Turquia pode ser o próximo alvo depois do Qatar na crise diplomática do Golfo

© REUTERS / Alkis KonstantinidisFoto do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, entre bandeiras do país, em Istambul, dois dias antes do referendo de 16 de abril de 2017
Foto do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, entre bandeiras do país, em Istambul, dois dias antes do referendo de 16 de abril de 2017 - Sputnik Brasil
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Na quarta-feira, 14 de junho, o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, chegou a Doha para se encontrar com seu homólogo do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman al Thani, e com o emir do Qatar, xeque Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani, no meio de uma crise diplomática no Oriente Médio.

A agência Sputnik Turquia entrevistou o analista político e autor turco Samer Saleha sobre a atitude de Ancara perante a crise diplomática em torno do Qatar e sobre o papel dos países estrangeiros nesse processo.

No dia 5 de junho, a Arábia Saudita, o Bahrein, os Emirados Árabes Unidos e o Egito romperam as relações diplomáticas com o Qatar e cancelaram os transportes terrestres, aéreos, marítimos com o país, acusando Doha de apoiar terroristas e de desestabilizar o Oriente Médio. Depois, vários outros países da região seguiram o exemplo deles e também romperam as relações com o Qatar.

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Apesar disso, Turquia e vários países do Oriente Médio recusaram apoiar esta démarche e estão mesmo tentando ajudar o Qatar a quebrar o isolamento.

De acordo com Saleha, anteriormente a Turquia já deu a entender que está ao lado do Qatar, e a recente visita de Cavusoglu a este país é mais uma prova deste fato.

No dia 6 de junho, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan declarou que a Turquia vai continuar desenvolvendo as relações com o Qatar e vai fazer esforços para resolver esta crise via diálogo.

"Acho que uma das razões para isso é a necessidade de defender os interesses políticos e econômicos comuns. Nos recentes anos, os laços entre Ancara e Doha se têm desenvolvido significativamente. Além disso, o Qatar ajudou muitas vezes a Turquia politicamente, incluindo depois da tentativa do golpe militar na Turquia. Em particular, o desenvolvimento das relações bilaterais chegou até ao estabelecimento de uma base militar turca no Qatar", salientou Saleha.

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No dia 9 de junho, Erdogan aprovou uma diretiva que permite o estacionamento de tropas turcas no Qatar. De acordo com o embaixador turco no Qatar, por volta de 3.000 militares das tropas terrestres, força aérea e marinha do país, além de instrutores e forças especiais, serão estacionados na base do Qatar.

Samer Saleha sublinha que é muito importante que Ancara mantenha ao mesmo tempo laços com a Arábia Saudita e os EUA.  Mas, depois da demonstração de apoio ao Qatar nesta crise, as relações poderão se tornar mais vulneráveis.

"Ancara deve manter esses contatos com a Arábia Saudita de uma forma franca e justa. Eu acho que o ministro das Relações Exteriores [turco] deveria visitar Riad o mais rápido possível. Desde que a crise começou, os esforços de Ancara para estabelecer o diálogo entre os Estados do Golfo são insuficientes. Eles devem ser intensificados", disse o analista.

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Ele ressaltou que, na situação atual, a crise do Qatar não pode ser resolvida sem a participação de poderes regionais como a Turquia e o Irã. De acordo com Saleha, a Turquia foi um dos países que contribuiu para evitar a crise.

"É preciso impedir a crise de se transformar em um confronto militar aberto. A Turquia decidiu enviar ajuda humanitária para o Qatar. Ankara também decidiu implantar um contingente militar no país. Essas decisões foram muito importantes. Mas houve outros países que ajudaram, incluindo o Irã, a França e a Alemanha", disse Saleha.

O analista também compartilhou sua opinião sobre as possíveis consequências da crise para Ancara.

"Nesta situação, a Turquia acredita que pode se tornar o próximo alvo [depois do Qatar]. As autoridades e especialistas turcos acreditam que um ataque contra a Turquia pode ser realizado no futuro. Ele será realizado pelos Estados do Golfo juntamente com os Estados Unidos. Isso se tornou claro depois da visita de Donald Trump a Riad. É por isso que a Turquia reagiu rapidamente e dessa maneira. Isto pode ser parte de um plano americano na região", disse Saleha.

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"A Turquia e o Irã estão contra este plano. Eles consideram a crise do Qatar de um ângulo diferente. Por sua vez, Washington ignora suas propostas e quer impor sua própria visão da situação. Os EUA querem ganhar com esta crise beneficiando seus interesses nacionais", frisou.

Samer Saleha sublinhou que a crise do Qatar só pode ser resolvida através do diálogo entre os Estados do Golfo.

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