'Até idiota entenderia que não faz sentido intimidar Pyongyang'

© REUTERS / KCNAO líder norte-coreano Kim Jong-un
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A política bélica de Donald Trump em relação à Coreia do Norte está presa em um beco sem saída, opina Pyotr Akopov, colunista do jornal Vzglyad.

O recente lançamento de míssil balístico norte-coreano provocou discussões entre os especialistas sobre qual seria o seu real alcance: uns dizem que se trata de um míssil de médio alcance, enquanto outros insistem que a Coreia do Norte lançou um míssil balístico intercontinental (ICBM, sigla em inglês), com um alcance de mais de 5.500 quilômetros, capaz, portanto, de atingir o território dos EUA.

"De todas as maneiras, se não tiver sido este, o próximo lançamento confirmará que a Coreia do Norte possui um ICBM", observa o autor.

The intercontinental ballistic missile Hwasong-14 is seen during its test launch in this undated photo released by North Korea's Korean Central News Agency (KCNA) in Pyongyang, July, 4 2017. - Sputnik Brasil
Pyongyang: destruir a Coreia do Sul seria 'moleza'
Pyongyang ter conseguido finalizar o desenvolvimento bem-sucedido deste tipo de míssil representa um elemento importantíssimo, com repercussões na política internacional, sublinha Akopov.

O colunista lembra que, durante seu discurso de Ano Novo, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, prometeu desenvolver míssil balístico capaz de atingir o continente americano. Trump, por sua vez, garantiu que isso nunca iria acontecer.

"Mas já aconteceu e o próprio Trump foi empurrado para uma linha atrás de suas palavras ocas", observa Akopov.

Segundo o autor, nos anos 90, a Coreia do Norte sobreviveu a um contexto de queda do bloco socialista, más colheitas e à pressão da então única potência mundial: os EUA. Pyongyang continua de pé, depois de ter permanecido durante muitos anos sob sanções internacionais, enquanto que as negociações sobre o fim do programa nuclear e de mísseis norte-coreanos foram suspensas em meados da década passada.

"Até idiota entenderia que não faz sentido intimidar Pyongyang", afirma o colunista.

Trump - Sputnik Brasil
'Esse cara não tem nada melhor para fazer na vida?', diz Trump sobre Coreia do Norte
Como presidente, Trump deu prioridade ao problema da Coreia do Norte e o trata como tema-chave de sua reunião com o presidente da China, Xi Jinping, lembra o jornalista. O presidente americano pediu que a China exercesse pressão na Coreia do Norte, em troca de condições comerciais mais favoráveis.

O colunista ressalta que na verdade, o objetivo real de Trump era receber concessões por parte da China. Pequim, por sua vez, percebendo isso, passou a atuar em conjunto com a Rússia.

No Conselho de Segurança da ONU, o diplomata russo, Vladimir Safronkov, apresentou uma proposta sino-russa que prevê impor uma moratória para os ensaios de armas nucleares e mísseis balísticos norte-coreanos e recomendações aos EUA e à Coreia do Sul de se absterem de realizar exercícios militares conjuntos de grande escala na região.

"Está tudo muito claro: basta escalar a situação, é hora de se sentar à mesa de negociações. Moscou e Pequim se dirigem diretamente aos EUA, que devem renunciar a retórica agressiva e provocativa em relação à Coreia do Norte", escreve o colunista.

Militares norte-americanos junto a caças F-22A Raptor da Força Aérea dos EUA na base militar estadunidense de Kadena, na ilha de Okinawa, Japão - Sputnik Brasil
Escalada da tensão: EUA podem usar a força contra a Coreia do Norte
Além disso, Akopov aponta que, na Coreia do Sul, chegou ao poder um novo presidente, partidário do diálogo com a Coreia do Norte. Segundo o autor, o Japão também pretende melhorar as relações com a Rússia e a China.

"Chegou o momento de aliviar a tensão. De fato, a Coreia do Norte conseguiu o que queria: mostrou ao mundo que tem um míssil balístico. É hora de passar para as negociações", diz o colunista.

De acordo com Akopov, o resultado ideal destas negociações seria um acordo com garantias de não agressão, assinado pelos EUA e pela Coreia do Norte, que daria lugar à suspensão do programa nuclear e de mísseis e os exercícios militares dos EUA no sul da península da Coreia.

"O início das negociações seria um grande passo na direção correta", assegura o colunista.

Analista opina que se os EUA continuarem enviando porta-aviões e realizando manobras, as posições do país norte-americano se enfraquecerão diante das próximas negociações, além de prejudicar a sua reputação.

"Todo o mundo entende que os EUA não vão desencadear uma nova guerra da Coreia, colocando em risco a vida de milhões de coreanos e de dezenas de milhares de seus soldados na Coreia do Sul", salienta.

Militares sul-coreanos e norte-americanos durante exercícios militares conjuntos da Coreia do Sul e EUA, cidade portuária de Pohang, Coreia do Sul, 7 de março de 2016 - Sputnik Brasil
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Neste contexto, a única opção adequada para Trump, segundo o autor, é aceitar a iniciativa sino-russa e retomar as negociações, o que permitiria salvar a reputação do presidente dos EUA e passar a abordar questões realmente importantes, com Putin e Xi Jinping, problemas da agenda internacional e de segurança global.

"A Coreia do Norte se tornou uma potência nuclear e balística. Este fato deve ser reconhecido por todos os que realmente queiram resolver o chamado problema da Coreia e, em primeiro lugar, os norte-americanos, que, com seus esforços contribuíram para criá-lo", conclui Pyotr Akopov.

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