Tratado absurdo: por que a Rússia parou de comunicar sobre seus tanques à OTAN

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Tanques, veículos blindados, peças de artilharia, aviões e helicópteros. O acordo sobre limitação de todas essas cinco categorias de armamentos pesados na Europa e estabelecimento de um equilíbrio militar seguro entrou em vigor há 25 anos, em 9 de novembro.

O Tratado sobre as Forças Armadas Convencionais na Europa (CFE, sigla em inglês) conta com participação de 28 países europeus, EUA e Canadá. A redução de armas foi reciprocamente controlada por inspetores. Devido à expansão da OTAN ao leste, desde 2007 a Rússia não vem cumprindo os termos do CFE. Neste artigo, a Sputnik explica por que o principal acordo, que deveria garantir a segurança na Europa, passou a ser folhas que não valem nada.

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Lançador múltiplo de foguetes russo BM-21 Grad - Sputnik Brasil
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Paridade entre blocos

O tratado, assinado em 1990, definiu a quantidade de armas e equipamento militar na Europa entre a OTAN e o Pacto de Varsóvia. De acordo com o tratado, cada bloco na região poderia contar com uma quantidade de armamentos que não superasse 20 mil tanques, 30 mil veículos blindados, 20 mil sistemas de artilharia, 6,8 mil aviões e 2 mil helicópteros de combate. Nos flancos, a quantidade de material bélico não poderia superar 4,7 mil tanques, 5,9 mil veículos blindados e 6 mil sistemas de artilharia.

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Contudo, o CFE se tornou inapropriado com o colapso da União Soviética. O tratado deveria ter passado a ser adotado não por blocos, mas, sim, por Estados e exércitos particulares. Na nova versão do acordo, a quota foi dividida entre países do antigo campo soviético, e a quantidade de material bélico da Rússia foi diminuída para 6,4 mil tanques, 11.480 veículos blindados, 6.415 sistemas de artilharia, 3.450 aviões e 890 helicópteros.

"Inicialmente, o CFE prevenia a formação de agrupamentos dos dois blocos que planejavam atacar inesperadamente um ao outro. A Rússia expressou sua insatisfação com vários termos. Onde a OTAN tinha supremacia, por exemplo, em navios, eles não cumpriram as limitações. Além disso, o acordo não abrangeu os mísseis de cruzeiro de baseamento naval e aéreo. Com o tempo, a política da Aliança encabeçada pelos EUA em relação à Rússia começou a mudar, e a natureza agressiva do bloco se tornou evidente", assinala o especialista russo militar, Leonid Ivashov.

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Veículo blindado de infantaria russo K-17 Bumerang - Sputnik Brasil
Veículo blindado de infantaria russo K-17 Bumerang

Em 1995, a Rússia reduziu seu arsenal na Europa ao limite, contudo, apareceram problemas quanto aos agrupamentos nos flancos. Parcialmente, a Guerra da Chechênia contribuiu, já que na área das ações militares foram concentradoras forças adicionais. Estas questões foram resolvidas ainda em 1996, contudo, logo apareceram outras.

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O acordo foi reconsiderado no fim dos 1990 devido à adesão de países da Europa Oriental à OTAN. No território de países soberanos passou a ser proibido posicionamento de equipamento bélico de outros países; a quota nacional da Rússia foi cortada ainda mais. Vale ressaltar que a OTAN manteve seu direito de concentrar na Europa quase a mesma quantidade de armas, definida pela versão inicial do tratado, ainda na época dos blocos.

"Este acordo já não corresponde à situação atual. A OTAN já está no território das antigas repúblicas soviéticas. Um novo acordo deveria substituir o CFE, contudo, o Ocidente não deseja isso. Hoje em dia, a Rússia pode impedir a expansão da Aliança ao leste apenas com uma potência militar impossível de ser combatida por ela. Eles compreendem apenas o idioma da força", explica o especialista militar, Konstantin Sivkov.

© AP Photo / Exército dos EUATanque norte-americano Abrams M1A2 (foto de arquivo)
Tanque norte-americano Abrams M1A2 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
Tanque norte-americano Abrams M1A2 (foto de arquivo)

Cumprindo os novos termos, a Rússia reduziu suas forças no noroeste do país, retirou seu material bélico da Moldávia e ratificou o tratado. Contrariamente, a OTAN incorporou mais ex-integrantes do Pacto de Varsóvia e Estados bálticos que não faziam parte do CFE. Além do mais, na Bulgária e Romênia apareceram bases da OTAN. Assim, a quantidade total de armas convencionais da Aliança na Europa cresceu drasticamente e superou todos os limites estabelecidos. 

"Sinal alarmante"

Anteriormente, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que hoje em dia a situação internacional mudou drasticamente e no fim das contas a Rússia passou a ser o único país a cumprir os termos do CFE. 

"Nenhum dos integrantes da OTAN cumpre o acordo, e não desejamos participar deste teatro absurdo", afirmou Lavrov durante seu discurso em uma reunião do Conselho OTAN-Rússia em Oslo. 

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Segundo Ivashov, chega a ser inútil "renascer" a CFE ou elaborar um novo acordo sobre a redução de armamentos, já que os países europeus, integrantes da OTAN, representam agora nada mais que uma ferramenta da "política russófoba militar dos EUA". Vale recordar que, geralmente, no comando das Forças Unidas da OTAN na Europa senta um norte-americano. 

"Hoje em dia, não é o melhor período das relações entre a Rússia e os EUA, bem como entre a Rússia e a Europa, na busca da elaboração de um novo acordo. O antigo já 'morreu' e não pode ser recuperado. É possível usar parcialmente seus termos, princípios, limitações quanto à concentração de tropas e equipamento pesado, mas somente quando os europeus forem mais independentes", explicou o especialista.

© AFP 2023 / Anders WiklundVeículo blindado da OTAN no Báltico
Veículo blindado da OTAN no Báltico - Sputnik Brasil
Veículo blindado da OTAN no Báltico

Durante uma sessão extraordinária, a Rússia tentou modificar o acordo e incluir nele países bálticos, bem como reduzir a quantidade de armamentos da OTAN, mas não conseguiu reunir as emendas. Sendo assim, em 13 de julho de 2007, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou decreto sobre suspensão do cumprimento do CFE pelo país.

Desde sua assinatura, a Rússia parou de comunicar a seus sócios do acordo sobre descolamento de seu material bélico e fechou o acesso às tropas por investigadores estrangeiros. Depois, o país abandonou o Grupo Consultivo Comum do CFE, causando preocupações por parte da França, Alemanha e Polônia. Os ministros das Relações Exteriores dos países acima citados qualificaram este passo como "mais um sinal alarmante, enviado por Moscou".

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