Aptidão tecnológica russa: 'piada sobre impressora 3D que se imprimiu deixou de ser piada'

© Foto / Universidad Carlos III de MadridProtótipo de uma impressora 3D
Protótipo de uma impressora 3D - Sputnik Brasil
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A reitora da NUST MISIS (The National University of Science and Technology MISIS), Alevtina Chernikova, contou, em entrevista à Sputnik, sobre o novo programa de mestrado na área de produção digital.

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Sputnik: A NITU MISIS se tornou a primeira universidade a lançar na Rússia um programa de mestrado na área de produção digital. O que faz este programa único? E como aderir a ele?

Alevtina Chernikova: O programa de mestrado foi elaborado e é realizado com base no Departamento de Ciência dos Metais Não Férreos e no laboratório FabLab da MISIS. Vale notar que é o único laboratório deste tipo na Rússia que possui o certificado da MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts). O objetivo inicial do laboratório era trabalhar com estudantes dos dois primeiros anos da universidade. Mas, dentro de pouco tempo, chegamos à compreensão de que as nossas competências são suficientes para o nível de mestrado.

O programa "Tecnologias e Materiais de Produção Digital" foi elaborado em conjunto com a Universidade da Catalunha (Barcelona), onde agora está situado um dos laboratórios mais avançados do projeto FabLab no mundo.

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Os primeiros alunos aderiram ao programa em 2015, e em junho de 2017, os mestres “digitais” já defendiam as suas dissertações. O processo de ensino segue os princípios “crie uma ideia – desenhe – realize – gere”. Estes princípios são comuns para a MISIS em todos os níveis de ensino. O exame final obrigatório consiste em um projeto próprio, ou seja, um dispositivo funcional desenhado e produzido pessoalmente. São trabalhos brilhantes e interessantes. Um exemplo: farol de moto capaz de iluminar o caminho com um feixe de luz a um ângulo de 120 graus; outro exemplo: sistema de reconhecimento de rostos, baseado em redes neurônicas.

No que toca ao ingresso, em 2017, 20 vagas gratuitas foram destinadas a este programa. Não aumentamos o número de vagas, pois o programa é o mais flexível e os estudos são realizados em conformidade com a individualidade de cada aluno.

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S: Quem a senhora espera ver entre estes mestres “exclusivos”? Que capacidades estas pessoas terão após terminarem os estudos?

AC: Nós aguardamos graduados de programas de bacharelado de universidades técnicas, interessados nas ciências de engenharia e que tenham conhecimentos fortes nas áreas de física, química, matemática e informática. O nível de preparação básica serve para que sejam definidas as trajetórias individuais do ensino, desenvolvendo o interesse na criação técnica. A universidade vai formar especialistas capazes de integrar competências de diversas áreas do conhecimento para que novos produtos com alto teor tecnológico apareçam no mercado. Os graduados deste programa são os engenheiros do futuro.

S: Onde os mestres irão praticar o que aprenderam?

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AC: O trabalho individual e independente é uma das particularidades do programa. Este trabalho será realizado no laboratório de produção digital, onde os alunos irão tomar conhecimento prático dos novos equipamentos, tecnologias e materiais. O processo educativo terá a participação de especialistas internacionais: professores universitários, que juntam a prática pedagógica com trabalho nas áreas de design, arquitetura e modelação digital. Especialmente, o mestre de design arquitetônico Giuseppe Fallacara, da Universidade Politécnica de Bari (Itália), Jennifer Astwood, chefe do programa de design industrial da Universidade de Wisconsin (EUA).

No final de junho de 2017, foi aberto na MISIS o Centro de Engenharia de Protótipos de Alta Complexidade “Cinética”.  Este centro também vai se tornar uma plataforma industrial prática para os alunos do mestrado.

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S: Qual é o seu prognóstico sobre o futuro emprego dos graduados?

AC: Qualquer universidade, que visa liderança, tem dois objetivos globais: o de formar agendas científica e educativa próprias e o de responder aos desafios da época, de atender às demandas do negócio; por isso a nossa universidade colabora com parceiros na área de negócios. Já hoje, os nossos graduados têm uma série de ofertas de emprego. Por exemplo, o projeto de módulo automatizado de cultivo de plantas, obra de uma mestra nossa, já se ingressou no acelerador de negócios da Bayer. Outra pessoa, que já terminou os estudos, trabalha em uma startup de projeção de drones de médio e pequeno porte.

© Foto / Assessoria de imprensa da NUST MISISA reitora da NUST MISIS, Alevtina Chernikova
A reitora da NUST MISIS, Alevtina Chernikova - Sputnik Brasil
A reitora da NUST MISIS, Alevtina Chernikova

A participação em startups é um dos exemplos mais representativos de criação de pequenas empresas inovadoras com base em projetos científicos de alunos universitários. Há uns anos, os alunos da nossa oficina de construção criaram o modelo matemático da tocha olímpica para os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi. O designer industrial Vladimir Pirozhkov, de renome internacional, encabeçou as obras de elaboração do desenho da tocha. Pirozhkov passou a chefiar o já mencionado Centro de Engenharia de Protótipos de Alta Complexidade da NUST MISIS “Cinética”.

Depois, estes alunos criaram a sua própria pequena empresa inovadora, a Karfidov Lab, que fez aparecer no mercado tais produtos como máquina de café para carro e seringa que facilita utilização por pessoas que não possuem formação médica. Agora, a Kafidov Lab trabalha também com projetos grandes, que eles realizam juntamente com organizações científicas e industriais grandes.

