Big Stick: Trump quebra promessa de campanha e dá sobrevida a Maduro

© AFP 2023 / Olivier DoulieryPresidente dos EUA, Donald Trump, brinca com um bastão de beisebol durante evento na Casa Branca
Presidente dos EUA, Donald Trump, brinca com um bastão de beisebol durante evento na Casa Branca - Sputnik Brasil
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Ao contrário do que prometeu aos eleitores, o atual presidente dos EUA vem adotando uma postura bastante intervencionista mundo afora. O último exemplo dessa política foram suas polêmicas declarações em torno da crise venezuelana, que, segundo um analista ouvido pela Sputnik Brasil, podem indicar uma tentativa de ressuscitar o chamado Big Stick.

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Em pouco tempo à frente da maior potência militar e econômica do planeta, Donald Trump deixou claro para todos que não pretende cumprir uma de suas principais promessas de campanha, a de que, diferentemente de Barack Obama e Hillary Clinton, ele governaria muito mais preocupado com as questões internas dos EUA e deixaria de lado as intervenções em assuntos de outros países. Na última semana, numa demonstração clara de rejeição a um possível isolacionismo nacional, como queriam muitos dos seus eleitores, o chefe de Estado norte-americano causou grande preocupação internacional ao dizer que não poderia descartar a possibilidade de uma ação militar para resolver a situação da Venezuela. Para Pedro Costa Jr., professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco e da Faculdade de Campinas, essa pode ter sido apenas mais uma das declarações impulsivas de Trump, mas que, por ter sido feita pelo presidente dos Estados Unidos, deve ser levada a sério.

"Mesmo que seja uma bravata, ela acaba indicando alguma coisa. A diplomacia sempre esconde alguma coisa por trás das palavras", disse ele. "Isso não significa que o Departamento de Estado americano não tenha planejado, não tenha em vista, não tenha no horizonte uma ameaça militar real". 

De acordo com Pedro Costa, embora Trump, antes de chegar à Casa Branca, tenha dado garantias ao seu povo de que iria manter os EUA distantes de questões que não dizem respeito aos norte-americanos diretamente, não é incorreto dizer que, ao contrário disso, a atual administração parece estar ressuscitando o chamado Big Stick (grande porrete), estilo de diplomacia utilizado por Theodore Roosevelt, no início do século XX, para impor as vontades de Washington através do uso da força quando necessário.

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"O que ele vem fazendo é exatamente o oposto. Ele vem tensionando com a Coreia do Norte, já, pouco tempo atrás, interveio diretamente na questão da Síria, onde ele disse que não iria intervir, durante a campanha toda… Não muito tempo atrás, ele explodiu aquela chamada bomba-mãe ['mãe de todas as bombas'] no Afeganistão e, enfim, vem tensionando também com os aliados tradicionais dos Estados Unidos, nas questões da OTAN na Europa. Parece que ele vem tirando o bastão do bolso, o chamado Big Stick, e vem usando cada vez mais, ou dando intenção de usar, o chamado hard power, em detrimento do soft power, sobretudo na América Latina."

Os resultados dessa abordagem mais incisiva dos EUA no continente americano dependerão, ainda de acordo com o professor, da reação dos países latino-americanos, que inclusive já condenaram as declarações de Trump sobre a Venezuela. Para o especialista, no momento, a única consequência clara dessa polêmica é a "sobrevida" dada ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que, antes pressionado por todos, conseguiu o apoio de muitos críticos, incluindo membros da oposição interna, contra a possível ingerência norte-americana.

"Desde Sófocles, nós sabemos que a melhor maneira de se unir um povo, de ter um pouco de coesão interna, é arrumando um inimigo externo. E Trump deu isso de presente para a sociedade fraturada venezuelana."

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