Peritos: 'Arca da Paz' tanto é 'soft power' como 'hard power' da diplomacia naval chinesa

© AFP 2023 / Yamil LageNavio chinês (foto de arquivo)
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A missão do hospital militar flutuante Arca da Paz aos países da Ásia Meridional, Oriente Médio e África Oriental é exclusivamente humanitária.

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A China ajuda a resolver problemas sociais, fortalecendo sua imagem e facilitando os negócios de empresas chinesas. A longa viagem da Arca da Paz é, pelos vistos, uma advertência de que a China é capaz de tomar sob seu guarda-chuva militar os países que têm interesse numa colaboração ativa com ela. É assim que os especialistas comentaram à Sputnik China a missão do navio-hospital Arca de Paz da Marinha do Exército de Libertação Popular aos portos do Sri Lanka, Djibuti, Serra Leoa, Gabão e República do Congo.

Desde 2010, esta é a sexta viagem longa do navio-hospital militar chinês. Sua viagem se iniciou em inícios de agosto. A duração da viagem é de 150 dias. Durante a permanência nos portos de países estrangeiros, os marinheiros chineses proporcionam à população local assistência médica qualificada gratuita e compartilham a experiência profissional com seus colegas. A colaboração humanitária é uma área que permite aos povos e governos entenderem melhor uns aos outros, frisou o politicólogo russo e especialista do Instituto dos Estudos Estratégicos, Adzhar Kurtov:

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A saúde pública é área menos politizada de todas. As afirmações e reclamações contra a China sobre seus alegados planos expansionistas em relação à África são inconsistentes. Ou que ela envia o hospital flutuante para lá, particularmente, para o Djibuti, porque tem planos ligados a aspetos militares e políticos da presença naquela região. A África é um dos continentes mais atrasados quanto a serviços de saúde pública. Epidemias e fome são fenômenos regulares, as consequências de guerras civis também são notáveis. É difícil receber assistência médica qualificada. Assim, aquilo que marinheiros chineses estão fazendo, é inestimável. Essa iniciativa demonstra que a China está realizando gradualmente sua linha em política externa tentando fortalecer a colaboração com os mais diversos países e continentes.

O diretor do Centro de Estudos do Sul do Pacífico, parte integrante do Instituto de Problemas Internacionais Chinês, compartilha essa opinião.

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Esta já é a sexta missão do navio militar Arca de Paz que visa fornecer serviços no campo da saúde pública a países relativamente pobres. A China tenciona fazer o mais possível para promover a estabilidade e o desenvolvimento e, simultaneamente, promover ferramentas de "soft power", criando uma imagem positiva da China no mundo. Em geral, eu acredito que o fortalecimento da influência da China é o fortalecimento da força pacífica global. Quando a China virou uma potência poderosa, seu papel no desenvolvimento mundial cresceu. A China segue sempre os princípios do humanismo e defende a paz no planeta. Isso corresponde às tradições antigas da China de "praticar o bem e conquistar a reputação do Império Celeste". "Os amigos por todo o mundo" se guiam pelo fato de que a China beneficia o desenvolvimento de outros países e regiões. Não é comum para a China iniciar guerras, provocar conflitos regionais a crias caos. Tudo o que se faz é para promover a paz, estabilidade e desenvolvimento regional.

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O Arca de Paz já viajou para países da Ásia Meridional, do sul do Pacífico, da África, da América Latina e do Caribe e à Austrália. A este respeito, os observadores prestaram atenção à viagem do hospital militar ao porto de Djibuti, onde no dia 1 de agosto a China inaugurou oficialmente sua primeira base militar no estrangeiro. A missão do Arca da Paz ao Djibuti reflete a intenção do Exército de Libertação Popular de se tornar em um parceiro sério e seguro nas missões humanitárias da China, frisa Mathieu Duchâtel, vice-diretor do programa "Ásia e China" do Conselho Europeu para Relações Externas. A opinião dele foi citada pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post. A presença do Arca da Paz no Djibuti é uma advertência que a Marinha da China também tenciona investir em "soft power" a fim de receber apoio da população local.

"Não é uma afirmação completamente correta, porque geralmente o ‘soft power' e os ‘investimentos suaves' são usados para pressionar o ambiente empresarial local ou as elites políticas dominantes", polemiza com o perito europeu o especialista em política asiática da Escola Superior de Economia, Aleksei Maslov:

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Em minha opinião, a presença da Marinha é uma advertência sobre um possível uso do "hard power" que a China possui. Durante muito tempo a China apostou apenas no "soft power", o que inicialmente funcionou. Mas, por sua vez, há uma crítica forte à China, incluindo por parte dos especialistas norte-americanos, que o país por enquanto não consegue defender seus avanços via força militar. A China quer demonstrar aos seus parceiros potenciais que, na verdade, o país possui todas as ferramentas necessárias para tomar sob seu guarda-chuva militar os países que começam colaborando ativamente com ele.

A missão Arca da Paz é um sinal de que a China incorporou a diplomacia militar na tendência do seu projeto global "Um cinturão e uma rota". Trata-se mesmo da componente naval, porque a China, sendo uma grande potência militar e econômica, foi criticada com muita frequência pela falta de uma presença naval. Para Pequim é importante sinalizar que ela realmente não está apenas presente nos mares, mas que tem experiência de viagens longas.

Maslov acredita que atualmente a China está preparando uma expansão notável de sua presença através de bases navais. Trata-se de bases potenciais no oceano Índico e no Oriente Médio. A base no Djibuti é apenas o primeiro passo, pois a China vai alargar esta prática.

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Através das viagens marítimas longas, a China está tentando fazer os outros se acostumarem a que o país vai estar presente em várias regiões, bem como mostrar que ela é uma potência marítima e naval, o que anteriormente não se estava observando. Vale ressaltar que tudo isso está acontecendo num contexto de confronto marítimo entre a China e os EUA. De acordo com Maslov, por isso "é importante para a China manter sua marinha, bem como seus recursos para sua manutenção, o mais distante possível do seu litoral e o mais próximo possível do litoral dos EUA. É a tarefa principal das viagens longas de navios chineses".

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