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Crise política: 'O Brasil caiu num poço sem fundo'

Manifestação na orla da praia de Copacabana, em defesa da Operação Lava Jato
Manifestação na orla da praia de Copacabana, em defesa da Operação Lava Jato - Sputnik Brasil
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Denúncias de corrupção contra o presidente da República; “apagão” no Plenário do Senado, contra ocupação da Mesa, na votação final da reforma trabalhista; manobras do Governo para garantir a blindagem do presidente; delações premiadas envolvendo dezenas de políticos influentes.

Estas são algumas das situações vividas e enfrentadas pelo Brasil do Presidente Michel Temer. Diante deste quadro, nada animador, Sputnik Brasil colheu opiniões entre cientistas políticos que atuam em instituições acadêmicas. Entre outras questões, foi perguntado aos especialistas: Onde a crise vai parar? Qual o futuro do cenário político brasileiro? A situação pode piorar? A economia vai suportar a crescente desmoralização da política? Há perigo de ocorrer uma solução não institucional?

O cientista político Antônio Marcelo Jackson, da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, afirma:

“Observando este quadro envolvendo os políticos brasileiros, o que podemos concluir? Que eles estão agindo conforme seus interesses mesquinhos e egoístas. Não há mais pudores. As pessoas estão agindo somente levando em conta os seus interesses. O quadro político nacional se transformou num poço sem fundo, e a situação pode se deteriorar ainda mais. Se pensarmos que as instituições estão falidas – e este não é um fenômeno de hoje – podemos piorar, sim, para um caos social completo. Na verdade, basta observar para vermos que já temos vários sinais disso, como a violência cotidiana das ruas, a falta de escrúpulos por parte de algumas pessoas em agredir outras, o desrespeito social, Já vivemos enfim o caos social. E daí em diante a tendência é só agravar. A única perspectiva que tenho, como cientista social, é que a situação chegue a um ponto tal de ruptura social que, percebendo isso, os agentes políticos, eles mesmos, recuem. A Teoria Política diz isso claramente, e a minha esperança reside aí, para que não tenhamos um caos social total.”

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Já Sônia Fleury, doutora em Ciência Política, mestre em Sociologia e professora da Ebape (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro), opina:

“O quadro político pode se agravar, sim. Tudo depende não só do Congresso e das ações do Governo mas também das delações que poderão surgir e comprometer ainda mais o presidente da República, que está tentando sobreviver a essas mudanças fazendo o jogo político que considera necessário para se salvar.”

A Doutora Sônia Fleury observa ainda: “Michel Temer, porém, não depende só das suas relações com o Congresso, junto ao qual pode utilizar seus artifícios. Ele depende, fundamentalmente, das novas delações que poderão surgir e comprometê-lo ainda mais. Isto sem contar com outras denúncias que possam vir a ser feitas ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República. Vejo o Governo usando todos os expedientes para se manter, mas este tipo de atitude pode ter riscos e consequências.”

Segundo Sônia Fleury, “este Governo se apoia em políticos que enfrentam os mesmos problemas do presidente da República e também nos fortes grupos empresariais que apoiaram o afastamento da Presidente Dilma Rousseff. Só que há contradições entre eles, e não se sabe que reflexos tais ações poderão ter para a economia do país. Politicamente, o Governo liberou verbas para atender a diversas emendas de parlamentares que poderão votar a seu favor. Mas ele não pode ignorar o fato de que, se até aqui contou com o apoio dos empresários, foi porque, entre outros objetivos, eles queriam a aprovação pelo Congresso da Reforma Trabalhista. E isso, como é público e notório, eles conseguiram. Porém, apesar de tudo isso, não se pode negar que há diferenças e contradições entre o Governo e o grande empresariado.”

E como fica a atuação do Ministério Público Federal diante dessa situação. Para o cientista político Carlos Eduardo Martins, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o MPF se vê numa situação dúbia:

“Por um lado, está claro que o Ministério Público Federal parte para ações decisivas, e, por outro, vê-se nitidamente que há inúmeras tentativas de conter suas ações, principalmente no âmbito da Operação Lava Jato. Já houve modificações na estrutura funcional da Polícia Federal do Paraná, no setor que apoiava as ações dos procuradores da República, e há decisões de ministros do Supremo Tribunal Federal que revertem os efeitos do trabalho dos membros do MPF. Não há a menor dúvida de que o Ministério Público Federal está diante de um sério impasse: ao mesmo tempo que avança nas investigações, ele se depara com decisões que atenuam os efeitos de suas investigações. Diante de tudo isso, a situação política e o caos social no Brasil só tendem a se agravar. O Brasil caiu num poço sem fundo.”

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