Criação de 'minibombas' americanas implica novo alastramento de armas nucleares no mundo?

CC BY-SA 2.0 / Dave Bezaire / Bomba nuclear B61Bomba nuclear da produção norte-americana, B-61 (foto de arquivo)
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A declaração de um general americano sobre a "necessidade" de possuir armas nucleares de menor potência marcou uma mudança importante no discurso sobre o hipotético uso deste tipo de armas.

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Segundo destaca o portal russo Lenta.ru, o status atual das armas nucleares supõe um mecanismo bastante sensível para manter a paz: no caso de um ataque contra um possuidor de tais armas, o ataque de resposta seria tão desastroso que a agressão perderia qualquer valor para o atacante.

Porém, este modelo já não é suficiente, acredita o general Paul Selva, vice-presidente do Estado-Maior Conjunto norte-americano.

Mudança do enfoque

Para o militar, as estratégias de contenção nuclear moderna requerem armas nucleares táticas que sejam capazes de realizar ataques isolados contra certas áreas, destruindo tudo dentro de uma pequena área ou de uma parte da cidade.

"Se a única coisa que se pode oferecer ao presidente dos EUA é uma arma ultrapotente com alto nível de destruição indiscriminada, pois, na essência, não se pode oferecer nada", assegurou Selva durante um discurso em uma conferência aeroespacial.

O militar afirmou que, enquanto a noção de usar as armas nucleares é "aterrorizante" em si mesma, se deve "pôr sobre a mesa [dos governantes do país] todas as opções desde a estabilidade estratégica até enfoques radicalmente novos".

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"Devemos ter a possibilidade de responder a qualquer ação hostil de uma maneira racional, flexível e multifacetada. […] É preciso ter a vontade de usar as armas, as próprias armas e a possibilidade de o fazer. Sem isto, não haverá contenção nenhuma", enfatizou.

Nova vida para ogivas pequenas

Atualmente, as bombas atômicas de queda livre tipo B61 representam uma grande parte dos arsenais nucleares dos EUA, escreve Konstantin Bogdanov em seu artigo para o portal russo.

Além de mais de 10 modificações, o projétil, aprovado pelo exército dos EUA em 1968, segue vigente em grande parte graças à sua capacidade tática de selecionar a potência da explosão entre "estratégica" e "tática".

Porém, talvez a novidade mais significativa seja a última modificação da bomba, a B61-12, ou seja, sua capacidade de ser guiada. A bomba está equipada com um sistema de controle e com asas de cauda, o que permitirá aos militares americanos controlarem o voo do projétil com alta precisão.

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Entretanto, além de preferir o sistema de voo controlado ao lançamento de paraquedas, a bomba modernizada é suficientemente compacta para caber na fuselagem de um caça furtivo F-35 americano, no qual os militares apostam muito, sem que alguém possa dizer que o avião porta armas nucleares.

Ao escolher o modo de "baixa potência", a bomba se converterá em uma arma tática.

"Trata-se de uma bomba nuclear destinada a conflitos locais, inclusive àqueles contra nações carentes de arsenais atômicos ou capacidades de luta antissatélite [crucial para as munições guiadas]", explica o autor.

Implicações alarmantes

Bogdanov citou o ex-militar norte-americano Norton Shwarz que qualificou as bombas B-61-12 como uma advertência dos EUA aos outros países sobre a existência de uma arma nuclear de alta precisão e efeito limitado, além da emissão reduzida de radiação. De acordo com Shwartz, este fato deveria fomentar a estabilidade e o "poder" da dissuasão nuclear.

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Selva, por sua parte, usou os mesmos argumentos, mas na qualidade de alto responsável militar na hierarquia norte-americana em serviço ativo.

"Em essência, vamos observando a história: o enfoque [no uso das armas nucleares] está sendo mudado. De uma 'arma do Juízo Final', os militares passam para uma bomba atômica que se pode detonar localmente, sem o risco de uma escalada bélica e sem consequências sociopolíticas devastadoras", afirma o Bogdanov no seu artigo.

Ao longo dos anos, diminuir as exigências ao uso das armas nucleares e ampliar o clube de potências atômicas foi algo que tem suscitado horror entre os especialistas. Mas, hoje em dia, os militares procuram ativamente criar uma arma nuclear que se possa utilizar de forma mais "livre", concluiu o autor.

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