Portugal resolve agir contra ataques terroristas

© AFP 2023 / PATRICIA DE MELO MOREIRADois policiais portugueses na cidade de Fátima, em 11 de maio de 2017
Dois policiais portugueses na cidade de Fátima, em 11 de maio de 2017 - Sputnik Brasil
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Portugueses não acreditam estar na linha de frente da guerra contra o terrorismo, mas não deixam de temer que os ataques de Barcelona possam ser repetidos em Lisboa.

O pânico lançado pelas redes sociais

Apesar do bom humor dos portugueses e da ideia de que em seu país não está acontecendo nada de anormal, no final de agosto começaram a circular nas redes sociais postagens falsas sobre o preparo de um atentado em grande escala em Portugal. 

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As mensagens, encontradas no Facebook e Whatsapp, denunciavam um possível ataque na capital e apelavam para que as pessoas se afastassem das zonas mais turísticas da cidade e de "locais fechados" ou "com muita gente". As mensagens diziam ter tido acesso a pessoas ligadas aos serviços secretos portugueses ou das embaixadas estrangeiras. 

"A mãe de uma colega minha que trabalha na embaixada foi avisada!", lia-se em uma das mensagens.

Em outra, escrevia-se que "o SIS [Serviço de Informações de Segurança] e embaixadas entraram em alerta vermelho para ataque terrorista em Portugal nas próximas horas/dias”.  

Em outra mensagem, o alegado alerta estaria circulando em alguns hotéis: "A irmã da Maria trabalha no Tivoli e os hotéis estão a ser informados que há terroristas".

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A propagação das mensagens nas redes sociais obrigou as autoridades a reagir ao mais alto nível.

O primeiro-ministro afirmou, no mesmo dia aos jornalistas, que a ameaça de terrorismo "é global", garantindo que a avaliação realizada mantém o grau moderado de alerta no país, bem como em Lisboa.

O terrorismo "é uma ameaça global, que pode estar em todo lugar. É obviamente dever dos serviços analisar e avaliar cada informação que surge", disse António Costa.

Segundo o primeiro-ministro, ainda em 30 de agosto, a Secretaria-Geral do Sistema de Segurança Interna promoveu "uma reunião com dirigentes máximos de todos os serviços de segurança no âmbito de coordenação ao antiterrorismo" e "a avaliação foi feita", tendo sido "mantido o nível de alerta" moderado que tem vigorado "em todo o país e também na cidade de Lisboa". 

Manter o grau de alerta, mas tomar medidas

O ex-ministro da Administração Interna, ex-diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS) – os serviços secretos portugueses – e fundador do Observatório da Criminalidade Organizada e Terrorismo, Rui Pereira, concordou com o primeiro-ministro português, em declarações que fez à Sputnik Brasil:

"É evidente que Portugal é um alvo possível de atentados terroristas. Em primeiro lugar está no espaço-alvo dos atentados do terrorismo fundamentalista islâmico, faz parte da União Europeia e da OTAN; em segundo lugar, porque faz parte do território do pretenso Califado [quase toda a Península Ibérica foi dominada por árabes até à chamada reconquista cristã]; em terceiro lugar, devido ao que podemos chamar simplificadamente de globalização, tornando-se possível conseguir fazer um atentado nas ruas de Lisboa, Porto e Algarve contra cidadãos de todo o mundo. A localização do atentado, talvez não seja fundamental, porque as televisões de todo o mundo o transmitem, e por isso produzem efeitos muito além do local em que são cometidos".

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Apesar disso, o ex-ministro e ex-diretor do SIS considera que a ameaça não é igual à de outros países da Europa.

"A experiência tem revelado, no entanto, que Portugal não tem o mesmo grau de ameaça como a Espanha, França, Reino Unido. Por quê? Esses países têm comunidades com elementos mais radicalizados que processam a fé islâmica. A nossa comunidade é tradicionalmente muito pacata, vieram das ex-colônias e sem propensão ao proselitismo terrorista. Mas é evidente que isso pode mudar. Em primeiro lugar, porque há pessoas que têm a nacionalidade portuguesa que foram combater ao lado do Daesh, mesmo que não em grande número. O relatório da Europol do último ano chama atenção para o perigo que representa o regresso desses elementos radicalizados à Europa. À medida que o espaço do autodenominado califado encurta no Iraque e na Síria, muitos desses elementos vão voltar aos países de origem e provavelmente terão a intenção de cometer atentados. Apesar do número de pessoas de nacionalidade portuguesa que esteve no Daesh, referenciado em informações, ser em torno de uma dúzia, e algumas já terem morrido, esse perigo existe sempre. O perigo aumenta por estarmos em um espaço de livre circulação, que possibilita que alguém que cometa um atentado, rapidamente vá para outro país", alertou.

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Para Rui Pereira, a não mudança, por parte das autoridades portuguesas, do chamado "grau de ameaça", não implica que medidas não sejam tomadas.

"Os atentados na Espanha justificam a mudança do grau de ameaça? Os graus de ameaça são: reduzido, moderado, significativo, elevado, eminente, e vai de cinco para um. Nós estamos no grau quatro, o grau moderado. Para se passar do grau quatro para o três seria preciso que houvesse indícios palpáveis que pode ser cometido especificamente um atentado em Portugal. E quem faz a avaliação é o SIS, embora recolhendo contributos de outros serviços e de polícias. É perfeitamente razoável ficar neste grau de ameaça. Agora uma coisa temos de compreender, os graus de ameaça não têm associados catálogos fixos de medidas. Manter o mesmo grau não significa que medidas não sejam tomadas, como as que se tomaram, colocando pilares e outras barreiras móveis, em lugares de grande circulação de pessoas, para evitar ataques como os de Barcelona". 

Até agora, Portugal teve sorte, mas nada garante que será poupado de ataques terroristas, tirando o fato de no centro da cidade não haver nenhum carro que consiga acelerar contra os pedestres.

Porém, muitos portugueses não acreditam que seu país poderia vir a ser atacado, por exemplo, colaborador da mais popular estação de televisão portuguesa, a TVI, que publicou um texto no Facebook sobre a situação em seu país e a possibilidade das ruas portuguesas serem atacadas por terroristas:

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