Quais podem ser as consequências do afastamento entre os EUA e Cuba?

© REUTERS / Enrique de la OsaGrafite de Fidel Castro em Cuba
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O presidente dos EUA, Donald Trump, criou um racha entre os EUA e Cuba, lançando por terra as tentativas de Obama em normalizar as relações bilaterais. O analista russo Andrei Sidorov falou com a Sputnik sobre o que tal movimento poderia acabar por conduzir.

Na sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que estava revendo partes do acordo de março de 2016 entre a administração do então presidente Barack Obama e o país dos irmãos Castro. Cuba advertiu quanto a possíveis retaliações, mas prometeu manter os canais de cooperação abertos.

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O chefe do Departamento de Organizações Internacionais e Processos Políticos Mundiais da Universidade Estadual de Moscou, Andrei Sidorov, disse em entrevista à Sputnik que Cuba já não representa muito em termos de importância estratégica para Trump.

"Cuba não representa um grande valor para o Trump no momento, porque ele tem uma abordagem um pouco diferente de sua visão sobre os EUA no Hemisfério Ocidental. Porém, ele está transferindo tudo para o território dos EUA em termos de produção, fábricas que ficavam no exterior. Nesse sentido, é lógico que ele queira reconsiderar esse acordo", disse Sidorov.

De acordo com o analista, as relações diplomáticas entre os dois países permanecerão em vigor, mas é bem possível que sejam introduzidas algumas sanções econômicas contra Cuba.

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Falando sobre o governo de Obama, o analista disse que o ex-presidente dos EUA, sobretudo por motivos econômicos, trabalhava na melhora da cooperação com os países da América Latina. Os dois acordos comerciais abortados por Trump, a Parceria Transpacífico (TPP) e a Parceria Transatlântica (TTIP), teriam sido acompanhados por um terceiro texto de modo a fornecer aos EUA,  parceiros do sul. Mantendo esse plano em mente, Obama praticamente eliminou a questão de Cuba nas relações dos EUA com seus vizinhos do sul.

"Para Trump, como é sabido, nem parcerias, nem outras opções similares relacionadas à criação de zonas de livre comércio são de alguma importância. Além disso, ele quer reconsiderar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA)", disse Sidorov.

Ele ainda disse que recentemente Trump encontrou uma desculpa para "pausar" as relações bilaterais com Cuba.

"Cuba supostamente apoia e vende armas e tecnologia para a Coreia do Norte e, usando essa alegação, Trump está pensando em como reconsiderar as relações com Cuba e lançar um processo de negociação que determine as relações entre os dois países", disse Sidorov.

Olhando para as possíveis perspectivas desta situação, o analista observou que os cubanos já manifestaram sua prontidão para as negociações com os EUA, mas não farão grandes concessões.

"Portanto, isso pode continuar por muito tempo. Penso que, neste caso, Trump exigiria que Cuba se abstenha de apoiar esses regimes que os americanos não gostam", disse o analista.

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De acordo com o analista, Cuba, aos olhos de muitos estados latino-americanos, especialmente aqueles com governos de esquerda, tem significado simbólico como um país que poderia suportar os EUA mesmo após o colapso de sua aliada a URSS.

"[Cuba] conseguiu se encaixar em um novo sistema de interação internacional, para atrair negócios da Europa Ocidental e para reavivar o seu turismo. Basicamente, não pereceu mesmo quando estava isolada", disse Sidorov.

Em 2014, os Estados Unidos e Cuba anunciaram o início de um processo de normalização das relações bilaterais. Em julho de 2015, os países restauraram as relações diplomáticas.

Posteriormente, as partes assinaram vários acordos bilaterais, embora o embargo comercial contra Cuba, apresentado pelo Congresso dos EUA, nunca tenha sido formalmente abolido.

Em 2016, Obama tornou-se o primeiro presidente dos Estados Unidos a visitar a ilha em quase 90 anos. Ao deixar o país, Obama anunciou o encerramento da política de "pés molhados e pés secos", que concedia cidadania automática a qualquer imigrante cubano que conseguisse pisar em solo americano, ao passo que os capturados no mar eram deportados. Havana saudou a decisão.

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