Especialista: 'Duas teorias explicam as origens da Revolução Russa'

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Em meio às celebrações pelos cem anos da Revolução Comunista de 1917 na Rússia, diversas teses foram formuladas para tentar explicar o fenômeno para as atuais gerações. Segundo o Professor de História Angelo Segrillo, da Universidade de São Paulo (USP), entre todas as teses apresentadas ao público, pelo menos duas merecem destaque especial.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Segrillo explicou que duas teorias poderiam servir para exlicar os fundamentos da Revolução Russa, publicadas em um artigo na internet intitulado 'Historiografia da Revolução Russa, antigas e novas abordagens'.

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"Há duas grandes correntes sobre as causas e as origens da Revolução de 1917. Uma dessas correntes enfatiza os fatos mais estruturais, afirmando que Revolução Russa seria causa dos fatores profundos da sociedade russa, das contradições, arraigadas naquela sociedade", explicou o estudioso. 

"A Rússia estava passando por uma transformação profunda. Uma modernização econômica verificada entre o final do Século XIX e o início do Século XX. Mas o aspecto político estava muito atrasado. A Rússia, até 1905, era uma monarquia absolutista. Não tinha Constituição, não tinha partidos políticos legalizados, não tinha parlamento, etc. Então, essas fortes contradições acabaram levando a sociedade à Revolução Russa de 1917", explicou o interlocutor da Sputnik. 

Segundo Segrillo, existem também algumas outras correntes que se batem contra essas explicações. Muitas eram antisoviéticas e diziam que a Revolução Russa foi provocada por um cenário de caos instalado com a I Guerra Mundial (1914-1918) que desorganizou o país de tal maneira, que um pequeno partido, como o Bolchevique [de Lenin], conseguisse chegar ao Poder. 

"A desorganização na Rússia era tanta [segundo essa teoria] que o país estava imerso numa grande crise conjuntural”, explicou.

Segrillo aponta que a grande consequência da Revolução foi a mudança radical nos rumos do país. A monarquia absolutista deu lugar a um regime republicano, em que uma das preocupações era proporcionar ao povo uma Educação, não concedida de forma ampla pela aristocracia no poder. Mas até mesmo estes fatos acabaram gerando novas tensões, na visão do Professor Angelo Segrillo:

“A Revolução Russa foi extremamente radical em todos os sentidos. Mudou o regime de produção, deu nova configuração às classes sociais. Deixou de haver nobreza para surgir novas classes sociais e isso também se deve ao implemento que os revolucionários deram à questão da Educação no país. O Estado soviético investiu muito no nível educacional da população, e isso teve aspectos positivos e negativos na medida em que mudou o perfil da sociedade do país. Foi uma transformação extremamente radical pelo lado político. Enquanto a sociedade ganhava em Educação, o Estado soviético ganhava força e impunha o autoritarismo", afirmou o historiador. 

Ainda de acordo com o professor, um debate ainda não está inteiramente pacificado na Rússia entre a Teoria do Socialismo em um só país, de Stalin, e a da Revolução Permanente, de Trotsky. Angelo Segrillo esclarece:

“Nos anos 1920, houve um grande embate ideológico na União Soviética. Por um lado, havia a Teoria de Stalin, do socialismo em um só país, e a Teoria da Revolução Permanente, de Trotsky. Venceu o Stalin, embora seja difícil afirmar categoricamente qual das teses foi a verdadeira vencedora", disse Segrillo.

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Segundo ele, depois da Segunda Guerra Mundial, com a vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista, prevaleceu o entendimento de que a Teoria de Stalin havia sido a vitoriosa. Essa teoria afirmava ser necessário reforçar a União Soviética para só depois crescer, resistir às pressões externas e então espalhar a Revolução pelo mundo.

"De alguma forma, isso aconteceu após a Segunda Guerra. As doutrinas do socialismo e do comunismo se espalharam pelo leste europeu e chegaram à China, que também teve a sua revolução (1949, com Mao Tse Tung). Por outro lado, os trotskistas que acompanharam o final da União Soviética, já no início dos anos 1990, argumentavam, com a sua lógica própria, que os regimes encerrados em seus próprios países, como era o caso da União Soviética, acabavam se fossilizando e provocando a própria extinção", explicou o especialistas. 

"O fato é que, passados cem anos, ainda se discute quem tinha razão nessa discussão, stalinistas ou trotskistas”, concluiu Segrillo.

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