'Watergate' de Trump? Como a Rússia ficou no epicentro das brigas internas americanas

© REUTERS / Yuri GripasDonald Trump, presidente dos EUA, depois do discurso em Lynchburg, Virginia
Donald Trump, presidente dos EUA, depois do discurso em Lynchburg, Virginia - Sputnik Brasil
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O tema das alegadas ligações Rússia-Trump tem estado no foco da atenção da maioria das mídias americanas nos últimos meses, sendo que nenhumas evidências mínimas sólidas de tais laços foram alguma vez apresentadas. A Sputnik explica o que pode estar por trás deste escândalo e conta como a Rússia ficou refém das disputas internas de Washington.

O ano de 2016 se tornou fulcral para a nação americana, desmascarando a profunda crise do sistema político do país — eis uma opinião partilhada por muitos analistas. A vitória de Trump abalou não só os EUA, mas todo o mundo, demostrando que a elite política nem sempre sai vencedora da disputa. Mas, pelos vistos, os derrotados não conseguiram aceitar a derrota.

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As "especulações" sobre a alegada ligação de Trump com a Rússia começam surgindo ainda ao longo da corrida presidencial. O ímpeto para o escândalo estava sendo dado ativamente pela mídia nacional, com todo o leque de "histórias de horror": hackers russos, canais de comunicação secretos com o Kremlin, "o Omnipresente", as alegadas propinas e visitas clandestinas. Todo esse arsenal de ferramentas midiáticas deu frutos, especialmente no contexto de que o ex-candidato republicano falava bem (o que para a política americana já é algo de inédito) do presidente Putin.

No final, quando o candidato egocêntrico, politicamente pouco correto e muito diferente da maioria do establishment americano chegou ao poder, o escândalo começou se desenrolando a uma velocidade ainda maior, inclusive graças aos atos do próprio presidente.

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O próprio processo, que muitos analistas já batizaram como "Russiagate", começou logo após a tomada de posse do novo presidente. Em 13 de fevereiro, a imprensa internacional ficou abalada por uma notícia pouco esperada — a destituição do conselheiro para a Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn.

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O motivo para tal passo também foi intrinsicamente ligado à questão russa — se revelou que o conselheiro tinha travado negociações com o embaixador russo, Sergei Kislyak, sem comunicar os detalhes ao vice-presidente, Mike Pence. Alegadamente, os responsáveis oficiais teriam discutido o levantamento das sanções antirrussas, porém, tal informação nunca foi confirmada pelo próprio figurante do processo.

Contudo, o motivo para as discussões de que Trump alegadamente estaria tentando abafar a investigação contra si próprio surgiu um pouco depois. A coisa é que em maio o presidente americano, para surpresa de todos, despediu o chefe do FBI, James Comey, que naquele momento estava manejando dois processos grandes ao mesmo tempo: um contra a ex-presidenciável Hillary Clinton e outro, por mais estranho que pareça, contra o próprio presidente.

Pela versão oficial, Comey foi despedido por "incapacidade de gerenciar a entidade de forma adequada" e pelas várias falhas na investigação sobre a ex-rival democrata de Trump. Entretanto, para a maioria das mídias americanas, bem como para sua elite política, tal passo do presidente significou nada mais que a tentativa de impedir sua própria destituição.

'House of Cards' em tempo real

Evidentemente, a situação perturbante nos círculos políticos americanos tem a ver com uma crise estrutural de todo o sistema. Com os democratas derrotados, tanto nas últimas eleições ao Congresso, como nas presidenciais, e com o Partido Republicano representado por um presidente fora da conjuntura habitual, todos os conflitos internos vêm à tona mais ativamente que nunca.

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A saída inesperada de Comey, para muitos analistas, foi realmente justificada pela sua "incompetência" demonstrada em várias ocasiões, inclusive no âmbito do atentado na maratona de Boston em 2013, quando o FBI ignorou as advertências russas e, portanto, não conseguiu impedir o incidente, afirmam os especialistas. Além disso, muitos suspeitam que Comey, em termos pessoais, tenha algumas ambições políticas e continue tentando minar o renome do seu ex-chefe.

Afinal, será que a intervenção e a ligação russas realmente existem, ou a Rússia apenas se tornou uma ferramenta universal de "combate ideológico" dentro das elites americanas? Para muitos, parece ser assim. Isto pode ser argumentado pelo evidente exagero da lealdade de Trump para com Moscou. Sim, o presidente, realmente, por várias vezes (particularmente, durante a corrida, o que, como se sabe, não reflete a política real de um candidato) mostrou simpatia para com o líder russo, chamando-o de "político forte".

Entretanto, até o momento não houve nem o mínimo sinal de melhoramento (talvez haja até um agravamento) nas relações russo-americanas. Como ilustração: os líderes dos dois países nem sequer marcaram uma reunião nas margens da próxima cúpula do G20, sendo que o presidente americano já se encontrou com dezenas de políticos estrangeiros. Tudo isso mostra que Donald Trump, por mais que lhe atribuam um relacionamento especial com as elites russas, não é muito diferente da maioria do establishment político desse país.

Impeachment à vista?

Ultimamente, soam cada vez mais apelos ao impeachment do presidente republicano, uma situação na qual não se pode descartar o papel da mídia. Por exemplo, em uma das suas publicações recentes, a emissora CNN, repetidas vezes criticada por informações preconcebidas, comunicou que no âmbito do Senado americano, alegadamente, estaria sendo travada uma investigação sobre os laços entre a equipe de transição e as instituições russas.

Já depois a informação foi desmentida, levando a mídia a apagar a respectiva matéria e a se desculpar perante os figurantes do artigo. No entanto, se pode supor que esta seja apenas uma de muitas outras histórias deste tipo.

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Entretanto, para muitos analistas, tanto americanos como estrangeiros, tais apelos não passam de simples provocações. Nos EUA, o processo de impeachment só se pode iniciar se baseando em evidências bem sólidas, após a realização de numerosas etapas de investigação. Até agora, nem Comey, nem seu sucessor Robert Mueller, conseguiram encontrar algo de substancial em relação ao suposto "conluio" entre Moscou e a atual administração.

Além disso, é preciso lembrar que a Câmara dos Representantes continua sendo firmemente controlada pelo Partido Republicano (bem como o Senado). Por mais atípico republicano que Donald Trump seja, deve haver evidências muito mais que graves para que seu partido lhe volte as costas, já que a lealdade do partido nos EUA é algo que até hoje se considera "sagrado".

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