Eu poderia citar muitos exemplos como estes, quando jovens interessados mostram resultados surpreendedores na sua tarefa de criar novos produtos. Eles compreendem os desafios globais nacionais que a sociedade enfrenta, eles sabem trabalhar em projetos interdisciplinares. O mundo muda com uma rapidez que nos obriga a olhar para o futuro, para formar especialistas que serão procurados amanhã.

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S: Como a senhora estima o nível de equipamento material do laboratório? Ele corresponde às normas mundiais? Quanto custou?

AC: Em 2012, nós criamos o laboratório de produção digital. Os custos iniciais chegaram a 150 mil dólares. Isso foi bastante para equipar o FabLab com os dispositivos essenciais: uma fresadora com um campo de ação largo, um dispositivo de recorte a laser, uma fresadora de precisão, uma impressora 3D, um plotter de recorte. Ampliamos a estrutura do FabLab anualmente, comprando os equipamentos mais modernos.

S: Quais são alguns dos projetos concretos já realizados no FabLab?

AC: A atividade do FabLab é realizada em diversos formatos. O FabLab é o ideólogo e o organizador de toda uma série de eventos para crianças e adultos. Primeiramente, são projetos educativos para os alunos de escolas moscovitas: o FabLab participa ativamente de muitos eventos de orientação profissional, oferecendo aos alunos a possibilidade de aprender produção digital e de produzir coisas por conta própria.

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Outro nível, que nós já discutimos, é o trabalho com os alunos universitários. Os mestres da MISIS visitam regularmente os FabLabs na Europa e nas Américas, o nosso FabLab recebe colegas de laboratórios de produção digital de todo o mundo para realização de trabalhos práticos. Uma vez por semana, o FabLab abre as suas portas aos moradores da capital russa: cada pessoa interessada pode vir e realizar a sua ideia. Além disso, já é o segundo ano que o nosso FabLab é o organizador do Maker´s Fire, festival internacional que reúne engenheiros, construtores, artistas, cientistas e pessoas simplesmente talentosas e curiosas que partilham a sua criatividade com os outros.

No que toca à realização de projetos concretos, há muitos: das gravuras clássicas de M. Escher materializadas com a ajuda de laser e acrílico, aos abajures para lâmpadas de diodos de papelão ondulado; da “pequena casa”, protótipo de uma construção funcional feita com uma máquina digital, à “árvore da criatividade”, que reproduz elementos muito complexos de formas irregulares. Este último projeto foi levado a cabo pelo FabLab sob a direção do professor Fallacara, que tem visitado a NUST MISIS várias vezes para dar aulas, organizar ateliês e trabalhar em conjunto com os alunos do mestrado.

S: A fronteira entre a informação e a matéria desaparece. Quais serão as consequências disso, em sua opinião?

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AC: Hoje, nós estamos dentro de uma nova revolução tecnológica: a digital. O desenvolvimento dos computadores foi a primeira etapa das mudanças, e a nova onda de mudanças tecnológicas foi marcada pelos avanços nos cálculos, nas comunicações e na Internet. Tudo isso levou a uma democratização radical do recebimento, da preservação, do tratamento e da transmissão da informação. As tecnologias digitais não só se tornam industriais, senão também personificadas.

É dessa maneira que o nosso mundo muda, a nossa vida muda. Por exemplo, a agenda atual tem umas coisas muito importantes para todo o planeta: a produção sem rejeitos e a preservação dos recursos. Antes, para produzir uma peça, nós tínhamos que separar as demasias, produzindo rejeitos. Hoje, a tecnologia de “cultivo de produtos” está se desenvolvendo. Eu acho que, no futuro, a mudança dos paradigmas será ainda mais dinâmica. Por isso nós não só devemos responder às demandas da indústria, mas ultrapassá-las no intuito de formar pessoal qualificado para as profissões do futuro.

S: É, parece que a piada sobre a impressora 3D que imprimiu a si mesma deixou de ser uma piada.

AC: Não é mais nenhuma piada, senão a realidade. Temos um projeto conjunto com o MIT chamado “Máquinas Produzindo Máquinas”. Os robôs se reproduzem hoje em dia. Mais do que isso, hoje já é realidade – laboratórios de reprodução de órgãos humanos com a ajuda de tecnologias 3D. Parece obra de ficção científica, porque ainda não estamos acostumados, mas há tais exemplos já hoje.

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S: A Rússia não estará na retaguarda do desenvolvimento das tecnologias digitais?

AC: Isso dependerá de nós: quão prontos estamos para nos envolvermos neste processo, como vamos preparar as nossas crianças de hoje para o dia de amanhã com os seus desafios.

É obrigação nossa dar-lhes uma formação profissional, conhecimentos, capacidades e competências que lhes farão competitivos no mercado de trabalho global. O mundo ao nosso redor está mudando, e a uma velocidade enorme. Já não é possível, como antes, ficar vários anos só com conhecimentos recebidos durante os estudos na universidade. Hoje, é necessário apreender sem parar.

No mundo contemporâneo, que muda muito rapidamente, um especialista que apresenta um interesse para o mercado do trabalho deve se adaptar rapidamente, avaliar a situação a uma larga escala, saber tomar decisões durante situações de estresse, isto é: fazer aquilo que um robô não pode fazer. E também ser capaz de se educar permanentemente. Por isso nós não somente devemos transmitir aos nossos alunos os conhecimentos essenciais, mas ajudar a cada um deles a fazer uso do seu potencial criativo, sem o qual é impossível criar uma carreira de sucesso em uma empresa contemporânea.

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