Do sonho ao pesadelo: como Israel venceu a guerra e acabou com o anseio palestino

© AP Photo / Khalil HamraMenino palestiniano sentado sobre ruínas depois de bombardeio da Faixa de Gaza por Israel, agosto de 2014
Menino palestiniano sentado sobre ruínas depois de bombardeio da Faixa de Gaza por Israel, agosto de 2014 - Sputnik Brasil
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Passadas três guerras e um bloqueio militar que já dura uma década, Gaza e os seus 2 milhões de habitantes vivem hoje uma realidade de fortes dificuldades para sobreviver. E ao contrário de tempos passados, desta vez a culpa não é de Israel, mas sim de outros palestinos.

Esta é a conclusão de um artigo publicado nesta semana pela revista norte-americana Newsweek, na qual o sonho de dois Estados soberanos – Israel de um lado, e a Palestina de outro – parece finalmente enterrado, e sem chance de ressuscitação. Mais do que a hegemonia de Tel-Aviv, parte do problema passa pelos palestinos.

O fornecimento de energia vem enfrentando problemas em Gaza. O "culpado" é ninguém menos do que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, em uma retaliação aos militantes islâmicos do Hamas, que dominam a cidade. Rachados, os palestinos parecem ainda mais em desvantagem do que já eram unidos.

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Segundo um dirigente do Hamas, a queda de braço do lado palestino se deve a uma postura de Abbas em relação ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O presidente palestino estaria tentando mostrar que possui pulso firme contra o terrorismo, classificação dada ao grupo islâmico pela Casa Branca.

Desde o início da sua gestão, Trump procurou ressaltar que acreditava na solução de dois Estados na região. Porém, a imprensa árabe acredita que o republicano deverá abandonar tal esforço. Em uma recente visita à região, o genro de Trump, Jared Kushner, teve conversas “difíceis” com Abbas. Na mesma semana, Israel iniciou a construção de 7.000 moradias na zona ocupada no leste de Jerusalém, e iniciou um novo assentamento na Cisjordânia.

Mesmo com os sinais de que a Casa Branca pende para o lado israelense, os cortes de energia, de medicamentos e de salários para civis que vivem em Gaza continuam, e por ordem de Abbas.

"Os palestinos, que vivem sob ocupação ou espalhados pela diáspora, têm sido a parte mais fraca no conflito com Israel. Durante décadas, no entanto, eles conseguiram fazer uma luta dura", afirmou o artigo, em referência à Guerra do Seis Dias, em 1967, às três guerras travadas pelo Hamas contra Israel, às duas Intifadas, e os vários ataques suicidas contra israelenses, que por sua vez responderam com mais violência.

"Ao longo da última década, palestinos mataram cerca de 200 israelenses, menos da metade do número que mataram em um único ano, 2002, no auge da Segunda Intifada. Os legisladores tratam a violência como inevitável. Mesmo no auge da última guerra de Gaza, a maior manifestação pró-paz em Tel Aviv atraiu apenas 5.000 manifestantes. Cerca de meio milhão de israelenses, em contrapartida, acabaram no verão de 2011 para protestar contra o alto custo de vida. Enquanto isso, os esforços diplomáticos de Abbas não representaram muito: juntar-se à Convenção Internacional Contra o Doping no Desporto não pareceu ter qualquer pressão significativa sobre Israel", criticou a Newsweek.

Sem consenso

Rachados, os palestinos hoje vêem o Hamas e o Fatah gerirem os seus territórios cada qual a sua maneira, e nem sempre democraticamente. E nem mesmo nas eleições realizadas em maio um único partido conseguiu reunir o apoio majoritário da população. A polarização pouco ajuda a unir um povo, os quais 75% não têm dúvidas de que o seu governo é corrupto.

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"Uma década depois de seus mandatos para serem expirados, nenhum dos lados quer realizar eleições. Longe de alcançar uma solução de dois Estados, eles criaram uma realidade de três Estados: dois em ruínas e dominados por um Israel forte e próspero. E, embora em muito longo prazo, o status de Israel como um estado judaico e democrático ainda esteja em perigo, cinco décadas após a ocupação ter começado, o movimento nacional palestino parece em grande parte derrotado", disse a publicação.

Segundo analistas ouvidos pela Newsweek, os palestinos mais jovens já não acreditam na solução de dois Estados. Ao mesmo tempo, poucos na comunidade internacional parecem acreditar que tal desfecho traria estabilidade ao Oriente Médio, sobretudo com a presença dos terroristas do Daesh na área. E Israel está hoje mais próximo a antigos inimigos, como os egípcios e os sauditas.

Com pouco a oferecer em termos de alianças, os palestinos parecem mais isolados do que nunca. "Deixamos de ser o principal tema na região […]. Que as novas gerações tragam novas ideias", sentenciou um especialista local.

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