês), suspensão de QE (programa de flexibilização quantitativa) e crescimento de volatilidade nos mercados financeiros. O analista do banco, Michael Hartnett, assinala que os ritmos de crescimento do salário, que superarão os da inflação, levarão à queda dos lucros de corporações.

Como resultado, essas condições poderiam levar a um colapso semelhante às crises de 1987 e 1998, acreditam representantes do Bank of America.

© AFP 2023 / Jewel SamadBolsa de valores de Nova York
Bolsa de valores de Nova York - Sputnik Brasil
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Segundo Nigmatullin, trata-se de uma afirmação discutível, já que o fato de endurecimento gradual da política monetária não pode levar à correção no mercado financeiro, justamente porque o crescimento de mercados é estipulado por dois fatores: desenvolvimento econômico estável e taxa de inflação baixa, o que é percebido hoje nos EUA.

Caso o FED simplesmente aumente as taxas de juros, isso não deve levar (e, como a prática já relevou, não leva realmente) à correção de grande escala no mercado financeiro. Em primeiro lugar, investidores levam em consideração a taxa de inflação e o crescimento econômico.

Sendo assim, o endurecimento da política monetária não pode "iniciar" uma crise econômica, mas pode diminuir o crescimento econômico, acelerar inflação ou causar eventos externos, como, por exemplo, ações militares.

Choque externo

De acordo com o analista, para provocar uma queda significativa do mercado, é preciso que aconteça algum choque externo. Com valores elevados, os fundos se tornam especialmente vulneráveis à influência em questão.

© AP Photo / Marty LederhandlerAtentado de 11 de setembro em Nova York
Atentado de 11 de setembro em Nova York - Sputnik Brasil
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Em geral, qualquer ação importante pode desempenhar este papel, por exemplo, ações militares já mencionadas acima. O efeito seria mais potente com a união de todos os acontecimentos negativos. Nesta situação, a cotação pode diminuir, e todos os fundos de alto risco começarão a perder seu valor. Trata-se do típico início de uma crise.

Atualmente, a inflação nos EUA está baixa, o que sempre mantém o crescimento de fundos de alto risco, ao menos, no mercado de títulos. Os ritmos de crescimento do índice S&P em meio a todos os endurecimentos em relação à política monetária a comprovam.

Dívidas europeias

Estátua da Liberdade, em Nova York - Sputnik Brasil
América primeiro: o que está por trás da 'guerra econômica' dos EUA contra Europa?
Ao analisar as prováveis raízes de uma nova crise, o Deutsche Bank destaca o valor da dívida externa da Itália, bem como a fragilidade de seu sistema bancário.

Segundo o especialista, estes fatores carregam riscos reais como, por exemplo, as consequências do Brexit ainda despercebidas ou dívidas de países europeus.

Por outro lado, autoridades realizaram um conjunto de medidas a fim de compensar os riscos. Por exemplo, Europa cumpre os Acordos de Basileia III, um conjunto de exigências especiais quanto aos bancos que aplicam reservas anticíclicas, que possibilitaram o fortalecimento e estabilidade do sistema bancário.

Entre outras medidas, vale destacar a transição de muitos países a metas de inflação, ou seja, diminuindo e mantendo a inflação em níveis baixos. 

Bolha no mercado imobiliário da China

Outro fator da provável crise para os especialistas do Deutsche Bank se trata da bolha no mercado imobiliário da China. 

Nigmatullin apontou que as autoridades do país ativamente o “esfriam”: oferecem grandes descontos para compradores do primeiro apartamento, mas os que compram imóveis para fins lucrativos se deparam com um mercado altamente regulado.  

© Sputnik / Sergei Guneev / Acessar o banco de imagensUma vista de Hong Kong
Uma vista de Hong Kong - Sputnik Brasil
Uma vista de Hong Kong

O analista classifica a situação no mercado imobiliário chinês não como uma bolha, mas como uma necessidade objetiva. “As cidades são muito grandes e a centralização é alta, então, em vários casos o custo do imóvel cresce”, explicou ele.

Com o monitoramento em ação, dificilmente aconteceria essa crise hipotecária, vivida pelos EUA em 2007: os riscos já foram estudados; bancos já não fornecem hipotecas a devedores inconfiáveis.

Projétil não cai duas vezes na mesma cratera

Uma parte dos analistas acredita que a crise tenha suas raízes na China, mas outros discordam. Hoje em dia, o desenvolvimento de instituições públicas não corresponde ao progresso econômico do governo. Por enquanto, não se sabe como este problema será resolvido.

"Em breve, instituições sociais devem se adaptar ao seu rendimento mais alto, bem como aprofundar integração à economia global. Quando a transformação vier à tona, o refluxo de capital da China pode acontecer, já que investidores se preocuparão com prováveis problemas nesta área", apontou Nigmatullin.

Para o analista, o Cisne Negro pode surgir em riscos geopolíticos, frisando que "por enquanto, eles são invisíveis", mas podem ser reais.

Entretanto, o especialista sublinha que crises financeiras geralmente não acontecem pelos mesmos motivos: como se sabe, um projétil não cai duas vezes na mesma cratera.

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