Pressão latino-americana sobre Venezuela pode desencadear intervenção militar dos EUA

© REUTERS / Marco BelloNicolás Maduro, presidente de Venezuela
Nicolás Maduro, presidente de Venezuela - Sputnik Brasil
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A crescente pressão de países da América Latina, sobretudo do Mercosul, sobre o governo do presidente Nicolás Maduro pode levar os Estados Unidos a porem em prática um plano de intervenção militar no pais. A possibilidade foi admitida por Denilde Holzhacker, professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, a especialista em assuntos das Américas, diz que este é um risco real, embora acredite que ainda há margem para que outros tipos de pressão possam excluir agora tal risco. Para Denilde, os Estados Unidos têm atualmente múltiplos focos internacionais de tensão, como o agravamento da crise com a Coreia do Norte, um desentendimento crescente com a China, em virtude da Península Coreana, e mesmo com a decisão de aumentar o número de tropas no Afeganistão. Um segundo front, na  Venezuela, só aumentaria o desequilíbrio na região e o desgaste político de Washington.

Na terça-feira, Maduro enviou uma carta ao Papa Francisco, pedindo ajuda para que Trump não invada a Venezuela. Na missiva, o presidente pediu ainda que o pontífice o ajude com a "obsessão, a prepotência e agressividade" do presidente da Argentina, Maurício Macri, e do Brasil, Michel Temer, que o denunciam por autoritarismo. 

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Maduro diz que tem medidas preparadas para defender Venezuela do bloqueio de Trump

Para a professora da ESPM, as falas de Trump admitindo a possibilidade de uma intervenção militar são uma forma adicional de pressão sobre Maduro, que poderiam ser reforçadas como a aplicação de novas sanções e maior pressão internacional. Denilde chama a atenção para o fato de que uma intervenção militar americana reforçaria o poder político interno de Maduro, permitindo a adoção de medidas mais duras contra a oposição em nome da defesa nacional.

"O governo do presidente Maduro está isolado na América do Sul. Os aliados são o Equador, a Bolívia e alguns países da América Central, principalmente Cuba.Outros países têm tido posições mais duras, caso da Colômbia, que tem sido mais enfático na posição contra o governo do que o governo brasileiro. No Mercosul, o governo da Argentina foi o mais enfático em posições mais duras contra o governo. Hoje a Argentina é um aliado mais próximo do governo Trump, mais inclusive do que o Brasil", diz Denilde.

"O custo de uma intervenção na Venezuela seria muito alto, inclusive para os países da região: Brasil e Colômbia que estão na fronteira com a Venezuela. Uma intervenção militar poderia trazer mais conflito para seus territórios e uma leva de emigração maior do que a gente já está recebendo", observa a professora, lembrando que o México está num processo de rediscussão do Nafta com os Estados Unidos e sofrendo pressões internas contra o acordo por parte de setores produtivos, como da agricultura, e de boa parte da elite. Denilde diz ainda que, por mais que se tenha uma visão positiva dos Estados Unidos, há muita desconfiança da elite latino-americana em relação ao governo Trump.

"Há uma visão de que foi construída, principalmente ao longo dos anos 2000, uma autonomia da América Latina em conseguir resolver seus problemas sem uma intervenção direta americana. Esses fatores são limitadores para uma ação dos EUA.A Venezuela tem outros parceiros importantes, o que a coloca numa situação diferenciada de outros países que têm conflitos com os Estados Unidos. A preocupação americana hoje é a forte relação da Venezuela com China e Rússia, que é outro importante aliado do governo Maduro. A Venezuela entra num jogo estratégico internacional que não é só a questão de governo, mas também como uma situação de aumento do conflito traria para a América Latina parte das disputas que estão em outros tabuleiros no mundo", conclui Denilde.

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